POR
MÁRCIO MINGARDO
Para
Edson Bordin, médico veterinário e patologista,
guardando-se as devidas proporções essa comparação
não é absurda. A diferença é que
a penicilina se situa no início da era de controle
das doenças bacterianas humanas, e a ivermectina se
situa como uma das últimas moléculas desenvolvidas
para o controle dos parasitos animais. Curiosamente, são
ambos produtos de fermentação. Bordin fala ainda
que, basicamente, o sucesso da ivermectina se deu a partir
do uso de produtos que caíram no gosto do pecuarista.
Segundo ele, essa molécula demonstrou absoluta eficácia
sobre parasitos, quer sejam externos ou internos, e tornou
as demais formulações existentes como convencionais.
Perguntado sobre, se o uso da ivermectina, em larga escala
e contínuo no rebanho bovino, não pode promover
uma resistência dos parasitas ao princípio ativo
do medicamento? O especialista diz que não, desde que
utilizado como parte de um programa de controle no qual a
exposição droga/parasito seja pequena e controlada.
Agora, ele explica, como a resistência é um fenômeno
biológico, considerado inevitável, quanto mais
se usa uma droga, maiores a sua exposição aos
agentes do meio, e nessas circunstâncias, maiores as
chances de eventual resistência.
Bordin conta que isso ocorreu durante certo tempo com o mercado
de ovinos. Entre bovinos é ainda bastante incipiente,
diz ele. "O controle parasitário exige um protocolo
técnico-científico, com o qual se prevê
essas possibilidades".
Uma analise sobre o percentual do rebanho bovino brasileiro
que usa a invermectina regularmente, mostra que o número
de animais ainda é pequeno, basicamente, animais novos
entre o desmame e os 24 meses de idade, no caso da pecuária
de corte.
A falsificação da ivermectina, nos últimos
anos, é um problema que precisou ser combatido pelas
autoridades brasileiras. Nos últimos dois ou três
a quantidade de produtos piratas surgidos foi imensa. De acordo
com o técnico, isso não chega ser um problema
como já o foi no passado. Segundo ele, há imensa
oferta de ivermectinas no mercado e com preços bastante
acessíveis. A indagação é quanto
à qualidade dessas matérias primas bem como
dos produtos finais.
O fato de o país ainda não ter uma legislação
específica aplicada ao setor de genéricos/similares,
como ocorre com genéricos humanos, influi potencialmente
nesse aspecto. Assim, o patologista prefere não emitir
uma opinião fechada se genéricos e similares
são bons produtos ou não, apenas considera o
fato de que, em termos realmente efetivo, não há
instrumento que ateste indubitavelmente o nível de
eficiência dessas moléculas. "Talvez seja
interessante que o produtor exija do fabricante um laudo técnico
que efetivamente situe o percentual da molécula na
formulação, a proporção entre
os análogos e o nível de impurezas, etc. Evidentemente,
espera-se que cada fabricante esteja preparado para atender
esse questionamento por parte do produtor". "Essa
comprovação de qualidade é fator que
deveria ser exigido com maior rigor a partir do próprio
registro de produtos no Ministério da Agricultura Pecuária
e Abastecimento, MAPA e posteriormente através da fiscalização",
conclui.
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