POR
MÁRCIO MINGARDO
Recentemente
os cientistas descobriram um método que permite que
o produtor escolha o momento de inseminar as vacas, sem a
necessidade de esperar que a natureza determine. Trata-se
da inseminação artificial em tempo fixo (IATF).
Essa ferramenta tem movimentado o dia-a-dia das fazendas e
dos grupos de pesquisa em reprodução animal.
Pela técnica as vacas têm a ovulação
induzida, e a inseminação pode ser feita com
data marcada, tudo com a maior naturalidade, apenas com a
utilização de produtos específicos, conforme
explica Rodrigo Valarelli da Pfizer Saúde Animal. "A
forma de aplicá-los nos animais depende de fatores
como, a raça, a idade, a condição corporal
e o número de crias. Além disso, a condição
nutricional da vacada é fundamental para garantia dos
resultados".
Valarellli diz que a IATF é uma tendência mundial
e importante para o desenvolvimento da pecuária no
Brasil. A adesão de usuários em todas as regiões
do país é crescente e o número de cabeças
inseminadas, só em 2004, superou 1,5 milhão.
Com a técnica, a inseminação do animal
é feita antes da ovulação. Desse modo,
quando a vaca ovula, já está preparada para
ficar prenhe. Assim todas as vacas de um rebanho podem ser
sincronizadas para serem inseminadas num único dia.
O método ainda facilita o manejo nas fazendas, além
de melhorar a qualidade de vida do homem do campo. Ele passa
a programar a inseminação do animal. Em um dia,
é possível inseminar de 100 a 250 vacas, observa
Pietro Baruselli veterinário e professor da Universidade
de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade
de São Paulo (USP). Segundo Baruselli, o uso da IATF
é vantajoso porque permite inseminar maior número
de vacas em menos tempo, além de induzir ciclicidade.
´´O resultado final é maior produtividade
para a fazenda, ressalta ele. "É por meio da inseminação
artificial que as fazendas garantem a melhoria genética
de seus rebanhos". conclui.
O professor faz algumas considerações que acha
importantes para o emprego da sincronização
de cio. Para ele, a técnica facilita e viabiliza o
emprego da Inseminação Artificial, pois diminui
o impacto do anestro pós parto (intervalo para apresentação
do cio após a parição). Segundo ele,
o grande problema no Brasil relacionado a essa questão
é que 80% do rebanho de fêmeas é formado
por animais zebuínos. "As vacas paridas criadas
a pasto, restabelecem seu ovário de 6 a 8 messe após
o parto, observa. Com a sincronização de cio
o produtor traz esse intervalo para no máximo 80 dias
e deduzindo-se os 285 dias normais de gestação,
ele vai ter um bezerro por ano e 560 de aproveitamento na
sua propriedade".
Outra vantagem é a redução gradativa
da baixa taxa de fêmeas inseminadas na estação
de monta, problema sérios enfrentado pelos criadores.
Além disso, a técnica possibilita que o criador
trabalhe com progênie superior, de animais com DEPs
positivas para varias características fisiológicas
e físicas desejadas.
Vantagens
na ponta do lápis
As
vantagens econômicas da IATF para os criadores é
outra questão importante colocada pelo pesquisador.
O custo da utilização da técnica por
animal, incluindo o protocolo de sincronização,
a compra do sêmen e a mão-de-obra é de
R$ 45,00, contabilizando lotes de no mínimo 100 fêmeas.
O retorno desse investimento, de acordo com o professor da
Universidade de São Paulo, depende do uso correto da
técnica. Experimentos realizados pelo Departamento
de Reprodução Animal da USP, mostram que os
ganhos econômicos nos rebanhos que utilizaram a técnica
são muitos. A taxa de prenhes no final da estação
de monta cresceu 8%, o que significa para um lote de 100 vacas,
8 bezerros a mais.
O professor faz os cálculo, usando a média de
preço dos bezerros no mercado de R$ 275,00 e o resultado
é um total de R$ 2.200,00, a mais no bolso do criador,
já no primeiro ano. "Esse, é o principal
apelo para o criador sobretudo o pequeno e o médio",
declara. Além disso, a técnica possibilita o
produtor economizar com touros de repasse. Estudos realizados
em varias fazendas mostraram que, quando se usa a IATF, a
taxa de prenhez, já no meio da estação
de monta é de 50% a 75% das vacas, em média.
