É
comum analisarmos preços dos produtos agrícolas
no mercado e ver uma variação de alta ou baixa
nos preços. Na terceira quadrissemana de setembro,
por exemplo, os preços agrícolas estavam em
desvalorização. O índice de preços
recebidos pelos agricultores (IPR) apresentou queda de 1,80%,
contra a taxa de -3,59% apurada nas semanas anteriores. E
dentro do mês de setembro esta era a quinta semana consecutiva
em que os preços agrícolas apresentavam variação
negativa. De acordo com o Instituto de Economia Agrícola
(IEA), da Secretaria da Agricultura do Estado de São
Paulo, a manutenção da tendência de baixa
foi provocada por uma intensificação da valorização
do real e ao recuo dos preços de origem animal e vegetal.
Entre os grupos de produtos analisados, os de origem animal
apresentaram a maior retração na semana (-3,04%),
enquanto os itens de origem vegetal recuaram 1,11%, influenciados,
principalmente pelos grãos (-5,7%), já as frutas
e as olerícolas apresentaram valorização,
de 0,27% e 5,12%, respectivamente. Dos 19 produtos pesquisados,
dez registraram queda, enquanto seis apresentaram aumento
de preço. A cebola ficou com o maior destaque de alta
(20%). A queda mais expressiva foi apresentada pelo preço
dos ovos (-16,13%). Segundo o economista do CEAGESP (Companhia
de Entrepostos e Armazéns em Gerais de São Paulo),
maior Central atacadista de hortifrutícolas do país
e a 3ª do mundo em volume comercializado, Flávio
Godas, os preços hoje são estabelecidos pelas
regras naturais de mercado, da oferta e demanda.
"A oferta e a procura são as determinantes. Não
há subsídios. Os consumidores estão sujeitos
a 'colher bons frutos' no caso de produções
satisfatórias ou 'a pagar os prejuízos' no caso
de condições adversas (tanto climáticas,
como econômicas, cambial, etc). O consumidor tem em
mãos, no entanto, o livre arbítrio. A CEAGESP
recebe, anualmente, produtos de mais de 1370 municípios,
25 estados e 14 países diferentes, ou seja, é
praticamente impossivel que toda esta produção
que recebemos (10.000 toneladas/dia) seja atingida em proporções
idênticas. Desta forma, podemos afirmar que a pesquisa,
a substituição, a opção por produtos
em plena safra são algumas armas importantes dos consumidores".
Segundo o economista, como são, na maioria, produtos
perecíveis, não há como manter estoques
por longos períodos (ou até curtos, dependendo
do produto) e, portanto, é praticamente impossível
'segurar' produtos para um cenário mais favorável,
como acontece com as comodities (arroz, feijão, soja,
milho, etc)", explica o economista. Desta forma, os preços
são definidos pelas regras de mercado.
"A negociação é direta entre produtores
e atacadistas da CEAGESP. São mais de 3500 atacadistas
no entreposto da capital. A única interferência
da CEAGESP, neste aspecto, é prestar informações
aos diversos elos (Produtores, atacadistas, consumidores,
etc). "Acredito, particularmente, que a informação
ágil e eficiente proporciona uma negociação
mais justa, além de trazer equilíbrio na quantidade
ofertada e preços, ou seja, muitos ofertantes (produtores),
muitos compradores (atacadistas), todos bem informados tendem
a trazer mais equilíbrio e justiça às
negociações. Bom também para o consumidor",
completa.
As variações de preços estão diretamente
relacionadas a oferta e demanda. E segundo o economista, ocorrem
por diversos motivos, que são: investimentos tecnológicos,
aumento de produtividade, condições climáticas,
variação cambial, renda, entre outros aspectos.
"No que se refere as verduras, podemos afirmar que são
produtos muito sensíveis e, portanto, mais vulneráveis
às condições climáticas (chuvas,
geadas, calor). Como o frio foi menos rigoroso este ano no
Estado de São Paulo, a maioria dos produtos está
com qualidades e volumes bastante satisfatório e apresentam
preços abaixo dos patamares habituais. Importante ressaltar
que mais de 95% da produção de verduras ocorre
no Estado de São Paulo", argumenta o economista
Flávio Godas.
