POR
MÁRCIO MINGARDO
De
acordo com o engenheiro agrônomo e consultor agrícola
Luiz Albino Bonamigo, com a intensificação da
atividade agrícola no país verificou-se uma
diminuição gradativa da oferta de áreas
férteis para cultivo. Esse fato pressionou os custos
fixos de implantação das principais lavouras
comerciais, problema que afetou mais diretamente os pequenos
agricultores das regiões Sul e Sudeste do país,
obrigando muita gente a pegar suas famílias e migrarem
para outras regiões, onde a terra tinha valor mais
acessível.
Nesse contexto, explica Bonamigo, milhares de agricultores
principalmente do Sul do país, migraram para regiões
pouco conhecidas da pesquisa e que apresentava condições
de solo, arenosos, pouco indicados para a agricultura. Em
alguns casos chegou-se a encontrar áreas com níveis
de argila abaixo de 8% (índice mínimo estabelecido
pela Embrapa para que uma área possa ser considerada
agricultável) e esse foi o maior desafio que o SPD
enfrentou e ainda enfrenta que é a criação
e desenvolvimento de tecnologias que aumentassem as opções
de cobertura vegetal para o solo, possibilitando uma atividade
agrícola de menor risco e, portanto, mais estável,
enfatiza o consultor.
"A semeadura nessas áreas de cerrado tem se mostrado
um desafio e uma preocupação constante para
agrônomos e técnicos agrícolas. Alguns
fatores como a carência de macro e micro nutrientes,
a desagregação dos terrenos causada pelos baixos
níveis de argila na composição do solo
e ainda o problema do clima que tem duas estações
de chuva e seca, muito bem definidas. Essa tríade de
fatores ambientais, que se repetem ano após ano, tiram
o sono do agricultor".
Monocultura
do milheto é motivo de polêmica
Nos
últimos dez anos o milheto tem sido a cultura mais
utilizada pelos agricultores como cultura para formação
de palhada, figurando, portanto, como um cultivo de grande
importância para a estruturação e estabilidade
dos sistemas de plantio nas regiões tropicais brasileiras.
Atualmente estima-se que esta cultura ocupe uma área
entre 3 e 4 milhões de hectares, em todas as regiões
do país. Segundo Bonamigo, o uso em grande escala do
milheto como cobertura secundária tem sua justificativa
pela rapidez inicial de crescimento, menor necessidade de
água em relação às outras espécies,
o que proporciona sua semeadura em condições
climáticas menos favoráveis, inclusive, em períodos
de veranico. "Além da baixa exigência quanto
à fertilidade do solo fácil mecanização
desde a semeadura até a colheita, assim como o manejo
facilitado à cultura oferece farta produção
de massa verde, superior a todas as outras, mesmo em condições
de restrições hídricas severas".
Já na contra-mão dessas afirmações
vários especialistas vêem condenando a monocultura
do milheto alegando que tal pratica pode se prejudicial pela
baixa oferta de nutrientes que a cultura, sozinha, pode depositar
no solo. Outro dado é o aumento na incidência
de pragas e doenças de solo e parte aérea das
plantas, logo na fase de emergência da culturas de verão,
fato que denota uma baixa resistência do solo contra
esses agentes.
Evaldo Kazushi Takizawa, engenheiro agrônomo e consultor
agrícola para melhores praticas de manejo, da Ceres
Consultoria Agrícola, de Maringá, MT, diz que
é muito difícil para as regiões de cerrado,
onde o calor é forte e existem longos períodos
de estiagem, conseguir uma espécie vegetal que garanta
um cobertura do solo satisfatória. Sendo assim, é
muito importante se fazer um preparo do solo antes da implantação
do PD. O agricultor tem várias opções
de cultura para cobertura de solo, inclusive, variedades adaptadas
à realidade brasileira. Dessa forma o país ganha
tempo no trabalho de melhoramento genético das culturas
e ainda aumenta a produtividade das culturas. "A cobertura
vegetal é o banco de nutrientes das plantas e dos organismos
que vivem no solo. Por isso, a cultura de cobertura deve ser
tratada como cultura prioritária e não de forma
marginal", conclui.
