A
queda acentuada na produção da China e Argentina,
principais produtores mundiais de mel, que chegou a 50 mil
toneladas no ano de 2003, abriu um precedente enorme para
que a cadeia apícola brasileira retomasse sua produção,
interrompida após a cadeia viver uma série de
problemas estruturais. O mais famoso deles foi a chegada das
abelhas africanas, no início da década de 1960,
fato que levou a atividade quase a extinção.
Os preços que durante muito tempo ficaram achatados,
de uma hora para outra, subiram para patamares nunca vistos
pelos produtores, fato que atraiu muita gente nova para o
negócio.
A região Nordeste foi a que mais cresceu dentro da
atividade nos últimos anos, e hoje, já representa
26,54% da produção de mel do país, perdendo
apenas para o Rio Grande do Sul, que detém 51,15 %
das 80 mil toneladas produzidas. Historicamente, os estados
do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
formam a base da produção apícola no
Brasil. No entanto, um fato que vem chamando a atenção
dos especialistas do setor é o crescimento da atividade
para outras regiões de clima mais quente e menor umidade.
Segundo Constantino Zara Filho, presidente executivo da Associação
Paulista de Apicultores Criadores de Abelhas Melíferas
Européias, APACAME, na atualidade, o grande potencial
de produção de mel está localizado nos
estados da região Nordeste, devido a alta adaptabilidade
das abelhas africanizadas na região. "O Brasil
Central tem tudo para se tornar um importante pólo
de produção melífera se considerarmos
as condições que a produção se
desenvolve no país", observa Zara Filho.
A atividade apícola que congrega todos os outros derivados
da criação de abelhas, além do mel, pólem,
própolis, cera e geléia real, é formada
em 80% por pequenas propriedades rurais. A base do negócio
é a agricultura familiar onde os produtores têm
baixo poder aquisitivo e por isso a produtividade é
um fator chave para a sustentabilidade do negócio,
destaca Zara Filho. A mesma opinião tem o apicultor
Marcos Fernando Tavolari da cidade de Brotas no interior de
São Paulo, que mantém uma produção
de 25 toneladas de mel, por ano. No total o produtor tem cerca
de 400 colméias produzindo, que ele mantém fixas
em 20 propriedades na mesma região.
Na atividade desde 1985, o apicultor é um ferrenho
defensor da apicultura fixa. Para ele, a migração
acaba sendo muito cara e dispendiosa. O apicultor conta que,
até o ano passado, manteve a apicultura migratória.
Nos meses de set/out, época que normalmente começa
a safra de mel no interior paulista, ele manteve suas colméias
aproveitando a florada das laranjeiras, nos municípios
de Brotas, SP e Bebedouro, SP, ambos nas proximidades da fazenda
Primavera, principal negócio do produtor.
Só que o sossego dura pouco. Assim que termina a florada
dos laranjais a região sofre uma escassez de florada
que dura por alguns meses. Para manter as colméias
produzindo, o apicultor teve de viajar com as abelhas para
a cidade de Venceslau Brás, PR, para pegar a florada
do Capimchingui, uma vegetação que dá
um mel de excelente qualidade, segundo o produtor. Do Paraná,
as abelhas voltaram para Brotas, SP, para aproveitar a florada
do eucalipto e do Cipó Uva na região. Passados
dois, três meses da florada, as colméias viajaram,
novamente, para o estado de Goiás. Dessa vez para polinizar
as lavouras de Girassol e Nabo Forrageiro, espécies
que também produzem um mel bastante claro, variedade
de grande aceitação pelo mercado, segundo Tavolaro.
De acordo com o produtor, todo esse vai e vem, além
de causar um stress danado nas abelhas, demanda altos investimentos
por parte do apicultor que precisa pagar mão-de-obra
mais especializada, combustível, além de hospedagem
e alimentação, durante um bom tempo. Isso, na
pratica inviabiliza a atividade para o pequeno produtor que
geralmente é descapitalizado. Tavolaro, que pretende
iniciar um movimento de fomento à apicultura fixa,
no Sudeste do país, fala que, este ano, não
quer mais saber de viajar. Para isso, já mandou instalar
suas colméias em propriedades nas áreas próximas
da sua fazenda e disse que a sua produção não
vai cair por conta disso.
