POR
FÁTIMA COSTA
Imagine
o que é um raio queimar um investimento avaliado em
R$ 2,4 milhões. Foi o que aconteceu, no ano de 2004,
com a vaca Asteca (da raça Nelore PO - Pura Origem)
que pastava na Fazenda Fortaleza onde vivia na cidade de Valparaíso,
interior de São Paulo. Um poste de energia, da Companhia
Paulista de Força e Luz (CPFL), caiu em cima do animal
mais valioso da propriedade. A fatalidade ocorrida com a vaca,
premiada nas cinco das principais exposições
pecuárias do País (Uberaba, Londrina, Campo
Grande, Araçatuba e Ribeirão Preto), ainda foi
maior para a empresa de material genético Central VR,
tudo porque o animal que era tratado com todas as "mordomias",
não tinha seguro. E o investimento que o proprietário
vinha fazendo ao longo dos anos com a vaca, infelizmente,
se perdeu em questão de poucos minutos.
Pelos cálculos dos especialistas em seguro animal,
sem dúvida, a morte da Asteca rendeu um amargo prejuízo,
uma vez que cada óvulo da vaca, com a "grandiosa"
genética que possuía, era avaliado por volta
de R$ 100 mil e a vida fértil de Asteca ainda reservaria
à propriedade pelos menos 12 anos de rendimentos financeiros.
Por conta deste acontecimento, que chamou a atenção
do País, muitos pecuaristas reforçaram a segurança
de seus investimentos. E já estão se prevenindo.
Um bom exemplo é de José Nelson Fakri, proprietário
do Haras Rancho das Américas, interior de São
Paulo, que segurou seus cavalos de elite. "É muito
importante assegurar qualquer coisa valiosa que se tenha,
principalmente, em se tratando de animais, uma vez que há
um grande risco de se perder todo o investimento, que pode
lhe custar anos", afirma o proprietário do Haras
Rancho das Américas.
Já para o proprietário da Fazenda Morro Verde,
Marcos Stockler, o simples fato de fazer um seguro não
é apenas visar à tranqüilidade do investimento.
"Na verdade, um animal de elite é uma máquina
de produzir dinheiro. É difícil estimar o quanto
este animal irá produzir ao longo da vida e uma das
ações do seguro é prevenir contra qualquer
fatalidade, que possa vir acontecer. E se surgir algum problema,
hoje tenho um grande respaldo financeiro", argumenta.
Assegurado há quatro anos pela Brasileira Rural Seguradora,
o pecuarista Marcos Stockler teve ao longo deste tempo apenas
uma ocorrência, perdeu um dos seus animais por conta
de uma doença. Atualmente, ele garante o seguro de
pelos menos 20 animais de alta genética. De acordo
com o Stockler, o custo do seguro por mais alto que seja ainda
lhe garante grandes benefícios.
Custos
e Vantagens
Hoje,
o preço da "regalia" depende dos riscos a
que os animais estão expostos. Depois de uma minuciosa
análise feita pelas seguradoras é estipulado
o valor da apólice, que pode passar de R$ 100 mil por
ano. A empresa também pode oferecer desde uma cobertura
básica, em caso de morte do animal por doença
ou acidente, como um seguro de vida normal, até um
reembolso de cirurgias e indenização, se o animal
se tornar infértil.
Para a surpresa das próprias seguradoras, a maioria
dos pecuaristas não vem de produtores rurais, mas de
uma elite urbana que possui animais de raça em fazendas
e que faz seguro voltado para os animais de elite, ou seja,
aqueles que participam de torneios, provas esportivas, exposições
e que são reprodutores. Atualmente, há no mercado
também contratos para bois de engorda, de confinamentos
e até para empresas que trabalham com transporte animal.
Um grande exemplo é Agroexport LTDA, há mais
de 15 anos no mercado, a empresa prestadora de serviços
especializada na exportação e importação
de animais vivos, sêmen, embriões, e produtos
agrícolas em geral, entende a importância de
ter como parceria com uma seguradora. Por isso, optou por
trabalhar com a Seguradora Brasileira Rural.
Para
Silvio de C. Cunha Jr, diretor presidente da Agroexport, é
imprescindível ter o seguro em qualquer operação
que envolva o transporte do animal. "Como os percursos
são longos e o animal chega a um ambiente totalmente
desconhecido e novo, acaba ficando estressado e a seguradora
cobre a vida desses animais durante a quarentena, transporte
até o ponto de embarque, muitas vezes até o
destino final e adaptação de 15 dias no destino",
confirma Cunha. "Hoje, exportamos para o Peru, Equador,
Colômbia, Venezuela, Senegal, Burkina Faso, Costa do
Marfim, Angola, Moçambique, Tailândia e Malásia,
atendendo as solicitações de particulares, agências
de desenvolvimento e governos", diz.
Para a Seguradora Brasileira Rural este mercado de seguro
está crescendo e tem grande potencial por conta do
Brasil ser um grande possuidor de genética bovina e
querer assegurar os futuros investimentos. Além disso,
é um produto que vem sendo muito procurado por vários
continentes, como América Central, África e
Ásia.