Sobe
e Desce
Desde
o início de 2004, houve uma elevação
média de aproximadamente 18% nos preços praticados.
Esta elevação de preços, de acordo com
o economista, incentivou à produção de
2005. "Novos produtores surgiram e os antigos arriscaram,
produzindo maior volume. O resultado foi uma enorme produção,
também favorecida pelas excelentes condições
climáticas e preços já apresentam em
2005 redução de cerca de 40%. Portanto, neste
momento o cenário é ruim para o produtor e bom
para o consumidor. No entanto, na minha opinião, é
prejudicial para ambos, pois descapitalizará e desestimulará
os produtores para as próximas safras e o resultado
deverá ser elevação dos preços
praticados".
Na opinião do economista, quando o produto apresenta
excelente qualidade é porque está em seu período
de safra. "Assim, podemos concluir que os preços
estão, geralmente favoráveis. No sentido inverso,
podemos afirmar que os produtos com qualidade ruim são,
normalmente, os mais caros. Exemplo: a alface nesta época
apresenta "pés" robustos, com muitas folhas
e preços extremamente reduzidos. No verão, época
de altas temperaturas e chuvas freqüentes, há
uma perda acentuada de qualidade. É exatamente nesta
época que os preços aumentam. Para complicar
ainda mais é também neste época que resolvemos
consumir mais. Portanto, consumir produtos em plena safra
é uma ótima escolha".
APOSTA
NO PROGRAMA DE QUALIDADE
A
CEAGESP lançou oficialmente em São Paulo, o
Programa "Garantia de Doçura", criado pelo
Centro de Qualidade em Horticultura para apoiar produtores
capazes de assegurar a qualidade e a doçura das frutas
que produzem. Forte na produção de uvas, o município
de Jales, SP, foi o primeiro aderir ao Programa, visando diferenciar
e agregar valor às uvas finas da região. "As
uvas, assim como outras frutas, no caso do melão, laranja
são frutos climatérios, que devem ser colhidos
no ponto certo, pois não ficam mais doces após
a colheita. O objetivo do programa é garantir uma fruta,
no caso da uva, uma uva doce no mercado, e promover o produtor
que está garantindo esta fruta doce. Estes são
os objetivos, alavancar o produto de melhor qualidade e ao
mesmo tempo promover o produtor e o produto que está
melhor", comenta a coordenadora do Centro de Qualidade
em Horticultura do CEAGESP, Anita de Souza Dias Guitierrez.
Planejado para ser um Programa de adesão voluntária,
o selo Garantia de Doçura é um resultado de
uma parceria entre a CEAGESP - empresa ligada ao Ministério
da Agricultura Pecuária e Abastecimento - e a Prefeitura
Municipal de Jales. Apesar de sua importância, segundo
agrônomos do Centro de Qualidade, a maioria dos produtores
colhe as frutas antes do ponto ideal de sabor, para aproveitar
os picos de preços. "Isto provoca uma concorrência
desleal entre o fruto imaturo e o doce", diz o agrônomo
Hélio Watanabe. Conforme explica, ao comprar frutas
ácidas, o consumidor passa a desconfiar do comerciante
e do produto, que acaba perdendo mercado. Há, no entanto,
uma forma de medir, por amostragem, a quantidade de sólidos
solúveis (grau Brix) contidos no produto e, assim,
atestar seu grau de doçura. "Além de mais
saborosos, produtos com Brix (medida da porcentagem de sólidos
solúveis numa determinada quantidade de suco da planta,
que é igual a soma de vitaminas, minerais, aminoácidos,
proteínas, hormônios e outros sólidos)
elevado se conservam melhor e são mais resistentes
à pragas e doenças, inclusive as de pós-colheita".
Watanabe conta ainda que o tamanho das uvas, embora muito
valorizado pelo produtor, não é o item priorizado
pelo consumidor, que quer uvas doces e saborosas. "Nosso
intuito é criar uma relação de confiança
com o consumidor, pois ele precisa ter certeza de que ao adquirir
a uva com o selo Ceagesp estará comprando um produto
bom e doce", revela Anita.
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