As fusões, associações, incorporações e aquisições de empresas que vêm acontecendo no setor primário, demonstram que a grande maioria dos que atuam no mercado estão seguindo a risca os atuais dogmas econômicos que preconizam a união de esforços como única saída para a sobrevivência, diante do atual quadro de competição acirrada. A principal idéia é aumentar a escala de produção para reduzir custos e conseguir competir na base do melhor preço ao consumidor, seja ele final ou intermediário. Ao sentir que individualmente não teriam condições de competir no mercado do Brasil central, os Potter e os Zart, de Dom Pedrito, município a 450Km de Porto Alegre, RS, na fronteira sudoeste com o Uruguai, que já atuavam em conjunto na seleção e comercialização dos reprodutores e ventres Polled Hereford para garantirem maior volume de vendas, menor custo e melhor preço, através do chamado Núcleo Delta G, procuraram parceiros que tivessem objetivos comuns e os mesmos níveis de produção. A idéia era a formação de um grande grupo no qual aumentassem o número de animais selecionados e as possibilidades de buscarem novos mercados para reprodutores, além das fronteiras do Rio Grande do Sul. Surge então em 1993, a Conexão Braford que reúne 12 empresas agropecuárias com forte atuação na seleção desta raça, formada pelo cruzamento do Polled Hereford com o Nelore , e que contavam com 12 mil ventres disponíveis, aptos a entrar em um único programa de seleção genética. Conforme expõe o coordenador técnico da Conexão, Nelson Schramm, no atual momento onde a economia de escala está prevalecendo como norma para todos, a produção da pecuária não pode deixar o bonde passar e ser diferente, acredita. E a Conexão Braford surgiu para viabilizar a produção através do aumento da oferta de rebanho pra a seleção. ” Mas também para´possibilitar a cada uma destas empresas a expansão de mercado, estratégia que não conseguiriam sozinho, devido ao grande volume de recursos que um trabalho deste exige”, afirma. Schrammexplica que a união de esforços trouxe o resultado esperado que, no primeiro momento, era a divulgação em larga escala, das qualidades da raça Braford. ” E isto nós conseguimos, afirma o coordenador, através de leilões, palestras, e participação em diversas exposições fora do estado, e hoje a raça já tem seu espaço dentro do mercado brasileiro”, garante. O grupo hoje considera que ainda não é o momento para uma grande fusão a fim de tornar -se uma só, empresa porque isto envolveria uma série de questões jurídicas e familiares. Mas sua evolução propiciou uma nova forma de atuação, denominada de Conexão Delta G. Valter Potter, um dos dirigentes da nova organização, afirma que toda parte da idéia de que trabalhando de forma integrada e associada o ganho é maior. E que também é a única forma de sobrevivência dentro do atual quadro econômico, onde as margens de lucros são bem estreitas. Por esta razão, ele não descarta que num futuro a atual estrutura possa se transformar em uma S.A. “É a evolução mais provável, mas isto não tem época prevista para acontecer”, afirma. Para ele, o que é mais importante hoje é que esta nova formação conta com 23 empresas agropecuárias de diversos estados, que disponibilizam 65 mil ventres livres, para participarem de um enorme trabalho de seleção genética de ponta, e vai colocar no mercado cerca de 3mil touros das raças Braford, Polled Hereford e Nelore. A estratégia do grupo prevê que a Conexão Delta G vai gerenciar o marketing, o trabalho de seleção genética e auxiliar nas aquisições de insumos que pela compra em escala, conseguem melhores preços. Potter afirma que a Conexão está buscando detectar novos mercados para a colocação dos seus produtos. “Temos hoje a estrutura de pensamento como uma empresa, mesmo que as decisões precisam ser tomadas em assembléia, e tudo é tratado desta maneira porque todos querem ter lucro, é claro”. Dentro das projeções da empresa está o objetivo de chegar no ano 2.000 trabalhando com cerca de 100 mil ventres e colocando no mercado 10 mil touros o que vai representar cerca de 10% do mercado nacional de reprodutores. ” E temos pretensões maiores ainda já que atuamos fortemente na produção de carne de qualidade vamos trabalhar para num prazo de cinco anos entramos no mercado com marca própria”, assinala o produtor.
Cooperativa e Parceiras – Seguindo o mesmo espírito de associativismo que está norteando o caminho de muitas empresas, em busca do domínio de um mercado, produtores rurais de Alegrete, cidade há 600 Km de Poto Alegre, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul, decidiram formar ima cooperativa com o objetivo de melhor gerenciamento nas áreas de produção, administrativa, financeira, contábil, indústria, comércio e marketing de todos os 30 associados. A cooperativa Cêrro de Tigre, pretende atuar de forma comum do sentido de reduzir custos a todos os associados. E trabalhar para a colocação de produtos com marca própria. Segundo Ivo Mello, presidente de cooperativa, a formalização da entidade foi ima consequência do trabalho que alguns destes produtores já executavam em conjunto, principalmente na produção do arroz integral, destinado a mercado de consumidores específicos e entregue em uma outra cooperativa de Porto Alegre, que comercializa este arroz. Mesmo localizados em uma região de grandes áreas, a cooperativa está reunindo diversos pequenos produtores que sem esta estrutura não sobreviveriam por muito tempo. “Ele não consegue, por exemplo,adquiri um trator ou outros equipamentos sozinhos, mas em conjunto tudo fica mais fácil”, assinala Ivo. Ele explica que a Cêrro do Tigrre vai atuar muito como uma cooperativa de consumo, sem toda a estrutura comum neste tipo de entidade. ” Não teremos técnicos contratados para assistência técnica, por exemplo, somente uma organização profissional que traga bons resultados aos associados”, enfatiza o presidente. Acrescenta ainda que uma das importantes funções será a compra de insumos em escala e a comercialização dos produtos dos associados. ” Se fazemos tudo isto em conjunto, temos mais força no mercado, e esta é a única forma de sobrevivência hoje, para produtores deste pote”, acredita. Seguindo o mesmo raciocínio mas um caminho diferente o advogado e agropecuarista Fabio Gomes, é um adepto da formação de parcerias como forma de atuar no mercado, porque segundo diz, ampliar a amostragem de produtos e reduz consideravelmente os custos, e exemplifica: “Se quero comprar um touro americano que custa US$ 50 mil, porque não comprar em conjunto e me programar com os parceiros para também utilizá 0 lo”, explica. Atualmente ele possui uma parceria com uma cabanha argentina Casa Mú, que objetiva a produção de reprodutores e ventres da raça Red Angus. Mas tudo tem que ser pensado em escala para melhorar a rentabilidade do negócio. Por isso formalizou com o mesmo criador a Casa Fago, no Brasil, com o objetivo de abrir o mercado de cruzamento industrial. Consciente dos passos que dá, Gomes tem ainda a formação de rebanhos associados a empresa principal que é a Cabanha Catanduva, localizada em Cachoeira do Sul, cidade que fica na região central do Rio Grande do Sul, a 200 Km de Porto Alegre. O produtor investe neta idéia para ter maior oferta de Red Angus e poder difundir as qualidades da raça. ” E se eu posso fazer em conjunto com outros criadores, possibilitando a todos venderem seus produtos com menor custo e maior ganho de mercado, porque não? pergunta.