Seguradoras
de Elites
A
tradição de contratação do seguro
rural é essencialmente européia. Países
como Inglaterra, França e Alemanha são os que
apresentam melhores índices no ramo. Fora do continente,
os destaques são para os Estados Unidos e Nova Zelândia.
No Brasil, ao contrário do seguro pecuário,
o seguro de animais ainda é pouco significativo. Em
2003 movimentou pouco mais de R$ 3,6 milhões, liderados
pelas seguradoras, Brasileira Rural e Porto Seguro.
Uma das primeiras seguradoras a fazer este tipo de seguro
foi a Cosesp (Companhia de Seguros do Estado de São
Paulo), em 1982. A empresa que oferecia aos segurados uma
contratação básica hoje passa por novas
reformulações na proposta de seguro. Antes de
a concorrência existir, a carteira de clientes da Cosesp
chegou a ter seis mil segurados.
Já a Seguradora Brasileira Rural que começou
em 2003, conta com uma carteira de mais de mil apólices,
das quais 90% ligados aos bovinos. Em 2004, a seguradora alcançou
um faturamento de R$ 11.296 mil, um crescimento na ordem de
21% com relação ao ano anterior, alavancando
o setor de seguro rural como um dos mais promissores do mercado
de risco. Isso permitiu que a Brasileira Rural obtivesse um
market share de 25% e 62% em seguro agrícola e animal,
respectivamente, além de ter ultrapassado a meta e
conquistado 3.122 apólices emitidas.
Segundo o gerente de produtos da Seguradora Brasileira Rural,
Joaquim Cesar Neto, o mercado de seguro de animais no Brasil
deve ainda avançar a margem de 30% a 40% em 2005. "É
o que acreditamos para este ano. Há uma grande estimativa
de crescimento, principalmente, por ser ainda um mercado inexplorado".
Na Seguradora Brasileira Rural, as taxas para calcular o valor
das apólices variam de 1,6% a 5% do valor do animal
e também mudam conforme a raça e a região
onde o animal está domiciliado. "Os bovinos possuem
taxas menores, pois não estão expostos às
mesmas atividades dos eqüinos", retrata Joaquim.
O seguro animal básico vendido pela companhia garante
indenização em caso de morte por doença,
acidentes, raio, insolação, parto ou aborto,
entre outras fatalidades. Segundo Joaquim Cesar Neto, a maior
ocorrência paga nas indenizações é
ainda por conta de doenças, como a tristeza parasitária
bovina, além de mortes por raio, fraturas e envenenamento.
Outra que despontou no ramo foi Porto Seguro, que começou
a atuar em 2000, com a primeira carteira assegurada no valor
de R$ 54.000,00, com um touro da raça de Red Angus.
Hoje, a companhia possui opcionais, como cobertura para infertilidade
e reembolso de cirurgias. Já a cobertura básica
garante a indenização em caso de morte decorrente
de moléstia, acidente, incêndio, raio, insolação,
eletrocussão, luta, parto ou aborto e até ataque
ou mordedura de animais.
Atualmente a empresa possui uma grande carteira de segurados,
sendo que 60% são proprietários de eqüinos.
"Esses animais são os mais caros. Além
do valor financeiro, às vezes, existe também
uma grande afeição do proprietário pelos
animais, principalmente, em se tratando de animais de salto",
diz Adilson Neri Pereira, diretor de Ramos Elementares da
Porto Seguro.
De acordo com o diretor, na realidade a iniciativa das seguradoras
abriu um leque para um mercado novo: o de seguro animal. É
como há seguro para automóveis, residências,
jóias porque não assegurar também valiosas
preciosidades, como os animais. "O simples fato de duas
empresas fortes atuarem neste segmento começou a atrair
a atenção de um número razoável
de clientes, interessados em contratar este tipo de apólices",
argumenta Adilson Neri.
Hoje, a Porto Seguro já promove ações
para divulgar o produto sendo através de participações
em eventos, como a feiras, leilões, exposições,
entre outros eventos. "Atualmente, a empresa oferece
também um serviço específico que é
denominado "na batida do martelo". Além disso,
existe a divulgação através do próprio
cliente, o chamado boca a boca", explica.
O efeito de ações como esta, já rendeu
a Porto Seguro, um crescimento no mercado de 13%, considerando
no período de janeiro a abril de 2005. E o seguro já
é comercializado nos Estados de Brasília, Goiás,
Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro
e São Paulo. "Nossa função é
contribuir para o planejamento das atividades do segurado
ao garantir que, em caso de morte de algum animal, o proprietário
não tenha que desembolsar uma quantia não prevista
em seu orçamento", diz.
A única hipótese ainda que nenhuma seguradora
trabalha é a cobertura para roubos e epidemias. "Ainda
não temos condições de efetuar esse tipo
de indenizações", diz o diretor Adilson
Neri. De acordo com ele, este tipo de ocorrência não
é coberto por ainda não ter uma estatística
que ofereça com precisão a freqüência
destes acontecimentos. E como com a natureza não se
brinca, principalmente, quando se está no campo sujeitos
a dias de sol e tempestades, o mercado de seguro animal com
certeza crescerá e será o remédio mais
eficaz, para não ver a vaca indo para o brejo.
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