Considerando
que a quantidade de nutrientes exportados da lavoura pela
fibra e semente é relativamente pequena, comparada
a outras culturas de importância econômica, o
algodoeiro não seria considerado uma planta esgotante
do solo. Contudo, nos casos em que é adotada a prática
de arrancar e queimar a soqueira, como medida de controle
de doenças e pragas, em cultivo convencional, ocorre
perda de parte dos nutrientes que poderiam retornar ao solo.
Este método de destruição dos restos
culturais associado ao revolvimento intensivo do solo durante
seu preparo faz com que as recomendações de
adubação sejam superiores ao que é retirado
pela fibra e semente para compensar as perdas e evitar o empobrecimento
gradual do solo.
Uma maneira de minimizar estas perdas seria através
da implantação de sistemas agrícolas
sustentáveis que sejam produtivos, conservem os recursos
naturais, protejam o ambiente e melhorem as condições
de saúde e segurança a longo prazo. Neste sentido,
as práticas culturais e de manejo, como a rotação
de culturas, a reciclagem de nutrientes e o preparo conservacionista
do solo são muito aceitáveis pois, além
de controlarem a erosão do solo e as perdas de nutrientes,
mantêm e/ou melhoram a produtividade do solo. Em muitos
solos, a matéria orgânica humificada do horizonte
superficial é o principal fator responsável
pela "capacidade de troca de cátions" (CTC),
verdadeira despensa de nutrientes, que podem ser liberados
progressivamente à disposição dos cultivos;
logo, pode-se deduzir que a matéria orgânica
tem papel fundamental na ciclagem e manutenção
dos nutrientes, evitando as perdas por lixiviação.
Os resíduos dos cultivos deixados na superfície
pelos sistemas de plantio direto e/ou semi direto oferecem
a melhor forma de se restaurar a produtividade dos solos agrícolas
degradados.
O
planejamento de um sistema sustentável, como o citado
anteriormente, requer uma série de etapas preliminares
como histórico da área, complexo florístico
de ervas daninhas, pesquisa de mercado, estudo do perfil do
solo e etc.
Análises
do Solo
Como
seguimento importante desta última, estão as
amostragens de solos para análises de fertilidade que
servirão como base para recomendação
de calagem e adubação. Por essa razão
as amostras coletadas devem ser representativas da área
a ser cultivada. Para isso, a área a ser amostrada
deve ser dividida em talhões de até 20 ha, homogêneos
quanto à topografia, cor e textura do solo, cobertura
vegetal anterior, histórico de uso e drenagem. Em cada
talhão, toda a área deve ser percorrida em zigue-zague,
retirando-se 15 a 20 subamostras simples, de mesmo volume.
As subamostras simples deverão ser misturadas em um
recipiente limpo para formar uma única amostra composta,
da qual são retirados cerca de 500 a 600 g de terra,
identificados e enviados ao laboratório.
Em áreas sob cultivo convencional as amostras de solo
devem ser coletadas nas camadas 0-20 e 20-40 cm. No sistema
de Plantio Direto nos três primeiros anos segue-se o
mesmo procedimento do convencional, sendo que a partir do
quarto ano é recomendável retirar amostras nas
camadas 0-10, 10-20 e 20-40 cm de profundidade.
Quanto à época de amostragem, é conveniente
retirar amostras com bastante antecedência do plantio,
uma vez que a recomendação de adubação
e calagem depende dos resultados da análise do solo.
No caso do manejo convencional, convém coletar as amostras
antes da aração para permitir a aplicação
de calcário antes dessa operação. O ideal
seria repetir a amostragem e análise de solo anualmente,
visando assegurar o acompanhamento das condições
de fertilidade do solo e recomendação de adubação
adequada. Que pode ser complementada pela análise foliar.
Análises
Foliares
A
análise foliar é uma ferramenta essencial para
a avaliação do estado nutricional do algodoeiro
que deve ser considerada como complementar à análise
do solo e nunca como substituta. Quando usada em conjunto
com os resultados de análise do solo e o histórico
de uso da área, permite acompanhar o equilíbrio
nutricional das culturas, tendo-se a recomendação
de adubação mais consistente.
A época correta de amostragem é no período
do florescimento, 80 a 90 dias após a emergência.
