POR
FÁTIMA COSTA
Os
especialistas no assunto apontam: Uma das principais vantagens
da coturnicultura, ou criação de codornas, é
a facilidade do manejo. Além disso, a atividade pode
ser uma boa alternativa econômica, principalmente quanto
voltada para a produção de ovos, que sempre
apresentou uma boa aceitação no mercado.
A comercialização dos ovos ocorre até
hoje por algumas razões interessantes. Em primeiro
lugar, seu sabor semelhante ao da galinha; em segundo devido
à produção elevada ao mês de 23
a 25 ovos, (desde que as aves sejam bem alimentadas com ração
balanceada), e em terceiro; pelo grande número de pessoas
curiosas em consumir um produto que poucos tem a oportunidade
de apreciar.
Desde 1963, quando foi lançada uma marchinha carnavalesca,
com o nome "Ovo de Codorna", de Severino Ramos de
Oliveira, houve um grande impulso no consumo de ovos que continuou
após a regravação da canção,
pelo rei do Baião, Luiz Gonzaga, que exaltou e muito
as qualidades afrodisíacas do produto. Na verdade,
houve um grande impulso no consumo e anos mais tarde calcula-se
que a produção de ovo de codornas em 1992 tenha
sido algo próximo a 34 milhões de dúzias,
o que significa quase 3% da produção da avicultura
industrial no mesmo período.
As codornas conhecidas cientificamente como Coturnix coturnix
japonica, são pequenas aves originárias da Europa
e da Ásia. Os primeiros dados históricos sobre
a procedência da codorna datam do século XI,
porém, a criação das aves para a produção
de carne e ovos teve início em 1910 no Japão,
China e Coréia.
Após vários cruzamentos e muitos estudos realizados
por japoneses e chineses, conseguiram uma ave doméstica.
Desta seleção e cruzamento entre espécies
silvestres se originou linhagens altamente produtivas, com
uma agressividade reduzida e, praticamente, impossibilitadas
de voas, quando em liberdade - por possuir asas curtas - contribuíram
para a criação em cativeiro e estabeleceu-se
assim uma pequena criação.
As codornas são aves resistentes e se adaptam a diversas
condições ambientais, mas se desenvolvem bem
melhor em clima estável, com temperatura de 25 graus.
Elas não gostam de ventos de sol e quando vivem soltas,
tem o hábito de ficarem escondidas.
A criação pode ser iniciada com apenas 100 aves,
para o consumo familiar. "Com mil ou duas mil aves, a
lucratividade é pequena, mas é um bom número
para começar e é a quantidade recomendada para
uma pequena granja. Neste caso, é aconselhável
formar uma pequena clientela na região antes de comprar
as aves, para não haver encalhe dos ovos. É
possível também adquirir aves ainda pequenas
(a partir de um dia) fazer a recria até ficarem prontas
para a postura", comenta William Fujikura, proprietário
da Granja Fujikura, que está no mercado há 25
anos e mantém hoje 60 mil matrizes.
Ao longo dos anos, a granja vem investindo muito em tecnologia
e sanidade para melhorar a qualidade, aperfeiçoando-se,
principalmente no fornecimento de codorna de um dia. Hoje,
a Granja Fujikura é a primeira granja matrizeira e
incubatória registrada pelo Ministério da Agricultura.
"Atualmente, o mercado exige do criador um produto de
boa qualidade, por isto todo o nosso trabalho começa
com a genética das aves", diz William.
Lá, na Granja Fujikura só se cria codorna da
raça japonesa (uma das grandes vantagens da codorna
desta espécie aparece na hora de se fazer a sexagem,
que é feita pela cor). As mais claras são as
fêmeas. Mas essa não é uma característica
natural, foi um trabalho de seleção genética
feita pelo próprio pessoal da granja. "Esta técnica
foi desenvolvida pelos meus pais, que estudaram vários
anos nesse sentido para aprimorar e conseguir chegar aonde
chegou", aponta Fujikura. A ave é precoce, inicia
a postura por volta dos 40 dias de idade. Também é
bastante produtiva. Um lote de cem aves, por exemplo, rende
aproximadamente 95 ovos por dia. Comercialmente, as codornas
ficam em postura por um ano. Depois são descartadas.
