POR
FÁTIMA COSTA
A
tristeza parasitária bovina (TPB), tristeza bovina,
ou simplesmente tristeza, é uma doença infecciosa
e parasitária dos bovinos causada por uma bactéria
do gênero Anaplasma (Anaplasmose) e um protozoário
do gênero Babesia (Babesiose) e é transmitida
aos animais através do carrapato dos bovinos (de nome
científico Boophilus microplus).
A TPB é conhecida no Brasil, por vários nomes,
como pindura, mal da ponta, piroplasmose, mal triste, entre
outros nomes, sendo reconhecidamente uma das doenças
que mais mata bezerros nos primeiros meses de vida, principalmente
os de raças européias importados ou não,
e aqueles provenientes de cruzamentos industriais entre zebuínos
e taurinos.
A doença é conhecida desde o século passado
como causadora de sérios problemas na pecuária,
em vários países e estando distribuída
por todo o Brasil, sendo a sua maior ocorrência na região
Centro-Sul. Mas, existem locais em que os carrapatos não
encontram condições de desenvolvimento e sobrevivência.
Segundo o pesquisador da Embrapa Gado de Corte/ MT, Raul Henrique
Kessler, o índice de maior ocorrência pode ocorrer
em regiões de clima temperado com invernos longos,
com temperaturas abaixo de 15ºC ou quando se estabelecem
programas de controle intensivo do carrapato, em regiões
de estabilidade endêmica, isto é, em regiões
em que normalmente o carrapato esta presente durante todo
o ano.
"Em pecuária leiteira, a tristeza parasitária
bovina é um problema constante, em bezerras (terneiras)
devido ao manejo", explica ele. "Em rebanhos leiteiros
de alta produção (gado Holandês) as bezerras
são separadas das vacas logo após o nascimento
e alimentadas com mamadeira ou no balde. Acontece, muitas
vezes, que estes animais não recebem colostro, em quantidade
suficiente, nas primeiras oito horas de vida. Assim, não
recebem os anticorpos produzidos pela vaca e presentes no
colostro. Estes são anticorpos contra várias
doenças, inclusive a TPB. É aconselhável
quando as bezerras são separadas das vacas logo após
o nascimento, que as vacas sejam ordenhadas e o colostro seja
fornecido às bezerras várias vezes durante as
primeiras horas de vida", diz Kessler.
Na opinião da Dra. Márcia Cristina de Sena Oliveira,
pesquisadora Sanidade Animal da Embrapa Pecuária Sudeste
/SP, a maior causa de prejuízo é que muitos
pecuaristas mantêm os bezerros em sistema de "gaiolas",
e os animais acabam não tem o contato com o ambiente
natural. "É desejável um número
de carrapatos num sistema endêmico estável. E
é aconselhável que os bezerros desde o nascimento
entrem em contato com o ambiente naturalmente, conseqüentemente,
com o carrapato até para desenvolver a imunidade necessária.
O sistema imunológico estimulado pelas inoculações
dos agentes infecciosos adquire uma defesa natural da doença".
Com isto, completa a Dra Márcia, os bezerros se tornariam
até mais resistentes quando retornariam aos piquetes,
momentos que já estão na fase de produzir seus
próprios anticorpos.
O
Caso das Perdas
De
acordo com a Seguradora Brasileira Rural, a TPB é uma
das maiores ocorrências paga nas indenizações
por conta de doenças. Desde o início das operações
em 2003, a Seguradora já teve 14% do valor total indenizado
por morte, sendo que 14% foram do número total de animais
indenizados. O ano de 2004, a ocorrência apresentou
62% do total dos casos de morte por Tristeza Parasitária.
Neste ano, porém, houve uma queda de 84% no número
de sinistros por morte de bovinos com TPB, na carteira da
Seguradora Brasileira Rural.
"Temos como ação para a redução
destas ocorrências, um gerenciamento mais próximo
dos animais segurados quanto a procedimentos de premunição
e vacinação, além de estudos das regiões
(áreas livres, áreas endêmicas e de instabilidade
enzoótica) para buscarmos uma melhor subscrição
para a carteira", revela Fábio Luiz Perfeito Damasceno,
coordenador de subscrição
da Seguradora Brasileira Rural.
"O prejuízo causado pelo carrapato e doenças
por ele transmitidas (tristeza parasitária dos bovinos
- TPB) foi estimado por HORN et al., In Brasil, 1983, em aproximadamente
US$ 1 bilhão anuais, valor re-estimado por GRISI et
al. (2002) em US$ 2 bilhões. É difícil
quantificar separadamente o significado de cada um destes
problemas. O carrapato em si, sem considerar a TPB, se não
controlado, causa elevados prejuízos, inclusive por
mortalidade. Quando excessivamente controlado, leva à
instabilidade endêmica e elevados prejuízos por
TPB", explica Raul Kessler.
Já com as perdas econômicas diretas da doença
estão relacionadas com a morbidade e a mortalidade
de bovinos, além do registro de abortos, alterações
no ciclo estral, fertilidade de touros, e indiretas, como
o custo do tratamento.
Diagnósticos
e Tratamento
"No
entanto, o diagnóstico pelos sinais clínicos
é apenas de suposição, pois estes sinais
são comuns a outras doenças. Para confirmar
o diagnóstico clínico é importante se
fazer um diagnóstico laboratorial específico,
identificando os agentes em lâminas delgadas de sangue",
argumenta Dra. Márcia Oliveira, pesquisadora da Embrapa
Pecuária Sudeste.
Segundo dados da Embrapa Gado de Corte, entre os testes sorológicos
disponíveis, o mais difundido é o da imunofluorescência
indireta (IFI), que, apesar da alta precisão e sensibilidade,
requer equipamentos sofisticados para a sua execução.
E recentemente, foi desenvolvido pela EMBRAPA-CNPGC o teste
de conglutinação rápida (TCR), cujos
resultados são semelhantes aos da IFI. O TCR apresenta
vantagens pela simplicidade na execução e rapidez
na obtenção dos resultados, podendo ser utilizado
a campo ou em laboratório, com reduzidos recursos de
equipamento e mão-de-obra especializada.
"Temos que considerar que a TPB pode ser causada por
um dos três agentes comuns: dois protozoários,
denominados Babesia bigemina e Babesia bovis, e uma riquetsia
(bactéria) denominada Anaplasma marginale. Os sintomas
são quase iguais, resultando em febre, pelos arrepiados,
falta de apetite e anemia. No caso da doença ser causada
por Babesia spp, pode ocorrer hemoglobinúria (urina
cor de sangue), principalmente por B. bigemina. A B. bovis
causa doença aguda, muitas vezes com sintomatologia
nervosa e morte súbita. O diagnóstico laboratorial
é indispensável para confirmar o diagnóstico
clínico e identificar qual dos agentes esta sendo responsável,
no caso de se tratar, realmente, de TPB", explica Kessler.
A premunição, que consiste na inoculação
de sangue de bovinos recuperados da doença (doadores)
em bovinos que se deseja imunizar (receptores), é o
método mais comum em nosso meio. "Outra alternativa,
e a mais indicada, é a vacinação com
vacinas vivas e atenuadas, que tem apresentado bons resultados",
diz Márcia Oliveira.
Qualquer que seja o método escolhido para imunização
de bovinos, é importante que se faça o teste
sorológico para avaliar o grau de proteção
conferido. "A transfusão de sangue é indicada
no último caso, por exemplo de anemia profunda, mas
é importante o cuidado com choques anafiláticos
e incompatibilidade sanguínea. A orientação
do médico-veterinário é sempre importante",
finaliza a pesquisadora.
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