Deve-se coletar a 5ª folha totalmente formada a partir
do ápice da haste principal, num total de 30 folhas
por área homogênea. Recomenda-se evitar folhas
que apresentem danos causados por pragas e doenças
sintomas de doenças. Após a coleta, as folhas
devem ser colocadas em sacos de papel, identificadas e enviadas
ao laboratório, se possível no mesmo dia.
Calagem
Por
ser o algodoeiro pouco tolerante à acidez e à
presença de alumínio trocável e ser exigente
em cálcio, elemento importante na germinação
e desenvolvimento inicial das raízes, a correção
da acidez é essencial para a obtenção
de boa produtividade. A calagem é a aplicação
de corretivo da acidez (geralmente calcário) no solo
e tem o objetivo de corrigir a acidez, neutralizar o alumínio
trocável, elevar a saturação de bases
e fornecer cálcio e magnésio para as plantas.
Além desses efeitos diretos, com a calagem a cultura
é beneficiada indiretamente pelo aumento da capacidade
de troca de cátions (CTC) e da disponibilidade de N,
S, P, B e Mo, melhoria do desenvolvimento do sistema radicular,
que permite exploração de maior volume de solo
e conseqüentemente maior eficiência na absorção
de nutrientes do solo pela planta.
Recomendação
de calagem
São
vários os métodos usados para cálculos
da necessidade de calcário, sendo a mais usada para
a cultura do algodão aquele baseado na CTC e SATURAÇÃO
DE BASES, o qual aplica a seguinte fórmula:
NC (t/ha) = CTC (V2-V1)/100, sendo:
NC = necessidade de calcário em t/ha
CTC (mmolc/dm3) = capacidade de troca cátions do solo
a pH 7,0 (Ca2+ + Mg2+ + K+ + H+ +Al3+)
V2 = porcentagem de saturação por bases recomendada
para a cultura (60-70%)
V1 = porcentagem de saturação por bases atual
do solo, calculada pela fórmula: 100 x SB/CTC
SB = soma de bases trocáveis (Ca2++Mg2++ K+, em cmolc/dm3).
A quantidade de calcário recomendada é para
aplicação do produto em uma superfície
(S) de um hectare (10.000 m2), a uma profundidade de incorporação
(PI) de 20 cm e usando calcário com PRNT igual a 100
%. Caso haja diferença em qualquer desses critérios
é necessário fazer uma correção
na quantidade aplicada:
Quantidade de calcário (t/ha) = NC x S/10.000 x PI/20
x 100/PRNT,
onde PRNT = Poder Relativo de Neutralização
Total do calcário utilizado.
A calagem deve ser feita a pelo menos dois meses do plantio
e em área total com posterior incorporação
com aração e gradagem. Caso seja usado o plantio
direto, deve ser aplicado na superfície 1/2 da dosagem
recomendada até o limite de 2,5 t/ha em solos argilosos
e 2,0 t/ha em solos arenosos.
A correção da acidez e dos teores tóxicos
de Al na subsuperfície pode ser feita com gesso agrícola.
O seu uso é recomendado quando na camada subsuperficial
(20-40) a saturação por alumínio for
superior a 20% e/ou a saturação de cálcio
for menor que 60% da CTC efetiva. De modo geral, a quantidade
de gesso (QG) a ser aplicada no solo pode ser calculada pela
fórmula:
QG (kg/ha) = 50 x %argila
Ou ainda:
Solos arenosos (< 15% de argila)
Até 700 kg/ha
Solos de textura média (15 - 35% de argila)
Até 1.200 kg/ha
Solos argilosos (35 - 60% argila)
Até 2.200 kg/ha
Solos muito argilosos (> 60% argila)
Até 3.200 kg/ha
Para o algodoeiro, sugere-se a observação das
seguintes condições destacadas por Medeiros
et al. (2002):
I) Em solos argilosos, porém com baixos teores de potássio,
a gessagem pode ser efetuada desde que seja feita adubação
com potássio.
II) Em solos argilosos com teores médios ou altos de
potássio, o gesso pode ser usado sem restrições.
III) A quantidade de gesso a ser aplicada não deve
ultrapassar 1.500 kg/ha.
IV) O gesso pode ser usado como fonte de enxofre e nesse caso
a quantidade deve ser calculada para fornecer 20 a 30 kg/ha
desse nutriente.