Alternativas
de criação
"Qualquer
das atividades dentro da coturnicultura pode dar bons lucros
desde que, na criação, sejam adotados manejos
adequados e que as aves (pintinhos de um dia) sejam adquiridos
somente de criadores idôneos", dizem os especialistas.
Sem estes requisitos, todos os esforços no sentido
de obter uma boa produção poderão resultar
em desperdício de recursos financeiros. Hoje no mercado
é possível encontrar criadores com longa experiência
no ramo e especializados em cada uma das atividades.
A produção de ovos para posterior comercialização,
por exemplo, é a modalidade mais comum das granjas.
Para tanto, hoje em dia, é necessário mais profissionalização.
De acordo com William Fujikura, da Granja Fujikura, uma grande
alternativa do pequeno produtor ou dos iniciantes na criação,
é agregar valor ao produto. Os ovos podem ser oferecidos
descascados e prontos para consumo para bares, restaurantes
e diretamente de porta em porta. "Esta opção,
talvez seja interessante, pois a aceitação desses
produtos é grande pela praticidade", afirma.
"O mercado também está aberto para todos.
Porém, o sucesso da coturnicultura dependerá,
por exemplo, por quanto o criador poderá vender seu
produto. No passado, o que mais se encontrou foram pessoas
desesperadas para comercializar a produção e
não encontrando baixaram os preços. Outras preocupações
do mercado são: o preço e as crises pelas quais
passam as commodities. Anos atrás muitos criadores
tiveram problemas com o abastecimento, com isto alguns não
conseguiram se recuperar e terminaram 'quebrando' ",
conta William.
Recriar a codorna para vender a produtores é uma alternativa
que muitas vezes se torna mais rentável que a produção
de ovos. É uma atividade que exige muita responsabilidade
e experiência, pois a garantia de cliente fixo é
justamente o bom desempenho dos lotes recriados. "Adquirir
pintinhos de 01 dia de matrizeiros de confiança, nesse
caso, é fundamental", afirma.
As codornas de um dia podem ser adquiridas sexadas ou mistas.
No segundo caso, o custo de aquisição por ave
é menor, mas para quem não tem interesse em
criar os machos para abate, não é uma alternativa
vantajosa, pois terá que aguardar no mínimo
21 dias para descobrir os machos e eliminá-los ou criá-los
até 45 dias para a venda de abate. Portanto, e preferível
já adquirir somente as fêmeas.
Uma grande curiosidade da coturnicultura está na abrangência
de fatores que podem ser comercializados, um exemplo, é
a venda de esterco de aves. "Nós aproveitamos,
principalmente, o esterco. Primeiro: para proteger o meio
ambiente e, em segundo; para gerar recurso para a granja.
Em grande parte ele é destinado para os produtores
de hortaliças e verduras, pois é um dos melhores
adubos orgânicos e tem grande aceitação
no mercado", explica Sr. William Kenji Ito, proprietário
da granja Aves do Campo, considerada a segunda maior granja
de codorna do País e que atualmente possui 150 mil
aves.
Instalações:
Tratamento Especial
Além
de ter um galpão disponível, é preciso
adquirir equipamentos básicos, como: gaiolas, bebedouros,
comedouros, e uma chocadeira elétrica, pois as aves
não chocam. Preferencialmente, o local de implantação
deve ser pesquisado e atender aos seguintes requisitos: ser
suficientemente afastado de centros urbanos e outras explorações
avícolas, no entanto, com vias de acesso fácil,
condições climáticas, dotados de energia
elétrica e água de boa qualidade.
Cada gaiola (100 centímetro por 50 centímetros)
comporta cerca de 36 aves. As codornas destinadas à
reprodução devem ser mantidas em gaiolas coletivas,
neste caso o ideal é utilizar um macho para 2 a 3 fêmeas.
Pode-se utilizar o sistema de bateria, ou o piramidal (estrutura
no formato de pirâmide), que apresenta grande facilidade
de limpeza e de fornecimento de ração. Em um
galpão de 30 metros de comprimento e cinco metros de
largura, por exemplo, cabem até dez mil codornas.
