ERVA MATE - LUCRO NA CHALEIRA!
rev 103 - setembro 2006

A árvore desta planta pode atingir mais de 15 metros de altura. O caule é cinza e as folhas são ovais. O fruto é pequenino e pode ser verde ou vermelho-arroxeado. A poda é o primeiro passo da colheita e deve ser realizada com atenção. “A primeira poda é feita quando a árvore tem dois anos de idade”, conta o técnico responsável pela Fazenda Floresta, Curitiba, PR, Joarez Borcath.

A erva mate é colhida de dois em dois anos quando o ramo atinge 1,5 m de comprimento. “Então ele é podado com uma tesoura ou serrote”, diz. Segundo ele, a foice e o facão não devem ser utilizados. “A poda tem que ser feita em bizel. É preciso jogar a parte mais alta da planta para o lado de fora. Deve-se abrir ela como se fosse um cálice.

Caso contrário, não haverá produção de folhas”, explica. A poda facilita a colheita das folhas jovens as quais são consideradas nobres na infusão do chá mate. Após a poda, os “quebradores de erva” pegam os ramos cortados, descartam a parte mais grossa e os colocam em sacos de náilon conhecidos como ponches. “E são levados para o barbaquá”, conclui.

Do campo para a indústria

A erva mate é despejada em uma máquina conhecida como sapecadeira. É no sapeco que as folhas e os ramos entrarão em uma fornalha e parte da umidade será retirada. “Tal processo evita o enegrecimento das folhas que comprometem o seu valor comercial”, revela Borcath. De acordo com ele, depois da secagem, as folhas são submetidas ao cancheador. “É a fase da trituração da erva mate”, afirma.

Após ser cancheada, a erva encara a máquina de moagem. “As folhas são pulverizadas e moídas”, reforça. A peneira é o próximo passo a ser dado. “É aí que separamos o palito das folhas”, conclui. Segundo Borcath, a erva moída entra em um processo de silagem e, só então, há o ensaque.

A matéria prima embalada é levada a uma outra fábrica onde acontecerá a fase do engenho. “Ao receber a erva cancheada, a estocamos nos depósitos da empresa. Lá ficarão em repouso durante algum tempo”, continua o supervisor de produção da Leão Jr., empresa líder no mercado nacional de chás, Edson Luis Langner. De acordo com ele, todos os sacos são pesados e, a partir daí, entram definitivamente no sistema de engenho. “Primeiro há a separação das folhas e dos talos. Depois vão para os moinhos e, só aí, serão beneficiados”, conta. Os talos vão para o sistema de torração e as folhas, já moídas, serão divididas em finas e grossas. As folhas finas, assim como os talos, serão utilizadas na torração e no chimarrão. “Tudo isso é exportado para o Uruguai e Chile. Uma parte é destinada ao mercado brasileiro”, revela.

Enquanto as folhas finas são usadas na linha de extração da erva que resultarão em chás líquidos, as grossas serão transformadas em mate a granel (chá torrado). De acordo com Langner, no engenho se produz aproximadamente 5 produtos diferentes, ao passo que na torração pode-se contar com mais 3. “Na linha de chimarrão há cerca de 10 marcas e, na extração, mais 2 tipos de produtos são produzidos”, completa.

O início de tudo

A erva mate, originária da região subtropical da América do Sul, pode ser encontrada no sul do Brasil, norte da Argentina, Paraguai e Uruguai. As técnicas de plantio, apesar de não serem complexas, requerem atenção. Para que o cultivo desta planta seja realizado com sucesso é preciso saber que os melhores dias para o plantio são os chuvosos ou encobertos. O mês de Agosto é o mais propício já que é nesta época que a planta encontra-se em repouso vegetativo. Além do clima é preciso ficar atento a elementos como: produção de mudas e solo.

“A princípio escolhe-se a semente. È bom utilizar sempre as matrizes, escolher os pés que tenham mais folhas”, alerta Joarez Borcath. De acordo com ele, o fruto é colhido bem maduro e “então é feita a esmagação nele”, diz. A semente é colocada na areia por aproximadamente 6 meses e depois jogada na terra. “Deve ser semeada como se fosse um pé de alface”, compara. Em torno de 70 dias começa a germinação. “E em 150 dias já se tem mudas de 5 cm as quais são levadas para o repique conhecido também como jacazinho”, conta. As mudas ficam nos repiques até completarem 1 ano de idade e atingirem um padrão de 15 a 20 cm. “Aí já estão prontas para serem cultivadas no campo”, pontua.

Contudo, antes de irem para o campo, a proteção das mudas nos viveiros é essencial. “A sementeira é protegida 560. Quando as mudas vão para o jacazinho devem ser cobertas com sombrites”, conta o técnico da fazenda. Os sombrites vedam 70% das mudas que são regadas a cada 3 ou 4 dias até atingirem o primeiro ano de vida. Aí a gente dá uma judiazinha na erva para climatar. Deste modo, ela não vai tão sensível para o campo”, diz.

O solo é outro fator de extrema importância para o bom desenvolvimento da erva. Deve ser preparado como se fosse qualquer outra cultura: feijão, milho ou soja. De acordo com Borcath, as mudas devem ser plantadas com um espaçamento de 3X2 caso a manutenção a ser realizada for mecânica. Se for manual, 2X2 é o espaçamento adequado.