Vale salientar que o solo corrigido pode voltar a ficar ácido
porque os fatores que causam a acidez continuam atuando ao
longo do tempo, por exemplo:
· perdas de bases (Ca, Mg e K) por lixiviação,
que é aumentada na presença dos ânions
sulfato, cloreto e nitrato fornecidos nas adubações,
com conseqüente redução do pH.
· utilização de adubos nitrogenados,
como sulfato de amônio e uréia, que acidificam
o solo.
· processo de nitrificação (transformação
de amônio em nitrato) que ocorre após a mineralização
do nitrogênio da matéria orgânica, cuja
reação provoca acidificação do
solo.
· extração de cátions (Ca, Mg,
K) pelas culturas.
· Por isso, é conveniente monitorar, anualmente,
a fertilidade do solo através de análises laboratorias
para que se identifique alterações na reação
do solo e a necessidade de sua correção.
Adubação
Para
se fazer uma adubação equilibrada, é
muito importante conhecer a quantidade total de nutrientes
extraídos, exportados (fibra e sementes) e quanto retornou
ao solo através dos restos culturais. Porém,
além das exigências nutricionais, vários
fatores determinam a resposta das culturas à adubação,
tais como: a dinâmica dos nutrientes no solo, o histórico
de uso da área (principalmente, cultura anterior, correções
e adubações aplicadas) e, a disponibilidade
de água, dentre outros. O fósforo, por exemplo,
embora seja o macronutriente menos absorvido pelo algodoeiro,
é usado em maior proporção nas formulações
de adubação devido à sua fixação
no solo, especialmente na regiões de cerrado. De qualquer
forma os teores de nutrientes no solo devem ser manejados
de modo a se construir sua fertilidade até os níveis
considerados altos ou adequados. Desse ponto em diante, a
adubação deve objetivar manter a fertilidade
e o nível da produtividade alcançada.
· O fósforo e o potássio são recomendados
em função da análise do solo, considerando
as tabelas de recomendação de adubação
de cada estado ou região.
· A recomendação de nitrogênio
é baseada na produtividade esperada e no potencial
de resposta da cultura associado ao histórico de uso
da área.
· Não se espera resposta à adubação
potássica quando o teor de potássio no solo
for superior a 2,5 mmolc/dm3 ou quando a relação
(Ca + Mg)/K < 20.
· O enxofre, assim como o nitrogênio, não
é recomendado pela análise do solo. Nos casos
em que se espera resposta a esse nutriente, a aplicação
de 25 a 30 kg/ha usando gesso tem sido suficientes para o
algodoeiro.
· É recomendável o uso de fontes solúveis
de fósforo e de formulações NPK que contenham
sulfatos, seja como sulfato de amônio e/ou superfosfato
simples, que além de N e P também fornecem enxofre.
A adubação de plantio deve ser feita no sulco
de semeadura, ao lado e abaixo da semente, com pequena proporção
de nitrogênio (10-15 kg/ha), fósforo em dose
total, metade ou um terço da dose recomendada de potássio
e micronutrientes.
A adubação de cobertura pode ser única
ou parcelada, se necessário. A primeira cobertura deve
ser feita entre 30 a 35 dias após a emergência,
com N, K, S e B (1/2 da dose), caso esses dois últimos
não tenham sido aplicados na semeadura. A segunda cobertura
com N e K (se necessário) deve ser feita cerca de 20-30
dias após a primeira. Este parcelamento aumenta a eficiência
da adubação pois assegura o fornecimento desses
nutrientes na fase de maior absorção pelas plantas
e evita perdas por lixiviação, sobretudo em
solos arenosos. Além disso, a aplicação
de quantidades elevadas de adubo potássico na semeadura
pode prejudicar a emergência das plantas devido ao aumento
da pressão osmótica no meio, uma vez que o cloreto
de potássio tem elevado índice salino.
Resultados de pesquisas recentes têm indicado que:
· A aplicação de nitrogênio em
cobertura em doses acima de 120 kg/ha não são
econômicas,
· As aplicações tardias de nitrogênio
(após 80 dias de emergência) promove o crescimento
vegetativo, prolongamento do ciclo da cultura, aumento da
queda de botões florais e aumento da intensidade de
ataques de pragas e doenças, sem que ocorra aumento
da produtividade.
· Respostas a doses elevadas de nitrogênio em
cobertura (acima de 140 kg/ha) estão associadas à
compactação do solo e/ou à presença
de nematóides.