Comercialização
Os
ovos são, sem dúvida, o objetivo mais visado
dentro de uma criação de codorna. Ele é
um produto muito apreciado e apresenta características
muito interessantes. Possui as vitaminas A, D, F as vitaminas
do Complexo B e a vitamina C, que não existe no ovo
de galinha. Além disso, são ricos em proteínas
e os níveis de colesterol são baixos.
Estima-se que o consumo de ovo de codorna per capita do brasileiro
seja de apenas 9,5 ovos. A produção de seis
milhões de aves a 75% de produtividade equivale a 1,62
bilhões de ovos/ ano. Supondo que nossa população
seja de 170 milhões de pessoas, temos, portanto, 9,5
ovos /habitantes.
Mesmo com esta porcentagem o ovo ainda é um produto
considerado supérfluo. Somente com o crescimento de
churrascarias e restaurantes, os ovos de codorna tornaram-se
bastante divulgados à população. Na região
Sul do País, por exemplo, é bastante comum encontrar
os ovos em forma de conserva.
"Em geral, o comércio do ovo de codorna, acontece
de duas formas: O produtor vende os ovos em forma 'in natura'
para o consumidor. E em segundo, vende os ovos para as indústrias
que beneficiam o ovo para vendê-los descascados",
diz William Fujikura.
Somente a exploração de codorna para corte no
Brasil ainda é pequena. Apesar da procura estar aumentando,
o preço ainda é alto. Para o pequeno produtor,
os custos de instalação são elevados
e é necessário seguir as normas exigidas pelo
Ministério da Saúde. Todo o processo de abate
precisa seguir um padrão, com câmara frigorífica,
por exemplo.
"No entanto, com toda e qualquer atividade não
basta somente atender às necessidades fisiológicas,
como as instalações e equipamentos, para as
aves. A dedicação e a seriedade com que o criador
encara o seu negócio influenciam no sucesso do empreendimento.
Logicamente, no trabalho diário poderão ocorrer
problemas que exigirão também criatividade,
persistência e, às vezes, até mesmo a
paciência por parte do criador", argumenta o pequeno
criador da região de São Roque, Sr. Manoel Cardoso,
que mantém hoje no plantel nove mil aves.
O
caminho da parceria
Os
pintinhos de um dia que chegam na Granja Recanto do Cacique,
do Sr. Manoel, por exemplo, são comprados de outra
granja. Quase todo mês, chega um novo lote de codorninhas
que são alojadas no pinteiro. Lá, elas recebem
cuidados essenciais. Na primeira semana de vida, as aves recebem
junto com a água, probióticos, que são
produtos biológicos para aumentar a resistência
e que também funcionam como promotores de crescimento.
Aos sete e aos 35 dias de idade elas recebem, também
na água, vacina contra doença de Newcastle.
Aos 21 dias, pesando entre 70 e 80 gramas, as codornas são
transferidas para a gaiola de recria. Então ficam ainda
mais três semanas até atingirem o peso e a idade
ideal, quando estão prontas pra começar a botar.
Os ovos recolhidos são levados para a Granja Aves do
Campo, do Sr. William Kenji. "A nossa parceria começa
com a comercialização dos ovos. Na granja do
Sr. William tenho uma estrutura sólida e através
dele, um grande produtor, consigo distribuir a mercadoria",
diz o pequeno criador. De acordo com o Sr. William, o grande
produtor entra para ajudar e alavancar a distribuição
e a comercialização dos ovos e o pequeno produtor
lucra na parceria por conta de ter uma menor infra-estrutura
e do custo ser relativamente muito baixo na hora da criação.
"O caminho da criação está em realizar
parcerias. Até porque uma codorninha, ou melhor, uma
andorinha só não faz verão", diz
Sr. Manoel.
Hoje a granja do Sr. William, localizada em São Roque,
realiza parcerias com pequenos produtores. Um deles, Sr. Manoel
que entrega os ovos para a Granja para fazer a comercialização.
Já outro produtor entra na parceria entregando as aves
para a postura. Neste caso todos os gastos de produção
entram na "ponta do lápis", e parte do lucro
da produção é dividido. Neste caminho
de parcerias, até a Granja Aves do Campo participa
ativamente. Os ovos coletados lá seguem para dois destinos.
Um lote é embalado com a marca própria da granja
e o outro recebe novo rótulo de marca.
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