Carlos Roberto Spehar, pesquisador da Embrapa Cerrados, de
Planaltina, DF, diz que é fundamental que o agricultor
escolha dentro das muitas opções, aquelas que
tenham um apelo comercial. Segundo Spehar, as pesquisas já
mostram uma gama enorme de culturas que poderiam estar sendo
melhor utilizadas. "Espécies como: Amaranto, Kenaf,
Gergelin, as crotalárias, o nabo forrageiro e as leguminosas
Guandu, utilizadas, juntamente ao sorgo e o próprio
milheto, podem ser utilizadas em consórcio ou em rotação
com as culturas principais, soja, milho, trigo, algodão,
arroz, cevada, entre outras".
Integração
Lavoura - Pecuária garante sustentabilidade
O
programa de Integração lavoura pecuária
tem despertado, cada vez mais, o interesse de agricultores
interessados em diversificar seus sistemas de produção.
A consorciação de espécies forrageiras
e leguminosas, de origens diversas, em sistema de consórcio
ou rotação anual vem servindo como um forte
aliado no combate a degradação e problemas advindos
da ação de patógenos e insetos-pragas
nas lavouras.
A Embrapa Arroz e Feijão, de Santo Antônio de
Goiás, GO, mantém dentro de uma área
de 100 hectares que compõem o campo experimental do
projeto de Integração Lavoura Pecuária
( PIPL) seis talhões onde segue-se rotação
de lavouras e pasto de acordo com esquemas de rotação
e ocupação. No verão metade da área
experimental é ocupada por gramíneas forrageiras
e metade com lavouras. Já na seca, a predominância
é da atividade pecuária. De acordo com os técnicos
da Unidade Arroz e Feijão, os resultados econômicos
desse projeto ILP no ano agrícola 2003/04 foram positivos,
com lotação média de 3,25 UA e produção
de carne de 52 arrobas de carne/ha/ano, sendo que a média
da pecuária nacional é de 2 UA e próximo
de 30 arrobas carne/ha/ano.
Desenvolvido pela Embrapa, unidade Arroz e Feijão,
o Sistema Santa Fé é apresentado no 8° Encontro
de Plantio Direto Cerrado, realizado entre os dias 28 de junho
e 01 de julho de 2005, em Tangará da Serra, MT, como
mais uma ferramenta para a obtenção de palhada
nas condições do Brasil Central. A partir do
consórcio de culturas anuais com espécies forrageiras
(braquiária) o Santa Fé objetiva a produção
de cobertura do solo pela quantidade de biomassa que esse
capim oferece. Dessa forma o sistema permite explorar durante
todo o ano mais de 10 milhões de hectares em regiões
de cerrado e caatinga, atualmente somente utilizados com culturas
de verão.
Desde que foi criado em 1993, o sistema vem sendo aperfeiçoado
pela Embrapa e hoje funciona como uma opção
para se obter palhada na região dos cerrados. De acordo
com os técnicos da Embrapa, estima-se que somente na
recuperação de pastagens degradadas no modelo
de Integração Lavoura Pecuária (ILP),
mais de 20 milhões de hectares poderão ser novamente
incorporados ao processo produtivo sem que precise desmatar
uma único metro quadrado de mata virgem.
A empresa Monsanto do Brasil apresentou na ocasião
do encontro de agricultores e técnicos para discutir
plantio direto uma variedade de braquiária para uso
como cobertura. Segundo Orivaldo Marchiori Júnior coordenador
de desenvolvimento de produtos da Monsanto a escolha da espécie
de braquiária é muito importante, pois deve-se
procurar variedade que ofereçam volume de biomassa.
"A braquiária Ruzizienses contribui na reciclagem
de nutrientes no solo devido sua alta produção
de massa verde. Nos últimos anos o aumento no número
de propriedades utilizando o sistema de integração
lavoura pecuária é crescente e por isso a braquiária
vem conquistando, cada vez mais espaço.
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