POR
MÁRCIO MINGARDO
Esse
mercado, que durante anos sofreu com a retração
de preços, problema gerado pelo uso indiscriminado
do cruzamento industrial no início da década
de 1990, não só está voltando, como ganha
força rapidamente. Na opinião de vários
especialistas em genética bovina e selecionadores de
gado de corte, a diferença desta para a primeira onda
do cruzamento industrial, está numa mudança
de paradigma quanto ao modelo de produção de
carne. A busca pela chamada eficiência produtiva, fenômeno
que atingiu em cheio a pecuária de corte nos últimos
anos e que está transformando a realidade das fazendas,
cria parâmetros de seleção cada vez mais
estreitos, tudo para balizar o produto final em patamares
qualitativos minimamente satisfatórios.
De acordo com médico veterinário, Alessandro
De Caprio do Núcleo de Zootecnica de São Paulo,
ao longo da última década a pecuária
de corte se modernizou bastante para atender mercados exigentes
por qualidade, caso da UE e dos EUA. Segundo ele, a diferença
desta vez é que a busca por uma carne com padrão
está obrigando a cadeia produtiva da carne a pensar
o cruzamento de forma mais racional. A vantagem é que
esses mercados pagam três, quatro vezes mais pelo quilo
da carne se comparados com outros mercados da Ásia
e Oriente até a própria Rússia.
Caprio observa ainda que, o trabalho realizado pelos órgãos
de pesquisa caso da Embrapa, Esalq, USP e Unesp, além
dos inúmeros pecuaristas que mantêm testes de
performance nos seus animais para auferir o desempenho a campo,
está dando às raças um embasamento teórico
que possibilita aos veterinários e zootecnistas, identificar
qual a melhor genética para determinada região
ou regime de criação pelo país. "O
rigor imprimido nos processos de seleção de
touros e matrizes dentro das fazendas, com medições
que começam, a partir dos primeiros meses de vida,
está servindo de aval prático para dar credibilidade
ao produto brasileiro no mercado mundial", observa.
"O criador que pretende ter sucesso com o cruzamento
industrial precisa, necessariamente, direcionar seu trabalho
no sentido de obter animais mais funcionais e adaptados às
condições de criação dos trópicos",
conclui o técnico.
Demanda por touros supera oferta
O
desenvolvimento da pecuária de corte no Brasil, diferente
do que muita gente pensa, ainda encontra-se bastante fundamentado
na monta natural de bovinos, processo que responde atualmente
por mais de 90% dos criatórios do país. A falta
de infra-estrutura adequada e mão-de-obra capacitada,
limitam a entrada da inseminação artificial
nas propriedades. Por conta dessa falta de recursos o uso
dessa tecnologia, bastante comum nos demais países,
fica restrita ao uso de uma pequena parcela de pecuaristas.
Dados da ABCZ, Associação Brasileira dos Criadores
de Zebu, mostra que o número de touros comerciais de
raças zebuínas, registrados em 2004, foi de
30 mil animais Se considerarmos que o gado zebuíno
representa 90% do rebanho nacional, essa produção
eqüivale a grande maioria dos touros disponíveis
no mercado. Em contrapartida a demanda dentro da pecuária
por esses animais gira entre 250 e 300 mil touros/ano. Isso
só para substituir os animais que estão envelhecendo
e não servem mais como reprodutores. Por isso, muita
fazenda que usa a monta natural na reprodução,
acaba utilizando-se de recursos pouco indicados pelos técnicos,
como usar animais de origem duvidosa na cobertura da vacada.
Esses touros conhecidos como "ponteiro de boiada",
ou seja, tourinhos que se destacaram por apresentar um melhor
desempenho dentro do rebanho, mas que possuem nenhum controle
sobre sua genealogia. "A carência por touros para
cobrir a campo é muito grande no Brasil e esse déficit
está muito longe de ser equacionado", conclui.
Para agravar ainda mais essa situação, o crescimento
da demanda mundial pela carne bovina brasileira está
obrigando a cadeia da carne a adequar sua infra-estrutura
de produção, não só para produzir
com qualidade, mas para garantir freqüência de
abastecimento para os novos mercados. Roberto Vilhena Vieira,
zootecnista e juiz de diversas raças de corte, diz
que todo cruzamento exige um ganho de heterose o que confere
maior vigor híbrido ao animal, com conseqüente
melhora nos resultados. Sendo assim, quanto maior a distância
entre os grupos genéticos dos animais, maior será
a resposta ao manejo. No entanto, o zootecnista chama a atenção
para o fato que, genética nenhuma opera milagre. "Se
o pecuarista não oferecer um manejo sanitário,
nutricional e de infraestrutura, adequados às necessidades
do rebanho, o resultado certamente ficará aquém
do esperado".
O rebanho de cruzamento industrial no Brasil é de,
aproximadamente, 17,8 milhões de cabeças, produtos
do cruzamento de zebu x zebu, zebu x europeu ou europeu x
europeu, segundo o Anualpec da FNP Consultoria Agropecuária.
A taxa de abate do rebanho é de 39,9 milhões
de cabeças ou 20,87%, do rebanho nacional. Esse volume
eqüivale a uma produção de 8 milhões
de toneladas em equivalente caraça. Dados da Abiec,
Associação Brasileira das Industriais exportadoras
de carne, sobre as exportações de carne bovina
em 2004 mostra que o Brasil enviou para o exterior 1.5 milhões
de toneladas, gerando riqueza ao país da ordem de US$
1.812 milhões.
É nesse contexto que o técnico do Núcleo
de Zootecnia de São Paulo a raça que melhor
se adaptar ao sistema de criação dos trópicos,
terá mais chances de crescer como opção
para o cruzamento industrial. " Acredito que ninguém
tem dúvida da viabilidade econômica do cruzamento
industrial. O mercado remunera melhor quem produz carne com
padrão diferenciado só que para isso abater
os animais precocemente é fundamental", conclui
Vieira.
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