O restante, que normalmente segue para o repasse, já
está com o ovário funcionando, o que eleva essa
média para mais de 90%. "Com isso o produtor,
ao invés de comprar três tourinhos de campo pode
comprar somente dois, que vai dar conta de cobrir a vacada
e economiza cerca de R$ 2.200,00", enfatiza.
No entanto, nem todos os produtores já aderiram às
técnicas disponíveis. Em todo o mundo, só
1% das vacas são inseminadas. Já países
como Suécia e Dinamarca inseminam até 90% das
vacas. Na América do Sul, a porcentagem fica em torno
de 5%. No Brasil, estima-se que as técnicas de inseminação
artificial sejam aplicadas a apenas 5 milhões dos 83
milhões de vacas.
Tecnologia
é atestada na prática
Vários
estudos e experimentos práticos mostram que a aplicação
da IATF acelera o processo de melhoramento genético
dos rebanhos. Na Fazenda Campo Grande, em Santo Antônio
do Caiuá (PR), por exemplo, o uso da sincronização
de cio e da inseminação artificial vêm
garantindo ao produtor determinar quando e quantos animais
serão inseminados. O resultado é maior produtividade
e melhoria da qualidade genética do rebanho.
O veterinário Marcelo Boskovitz, responsável
pela fazenda, sincroniza o cio de um lote de 200 vacas paridas,
com 60 dias pós-parto e em bom estado corporal. Segundo
ele, ao aplicar a técnica, cerca de 130 vacas (65%)
entram no cio ao mesmo tempo. O grupo é então
inseminado num intervalo de apenas cinco dias. A taxa de prenhez
atinge 70%, o equivalente a cerca de 90 vacas gestantes nessa
primeira etapa da sincronização.
Boskovitz, conta o passo a passo de como é realizado
o trabalho na fazenda. No primeiro dia, as vacas recebem um
dispositivo intravaginal de progesterona natural, CIDR que
fica alocado durante uma semana. No oitavo dia os dispositivos
são retirados dos animais, sendo em seguida, aplicado
uma dose de Lutalyse (prostaglandina natural). Do nono ao
décimo terceiro dia, é o período onde
a vaca fica em observação de cio para proceder
à inseminação artificial. A partir daí
o produtor tem um período para realizar a primeira
inseminação. Esse período dura, normalmente
até trigésimo quarto dia, quando é feito
o levantamento do retorno da inseminação nesses
animais. A partir do trigésimo quinto dia as vacas
que não foram inseminadas são soltas com o touro.
Ao final de todo o processo, a Fazenda Campo Grande consegue
obter de 65% a 70% de vacas gestantes em relação
ao lote inicial de 200 animais sincronizados. Apenas as vacas
não inseminadas são soltas para a cobertura
com o touro. Isso significa menor número de vacas para
cruzar com o touro, diz Boskovitz. "O que por sua vez
significa que podemos ter touro de melhor qualidade porque
precisamos de menos touros para cobrir as vacas".
O uso da tecnologia de IATF em fazendas de leite, também
está garantindo aumento na produção diária.
A fazenda São João, localizada no município
de Inhaúma, MG, mnatém uma produção
média de 42 mil litros, sendo considerada o segundo
maior produtor de leite do país. O veterinário
Paulo Henrique Martins Garcia, responsável técnico
pela Fazenda, conta que o uso IATF aumentou a taxa de prenhez
da fazenda. Trata-se de uma técnica realizada com o
uso de produtos hormonais específicos, para induzir
a ovulação em várias fêmeas ao
mesmo tempo. Assim, a inseminação é feita
de uma só vez em todo o lote de animais sincronizados.
Quando a inseminação das fêmeas é
feita com base apenas na observação de cio,
só 50% a 60% dos animais são inseminados. Garcia
afirma que, no caso específico da Fazenda São
João, todas as primeiras inseminações
são feitas por IATF. Nessa realidade, a taxa de concepção
em IATF é dois pontos percentuais maior do que em inseminações
com observação de cio. O resultado final é
maior número de vacas prenhes, o que tem impacto positivo
sobre a produção de leite da propriedade.
A Fazenda São João aplica a técnica da
IATF desde maio de 2003 e já acumula cerca de 5 mil
inseminações por esse método. Na Fazenda
São João todos os animais aptos são sincronizados
com CIDR (dispositivo intravaginal composto por progesterona
natural) a partir de 40 dias de pós-parto. A observação
de cio também é feita diariamente. Metade das
inseminações são feitas em tempo fixo.
"O uso de IATF aumentou o número de partos no
verão e, com isso, tivemos maior produção
de leite nesse período e maior estabilidade de produção
durante o ano", explica Garcia.
|