Pecuária

Bolívia: os bons vizinhos

Há cerca de sete anos, o mercado boliviano representava apenas um importante consumidor do material genético presente no Brasil. Hoje, as transações comerciais entre os dois países fortaleceu a pecuária boliviana e, além de bons negócios, tem gerado um clima de parceria e amizade aos criadores que se dispõem a participar desse circuito.

Uma das pioneiras e mais assíduas incentivadoras desse intercâmbio, a proprietária da Agropecuária Mônica, Mônica Marcheti, diz que a Bolívia é um mercado forte, com grandes criadores auto – suficientes. ” O acesso à genética fez o pecuarista de lá atingir rapidamente bons resultados. A evolução da qualidade do gado foi impressionante.”

A presença de Mônica nesse cenário começou há seis anos, quando ficou sabendo da exposição internacional de Santa Cruz de La Sierra, a ExpoCruz, e decidiu apresentar seu primeiro lote aos criadores vizinhos. Dessa forma, abriu as portas para a venda de animais de elite, pois a localização de suas fazendas no Mato Grosso limitava as vendas de produtos mais avançados. A inviabilidade da transferência de embriões no Centro – Oeste brasileiro era um dos principais empecilhos na comercialização. Não muito distante dalí, a Bolívia necessitava de gado de qualidade e estavam buscando no BRasil. ” Pensamos: Por quê, então, não levamos até eles?” De lá para cá, os negócios se intensificaram e, na última edição do evento, ela recebeu o Mérito Pecuário da Assocebu, um prêmio concedido anualmente às personalidades que se destacam e contribuem para o desenvolvimento da criação da raça.

Boa parte desse reconhecimento foi fruto do trabalho da central embriões que Mônica possui, há dois anos e meio, em sociedade com dois empresários de Santa Cruz. Uma atividade que vem alterando a cultura boliviana na criação de bovinos. ” A transferência de embriões vem conquistando muitos adeptos.” Prova disso são os resultados dos leilões de embriões. Neste ano, em seu segundo pregão, realizado em setembro, a Central vendeu 23 embriões, alcançando uma média de US$ 3.200, ( no ano passada, a média ficou em US$2.200).

Crescer em conjunto

Iniciando seu plantel de Nelore em 1986, com a importação do Grupo VR e mercado globalizados.”

Com dez mil cabeças, sendo 3.500 matrizes registradas, Saavedra faz questão de ressaltar a qualidade dos animais de propriedade dos bolivianos. Da Nelori, o destaque fica pro conta do Reytels de Nelori, um touro de 1.216Kg, que está no Brasil em regime de coleta na fazenda de Carlos Novaes Guimarães, cujo sêmem vem sendo utilizado em Uberaba. ” Como se vê, estamos num caminho de ida e volta.” Também ressaltando que o atual momento é de uma troca constante entre os dois países, o pecuarista Ronald Añez Ribeiro, de Villa Nueva San Javier, comenta que a tecnologia tomou uma via de mão dupla. Como exemplo, cita a vitória do touro Huracan Salsalito, da Fazenda Salsalito, que pertence ao pecuarista Osvaldo Monastério. Huracan Salsalito, na Expozebu do ano passado, foi o Grande Campeão da variedade Mocha. ” Este ano perdemos, não pelas características de nossos animais, mas porque faltou um pouquinho de sorte com o juiz”, brinca. Com um rebanho de 3.000 cabeças de corte, Ribeiro diz que trocou sua criação de Pardo – Suiço como forma de atualizar – se no mercado mundial, em que o negócio de carne está melhor que o de leite. Prefere não divulgar a melhor performance de sua propriedade, mas avisa: ” Aguardem que estamos nos preparando para apresentar excelentes animais ao mercado”.

Outro criador boliviano que tem ligações diretas com o Brasil é dono do Rancho de la Caldera, em Santa Cruz, Jorge Nunez del Prado, que, há seis anos, começou seu plantel com a compra de um lote de 500 vacas de Lee Teixeira, de campo Grande, MS. Quando ao intercâmbio entre os dois países, ele diz que , até pouco tempo atrás, a Bolívia não havia desenvolvido a cultura do Nelore, concentrado sua pecuária nos crioulos. ” No entanto, recuperamos tão rapidamente nosso atraso que, hoje, estamos em condições de igualdade com o Brasil no que se refere à genética.”

Negócio entre amigos

Como prova desa qualidade, cita o desempenho do touro Chaplin de la Caldera, quatro vezes Campeão Nacional da Raça – três delas na Expo Cruz (1996, 1997 e 1998 ). Filho do reprodutor Rapilho, o animal chegou aos 47 meses com peso de 1.130 Kg. Por meio de um trabalho de inseminação artificial, sua fazenda espera, para este ano, o nascimento de 150 descendentes do Chaplin. Também contente com os resultados que o intercâmbio Brasil/Bolívia proporcionou à sua fazenda, Ciro Anez Ruiz, da Cabana Las Madres, comenta que o Nelore impulsionou os negócios do seu frigorífico. ” O melhor boi para a produção da nossa carne.” E sua gratidão pelo Brasil não se situa somente na comercialização de animais. Seus três filhos, que hoje trabalham em suas empresas como zootecnista, veterinário e administrador, formaram – se em universidades brasileiras. Além disso, faz questão de frisar que um dos melhores resultados desse relacionamento está na amizade que se formou entre os produtores dos dois países. ” Nós copiamos muito do Brasil e a Bolívia, graças a esse relacionamento, adiantou rapidamente seu processo produtivo. Mas o que vale à pena é a reciprocidade desinteressada que se estabeleceu entre os criadores.” Essa também é a conclusão do dono da Fazenda Paulicéia, Antonio Luiz de Castro, de Rondonópolis, MT. Segundo ele, os bons contatos pessoais sobressaem nos negócios que vêm se estabelecendo pelos produtores desses países. Neste ano, no leilão do Rancho de la Caldera vendeu três animais, à vista, aos preços de US$12.000,00, US$8.000,00 e US$6.200,00. ” Isso dá 35% a mais que aqui.” Este foi o primeiro ano que Castro levou sua criação à Bolívia, mas já prepara o próximo lote para 1999. Na avaliação dele, o intercâmbio com os bolivianos, além de estimular a exportação brasileira, garantiu a manutenção no preço do gado. Dono do touro Panagpur A. L. Paulicéia, duas vezes Campeão em Uberaba, hoje com oito anos e 1.100 Kg, em regime de coleta, o pecuarista comenta que a Bolívia conta com um bom nível de qualidade na criação do Nelore.

“No entanto, o material genético no Brasil é bastante grande e ainda tem muita coisa nossa para ir para lá.”.

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