Estrutura
tem de ser funcional
Para
explorar comercialmente a criação de abelhas
é fundamental que o sitiante, chacareiro e/ou quem
queira montar uma estrutura dentro de propriedades maiores,
adquira uma estrutura mínima de produção.
Ela precisa estar formada por cerca de 20 ou 30 colméias,
todas saudáveis. Cada colméia, para ser considerada
produtiva deve possuir uma população de cerca
de 80 mil abelhas operárias, os zangões e, o
mais importante, ela precisa ter uma rainha de genética
superior, haja vista, que é a rainha que mantém
a população da colméia em ordem.
A produtividade média anual deve girar em torno de
80 quilos de mel, por colméia e uma coisa importante
é que o produtor jamais esqueça que o mel é
o alimento principal para as abelhas e por isso ele não
pode sacrifica-lo usando para melhorar seus índices
de produtividade. "Dessa forma ele não estará
melhorando sua produção e sim matando sua colméia",
afirma o presidente da APACAME, que também é
técnico e ministra cursos pela associação
para formação de novos apicultores.
A preservação das áreas de florestas,
cultivadas ou nativas, nas proximidades das propriedades,
é um ponto defendidos por todos dentro da cadeia apícola.
Hoje, a maior parte dos apicultores que tem o mel como principal
atividade para obtenção de renda, pratica a
apicultura migratória. Por isso é bastante comum
nas lavouras de frutas cítricas e/ou de eucaliptos
do interior de São Paulo, os apicultores alocarem um
espaço para colocação das suas colméias.
Eles deixam as abelhas na região por um período
que pode variar entre dois ou três meses e depois voltam
para retirar as abelhas. O aluguel é pago com parte
do mel retirado numa proporção que pode variar
entre 2 ou 3 quilos por colméia.
Entretanto, de acordo com o produtor de Brotas, SP, é
perfeitamente possível se manter numa propriedade uma
produção de 200 até 500 colméias,
sem que precise o apicultor migra de um lugar para outro.
"O produtor pode trabalhar com pequenos apiários
que podem girar em torno de 400 colméias e garantir
renda suficiente para se manter no campo", declara.
O governo de São Paulo com a criação
do Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista
libera uma verba de R$ 11.500,00 para pequenos apicultores
interessados em expandir seus projetos. De acordo com o apicultor
de Brotas o que falta naquela região é um trabalho
de extensão rural, mais efetivo junto aos apicultores,
no sentido de difundir mais essa ações. "Este
ano tem muita produtor que não vai pegar o empréstimo
do fundo de expansão, simplesmente, porque não
estão sabendo que o dinheiro existe", desabafa
Tavolari. A estrutura básica para quem quer iniciar
uma criação de abelhas seja para fins artesanais
ou de comércio, é bastante simples. O produtor
precisa adquirir uma caixa, própria para a acomodação
das abelhas, que pode ser tanto comprada em casas especializadas
como ser feita por um marceneiro.
Além disso, o produtor terá de comprar ou capturar
as abelhas. Como a segunda opção é um
pouco arriscada e por tanto menos indicada, os técnicos
recomendam que o interessado compre as colméias. O
custo médio por colméia gira em torno de R$
120, 00. Com as colméias em mãos, uma coisa
importante é que o apicultor tenha uma centrífuga
e uma mesa desopercoladora, usadas na manipulação
dos favos para retirada do mel. Para obter esses dois equipamentos,
o custo médio gira em torno de R$ 2.300,00.
O curso de formação profissional para aprender
a manejar corretamente as abelhas e tirar o melhor proveito
dos equipamentos é indicado que o apicultor iniciante
faça. O manejo é um ponto delicado segundo os
especialistas, mais não pelo estigma que se criou em
torno das abelhas de que elas são assassinas. É
lógico que as medidas de segurança como o Equipamento
de Proteção Individual, EPI, um bom fumegador
e algumas técnicas, não podem faltar na hora
de manejar o enxame, explica Zara Filho. " No geral,
a Apis Melífera, espécie que representa quase
a totalidade das abelhas brasileira são bastante dóceis
e não oferecem risco nenhum ao tratador e muito do
que se propagou como verdade é puro folclore",
conclui o criador.
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