Uma das prioridades do grupo será desmistificar a má imagem dos
morcegos. Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, eles não
são vampiros. No mundo existem mais de 1.400 espécies
de morcegos. No Brasil, são cerca de 170 espécies. Desse total,
apenas três espécies são hematófagas (alimentam-se
de sangue). A maioria das espécies de morcegos é insetívora,
alimenta-se de insetos, seguidas pelas espécies frugívoras, que
comem frutos.
Das três espécies hematófagas, acredita-se
que só uma tem preferência pelo sangue bovino, uma vez que os animais
selvagens que eles utilizavam estão desaparecendo e a oferta de gado aumentando.
As outras duas preferem sangue de outros mamíferos e aves. Nenhuma dessas
espécies alimenta-se de sanguehumano corriqueiramente. A raiva humana é,
na maioria das vezes, transmitida por cachorros e gatos.
Os morcegos
são considerados causadores de surtos de raiva bovina e freqüentemente
a primeira reação das pessoas é de exterminar os morcegos.
O ideal é sanar os motivos dos surtos, que podem estar relacionados a fatores
como desmatamento, falta de educação ambiental e de vacinação
no gado. Para a pesquisadora da Embrapa Cerrados, é necessário conhecer
os dados populacionais para relacioná-los com os surtos de raiva bovina
e, principalmente, realizarum trabalho multidisciplinar para o manejo das populações
transmissoras e a prevenção da raiva. Serviços
ambientais Os
morcegos prestam serviços como polinizadores de plantas, dispersores de
sementes e predadores de insetos considerados pragas agrícolas. No México,
por exemplo, os morcegos são polinizadores de cactos usados na confecção
da tequila. No Brasil, eles polinizam espécies como pequi, alguns maracujás
nativos, piquiá, sumaúma, munguba, jatobá, xiquexique, facheiro,
bromélias e muitas outras.
Outro grande benefício ambiental
dos morcegos é o fato deles serem dispersores de sementes, tornando-se
úteis para a recuperação de áreas degradadas. Estudos
desenvolvidos na Embrapa Cerrados mostram que pelo menos 268 espécies de
plantas cuja dispersão das sementes é feita por animais (zoocoria)
e que são encontradas em matas de galeria, 34 delas (13%) são dependentes
dos morcegos (quiropterocoria). É possível coletar sementes das
fezes desses animais, já com a dormência quebrada, e selecionar sementes
de espécies nativas, que apresentem também potencial para retorno
financeiro, e utilizá-las para a recuperação de áreas
degradadas e reflorestamento.
Outro importante serviço prestado
gratuitamente é que uma colônia de morcegos pode comer cerca de 6
mil toneladas de insetos em um ano. Calcula-se que cada morcego coma cerca de
300 insetos por hora, o que o torna um grande predador. Ao comerem os insetos
que prejudicam as culturas agrícolas, os morcegos ajudam a reduzir os custos
de produção.
No domínio do Cerrado, os morcegos
compõem mais da metade da fauna de mamíferos, ou seja, 1 em cada
2 das 200 espécies de mamíferos do Cerrado é um morcego.
Uma espécie polinizadora, endêmica ao bioma, a /Lonchophylla dekeyseri/,
é considerada ameaçada de extinção. Apesar do risco,
quase ninguém sabe sobre essa espécie por que é um morcego.
Não é nada comum citar o morcego entre os animais ameaçados
de extinção no Cerrado. Mas, a Embrapa Cerrados finalizou, no início
deste ano, projeto financiado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), envolvendo
cinco instituições de pesquisa e ensino, para elaboração
de Plano de Manejo Nacional para a espécie. Caberá ao MMA e IBAMA
implementarem o Plano de Manejo.
A pesquisadora da Embrapa Cerrados ressalta
que a conservação de espécies não é uma questão
só de ambientalistas. É também uma preocupação
de uma instituição de pesquisa agropecuária, pois não
se pode pensar apenas em resultados de produção, sem estudar as
interações com o meio ambiente. A própria política
agrícola brasileira (Lei 8.171 de 17/01/91) preconiza em pelo menos 15
de seus artigos, a proteção do meio ambiente e a conservação
dos ecursosnaturais e biodiversidade como requerimentos legais. |