Terminar os animais de forma mais rápida e econômica é o desejo de todo pecuarista que lida com gado de corte. O investimento em genética torna-se, para esse fim, um importante parceiro. Hoje, vários fatores são ponderados na hora de decidir com que tipo de animal vai se trabalhar, inclusive, a produção leiteira das fêmeas. É isso mesmo! Quanto mais leite tiver a mãe, melhor ela vai criar o bezerro e, conseqüentemente, ele vai desmamar com mais peso e saúde. Esse cuidado é cada vez maior entre aqueles que buscam tirar o máximo de proveito da precocidade das raças disponíveis no mercado brasileiro, abrindo um grande espaço para aquelas que, além de boa capacidade de produzir carne, também tenham fartura no leite, ou vice-versa.
Por isso, muitos criadores de raças taurinas com boa performance nos dois segmentos vem direcionando seu trabalho de seleção para linhagens onde a dupla aptidão fica ainda mais evidente, com a linhagem alemã no Simental ou a suíça original no Pardo- Suíço (Braunvieh Original).
“A dupla aptidão está na pauta do dia. É uma forma excelente de encurtar o caminho entre o nascimento e o abate, além de uma série de outras vantagens, como o aproveitamento comercial do leite que sobra ou então uma garantia de melhor colocação no mercado para as fêmeas cruzadas, que se mostram excepcionais para utilização como matrizes como base para cruzamento industrial ou como receptoras de embriões”, afirma o médico veterinário Roberto Vicente Lopes, que, recentemente, organizou um grupo de criadores de Pardo Suíço para concretizar uma grande importação de animais de origem fechada suíça.”E outras importações, – garante Lopes -, já estão a caminho”. Com um mercado nacional que durante muito tempo ficou sedimentado quase que exclusivamente na aptidão leiteira, alguns criadores de Pardo-Suíço estão apostando em Braunvieh Original para dar mais carne ao seu rebanho, seguindo o exemplo de outros países, como o México, onde a aptidão de corte da raça está bem delineada.
Um dos participantes desta importação é a Agropecuária Santo Isidoro, de propriedade de Joseph Pfulg, que há 25 anos atua na atividade leiteira, com produção de 2.000 litros tipo A por dia, em Jundiaí, SP. Desde 96, ele está investindo no Braunvieh Original, como opção para cruzamento industrial em suas 5 mil vacas Nelore, na fazenda em Nobres, perto de Cuiabá, MT. “O resultado em ganho de peso, comparado a raças específicas de carne, é equivalente. A vantagem do Braunvieh Original é sua habilidade materna, que permite às vacas mestiças criarem seus bezerros com o próprio leite até os sete meses”, explica o criador. A Agropecuária Santo Isidoro mantém crias de um ano de idade com 350 Kg. “Nosso objetivo é criar tourinhos ½ sangue, que alcancem, aos dois anos de idade, o peso ideal para o abate”, afirma. A linhagem suíça do Pardo – Suíço, ou o Braunvieh Original, é a que caracteriza se melhor como dupla aptidão.
Já do lado do Simental, para ratificar a dupla aptidão, os criadores do Brasil estão tendo que trilhar o caminho inverso, voltando para o leite. Alguns criatórios, inclusive, já se destacam nas pistas com vacas excelentes em úbere e, até mesmo, com recordes de produção de leite. É o caso de Zella, vaca Simental de Gilberto Aguitoni. Ela é recordista nacional da raça em uma lactação de 365 dias, com uma produção de 6.865 litros, em 96. Além disso, ela é campeã melhor úbere invicta em todas as exposições em que participou”, ressalta seu proprietário. Em seu criatório, a Fazenda 8 Irmãos, localizada em Pilar do Sul, SP, a linhagem utilizada é alemã, a qual dupla aptidão fica bem evidenciada, “o que nos possibilita negociar com dois mercados: o do cruzamento industrial para a produção de carne e para o leite”, afirma. Isso, porque o criador comercializa seus tourinhos com criatórios de Nelore do Mato Grosso, Tocantins e Goiás e com criatórios de Girolando, em cidades do interior de São Paulo. “Conseguimos ampliar nosso mercado. Com o Nelore, o cruzamento amplia o leite, para a desmamar bezerros mais pesados. No Girolando, o tourinho Simental aumenta o peso dos machos sem perder o leite das fêmeas,” explica. “Estamos tendo uma boa procura de animais para esses cruzamentos”, conta.
Outro criador de Simental, André Miranda Carvalho de Freitas, diz que “aproveita ao máximo” a raça com a qual trabalha. Para ele, a procura da maximização das qualidades da raça deve ser constante em um criatório. “O mercado exige que tenhamos um diferencial, um trabalho de qualidade. Exige, também, uma produtividade competente, em que você não pode perder dinheiro, pelo contrário, tem de incrementar os rendimentos o máximo que puder”, afirma. Com esse pensamento, André mantém cerca de 120 animais POs na Fazenda Sarapu, Localizada em Sarapuí, SP, onde os bezerros mamam à vontade e com quatro meses já pesam 220 Kg. A busca do criatório em aprimorar a produtividade do plantel e a sua característica de dupla aptidão está sendo percebida no bolso do criador nas pistas de julgamento. Na fazenda, cerca de 30% dos seus custos são pagos com a comercialização do leite excedente, cerca de 200 litros diários. “Tenho vacas que têm em média de 30 litros de leite por dia”, orgulha-se do criador. “E ainda tem criador que me acha louco, por investir no leite”, ironiza. Além dos ganhos com leite, André comercializa seus tourinhos para criadores do Mato Grosso do Sul, onde são utilizadas no cruzamento industrial, e as fêmeas são vendidas em leilões. No último leilão Must do Simental, uma de suas fêmeas foi vendida a R$ 14 mil. “Além de desmamarem bezerros mais pesados, elas têm mercado garantido”, anima-se.
Mesmo apresentando resultados satisfatórios, alguns criadores e outros profissionais afirmam que a questão polêmica: “O criador deve considerar, em primeiro lugar, o seu mercado. Eu recomendo esse tipo de trabalho para pecuaristas que tenham em sua região, um mercado aberto para as fêmeas”, afirma o diretor da Alta Genetics/VR, Heverardo Rezende de Carvalho. O gerente geral de marketing da Lagoa da Serra, Fábio Dias lembra o que normalmente se dizia, “que essas raças eram próprias para uma estrutura fundiária menor, onde qualquer exploração servia”. “Mas, sem dúvidas, elas apresentam um diferencial importante a habilidade materna”, A Lagoa da Serra já começa a identificar aumento na procura por sêmen de Pardo-Suíço de corte.
Segundo Dias, “está havendo um apelo maior por sêmen desses animais e a empresa já estuda importar sêmen de Braunvieh Original ainda esse ano”.