Os sistemas de plantio podem ser divididos basicamente em 3 tipos: adensamento, em linhas retas ou em níveis de curva. “O adensamento consiste em plantar as mudas debaixo da mata nativa. Deve-se intercalar as mudas com as já existentes na mata”, conta Borcath. De acordo com ele, o método em níveis de curva é ruim e não deve ser utilizado. “Em nosso caso, usamos o sistema céu aberto em linhas retas”, conta. Para ele, além de favorecer a manutenção, este sistema não apresenta riscos de erosão.

O cultivo da erva mate é uma tradição antiga. Os índios das nações Guarani e Quínchua tinham o hábito de beber infusões com as folhas do mate. Contudo, a erva não está só presente na vida dos índios. Muitas pessoas fazem dela um instrumento de sobrevivência. “Eu me criei trabalhando na colheita da erva. Trabalho desde os 7 anos. Comecei com os meus pais. Sou do tempo em que a colheita era feita em taquara”, lembra a quebradora de erva, Ironi Maria Matoso. “Quebrava a erva e fazia bolas de 100 a 150 kg que eram arrastadas por cavalos”, conta. Há 9 anos, Ironi trabalha em Fernandes Pinheiro, no Paraná. “Agora quebro erva no ponche”, comenta. Já Inivercinda Ribeiro Fernandes é mais novata na área. Trabalha somente há 4 anos. “Quebro erva e é disso que sobrevivo. É o sustento da minha vida”, diz.

Mercado se mostra promissor

Segundo pesquisas da ACNielsen, empresa líder global em informações sobre o consumidor e o mercado, o consumo de chás líquidos no Brasil está crescendo. “O mercado nacional registrou um aumento de 22,75% nas vendas destes produtos em relação a 2005”, consta. O volume de chás líquidos prontos para beber em todo o país cresceu de 7,69 mil litros nos meses de fevereiro e março de 2005 para 9,44 mil litros, no mesmo período, em 2006. A pesquisa aponta que o brasileiro consumiu mais de 5 mil quilos de chás secos no último ano. A erva mate liderou as vendas, com quase 70% deste volume total.

De acordo com o gerente da área industrial da Leão Jr., Fernando Rebelatto, apesar de apresentar um crescimento significativo, o consumo do brasileiro ainda é baixo se comparado a países como a Inglaterra. “Há uma diferença muito grande em relação ao consumo efetivo de chás. Nós, da Leão Jr., temos lutado para aumentar o consumo da erva mate no Brasil”, confessa. “Para isso estamos criando novos sabores como o de inverno e verão para alavancar o consumo per capita”, conclui.

Rebelatto ainda conta que o perfil dos consumidores se divide em 2 segmentos: “Na linha seca, temos as donas de casa. Normalmente elas optam pelo mate a granel. Já na linha líquida, o público é mais jovem”, detalha. Segundo ele, o mate pode ser comercializado em saches, a granel ou em produtos prontos para o consumo.

Produto tem grande aceitação

Por ser uma planta capaz de combater doenças, como anemia, diabetes e depressão, e possuir um grande valor nutricional, a erva mate era considerada desde a época dos indígenas como um néctar dos deuses.

O mate contém quase todos os nutrientes que o organismo humano precisa e é capaz de estimular a atividade física e mental. Estudos mostram que estão presentes na erva vitaminas como as do complexo B, C, D e E, e sais minerais, como cálcio, manganês e potássio. “Além disso, ela é rica em polifenóis que é um anti-oxidante”, acrescenta a nutricionista da RG Nutri, Heloísa Guarita.

De acordo com ela, a erva mate combate células cancerígenas e retarda o envelhecimento. “A principal característica é que ela tem o poder de eliminar a oxidação das células de colesterol ruim”, declara. Segundo Guarita, o mate evita o acúmulo de placas de ateroma que causam o entupimento das artérias.

O chá mate, além de auxiliar na digestão e na hidratação, é um estimulante. “Há nele uma quantidade de cafeína que funciona como um estimulante oferecendo mais ânimo e disposição”, conta a nutricionista. Entretanto, o consumo deste produto deve ser dosado caso o usuário sofra de insônia ou irritabilidade. “As pessoas agitadas, nervosas ou que têm insônia devem evitar o consumo do chá mate a noite ou durante o jantar”, alerta. Outra opção é colocar mais água do que mate “ou misturá-lo em outros tipos de chá para que na infusão haja uma quantidade menor de cafeína”, sugere. “O mate misturado ao chá vermelho ou a canela é uma boa alternativa”, complementa.

Por hidratar, o chá mate também auxilia na cura de mal estar como a ressaca. “O álcool desidrata e como o mate possui uma quantidade baixa de açúcar ajuda na hidratação do nosso corpo”, diz. De acordo com Guarita, há algumas pesquisas que visam estudar e comprovar cientificamente o poder do mate. “O combate do câncer e o efeito antioxidante da erva são as mais estudadas no momento”, conta. Segundo ela, tais estudos estão concentrados no Brasil e na América do Sul.


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