Quanto aos micronutrientes, a adubação via solo
tem se mostrado mais eficiente do que a adubação
foliar. Em áreas com histórico favorável
para a deficiência desse micronutriente, recomenda-se
a aplicação de até 1,2 kg/ha na semeadura,
ou em cobertura junto com N e K. Como o limite entre a deficiência
e a toxicidade de boro é muito estreito, aplicações
acima de 2 kg/ha podem causar prejuízo na produção.
Em solos de cerrado, na fase de correção, recomenda-se
aplicar 3 kg/ha de Zn se o teor no solo for inferior a 0,6
mg/dm3, para prevenir deficiências.
Os resultados de pesquisa mostram que a adubação
foliar é menos eficiente do que a adubação
tradicional, via solo. Por isso, a pulverização
foliar é recomendada apenas para corrigir deficiências
detectadas durante o desenvolvimento da cultura. Entretanto,
quando essas deficiências ocorrem parte da produção
potencial da planta já está comprometida e a
correção apenas diminui a intensidade das perdas.
No caso de solos corrigidos e com uso de elevadas adubações
com NPK, visando altas produtividades, é conveniente
o uso de formulações NPK de plantio contendo
micronutrientes, para prevenir possíveis deficiências.
Nessas formulações é comum o uso de fritas
como fonte de todos os micronutrientes. As fritas são
relativamente baratas e de lenta solubilização
no solo, assegurando liberação gradual dos micronutrientes
sem causar toxicidade.
Sintomas
de deficiências
Nitrogênio
- Redução do crescimento vegetativo e amarelecimento
uniforme da planta. Os sintomas são mais acentuados
nas folhas mais velhas, nas quais surgem manchas avermelhadas
ou pardas que secam e provocam a queda prematura das folhas.
As plantas apresentam-se pouco desenvolvidas, com número
reduzido de ramos vegetativos e botões florais.
Fósforo - Ocorre atraso no desenvolvimento e as folhas
apresentam coloração verde escuro intensa e
manchas ferruginosas no limbo. Esses sintomas são difíceis
de serem detectados no campo.
Potássio - Amarelecimento das margens das folhas mais
velhas, que avança entre as nervuras. Com o agravamento
da deficiência, a superfície das folhas passam
para uma coloração bronzeada. A clorose se desloca
gradualmente para as folhas mais novas e as mais velhas morrem
e caem, provocando a maturação prematura dos
frutos e causando prejuízo na produtividade e na qualidade
do produto.
Cálcio - Sintomas de deficiência de cálcio
são difíceis de serem encontrados no campo.
Sob condições severas de deficiência o
sistema radicular é prejudicado, o crescimento é
paralisado e ocorre murchamento e queda das folhas. As folhas
que não caem tornam-se avermelhadas.
Magnésio - O sintoma bem característico é
a clorose internerval das folhas mais velhas, que evolui para
a coloração vermelho-púrpura, formando
um contraste nítido com o verde das nervuras. As folhas
deficientes e as maçãs se desprendem com facilidade.
Enxofre - Clorose do ponteiro, caracterizado pela coloração
verde-limão típica que atinge as folhas mais
velhas, causando sua queda prematura.
Boro - O algodoeiro é uma das plantas mais exigentes
em Boro. Os principais sintomas de deficiências são:
· folhas novas amareladas e enrugadas, contrastando
com o verde normal das folhas mais velhas.
· flores defeituosas e aumento da queda de botões
florais e dos frutos, os quais apresentam escurecimento interno
na sua base.
· aparecimento de anéis verde-escuros nos pecíolos.
· superbrotamento e morte dos ponteiros, quando a deficiência
é muito severa.
Zinco - Clorose internerval nas folhas novas, que se apresentam
com as bordas voltadas para cima e lóbulos alongados
no formato de "dedos".
Manganês - Clorose internerval das folhas novas dos
ponteiros, contrastando com o verde das nervuras.
Cobre - as folhas novas apresentam nervuras tortas e salientes.
São sintomas de difícil ocorrência no
campo.
Ferro - Sintomas semelhantes aos da deficiência do manganês.
Não se espera deficiência de ferro no Brasil,
a não ser em condições de elevada disponibilidade
de manganês, devido ao antagonismo entre eles, ou em
solos alcalinos.
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