Porém, sob o ponto de vista dos produtores, essas perspectiva
é encarada com alguma apreensão. Isso porque,
além da safra farta, o Brasil deverá importar
uma quantidade próxima a 200 mil toneladas do produto
da Argentina, possibilitando que o mercado registre períodos
de "preços muito baixos" no segundo semestre.
POR
JOSÉ LUIZ DE GODOY
Com
essa avaliação, o agrônomo e pesquisador
Waldemar Pires de Camargo Filho, e o economista e assistente
de pesquisa Humberto Sebastião Alves, ambos do IEA-Instituto
de Economia Agrícola, sugerem, como necessária,
a criação de um calendário de safras
regionais, baseado na produção histórica
(5 anos), por época do ano. Essa medida, asseguram,
permitirá o equilíbrio dos preços e "sustentabilidade"
da cadeia produtiva.
A tabela, em relação a Argentina, deve fixar
uma cota de importação, "cerca de 150 mil
toneladas", que seriam internalizadas entre os meses
de março e julho. Para as regiões brasileiras
de produção, o conselho é avaliar a melhor
temporada de cultivo, as variedades mais adequadas, além
da definição da área de plantio, "tendo
como base a média histórica, procurando fazer
com que, tanto a colheita como a compra externa, não
excedam a 1,1 milhão de toneladas anuais."
Num estudo sobre o comércio da cebola, Camargo e Alves
lembram que com o surgimento do Mercosul, em fins da década
de 80 (1989), e início da seguinte, os argentinos investiram
nessa lavoura com o objetivo de ampliar sua participação
no mercado brasileiro. Essa expansão fez com que o
abastecimento nacional, nos anos 90, fosse "conturbado,
não só pela presença portenha mas, também,
pela de outros países."
As exportações argentinas para o Brasil, entre
1990 e 1999, foram crescentes, atingindo "o máximo
de 392 mil toneladas, em 95. No qüinqüênio
94-98, a Argentina foi responsável por até 25%
da demanda nacional do bulbo. Com a desvalorização
do real, em 99, as compras brasileiras caíram para
75,1 mil toneladas, para, em 2004, registrar uma retomada
e alcançar a casa das 182,3 mil/t."
Com base em dados estatísticos do IBGE, de 1987/88,
(POF-Pesquisa de Orçamento Familiar), que indicavam
um consumo de 6,5 kg per capita, de cebola in natura, citam
que essa demanda, oito anos depois, recuou "31%, ficando
em 4,5kg" anuais, por domicílio. Essa queda, conforme
os pesquisadores do IEA, foi motivada pela mulher ter ampliado
mais intensamente seu espaço como força de trabalho,
gerando, com isso, o aumento das refeições fora
do lar. Ainda, com o ingresso da mulher no mercado de trabalho,
houve uma expansão no consumo de temperos processados
e uma redução no uso de "bulbos frescos."
O Sul do País, durante o mês de dezembro, responde
por "50% do fornecimento e escoa, para o mercado, cebolas
precoces." Segundo afirmam, Rio Grande do Sul e Santa
Catarina, garantem "45% da colheita nacional e asseguram
o abastecimento entre janeiro e abril com variedades tardias."
Mencionando análises do Icepa-Instituto de Planejamento
e Economia Agrícola, de Santa Catarina, indicam que,
mesmo com ótimas condições de clima,
a colheita deverá apresentar um volume 25% menor devido
ao armazenamento (desidratação), e descarta
na classificação (produtos fora do padrão).
"Em 2004, problemas no cultivo e na colheita provocaram
uma quebra próxima a 50%, caracterizando um ano atípico
para a lavoura."
Em outros Estados produtores (Paraná, São Paulo,
Minas Gerais, Pernambuco e Bahia), os cálculos apontam
para uma perda de 10% na safra, uma vez que as cebolas passam
por uma limpeza e padronização, antes da comercialização.
Nessas regiões, acrescentam, "os bulbos são
colhidos, curados e, após a toalete, enviados aos atacadistas
locais." Em conseqüência desses fatores, "a
quantidade colhida diminui 15%, devido ao descarte e ao armazenamento."
O consumo aparente é o resultado da soma das médias
dos volumes de cebola importada e fornecida ao varejo, no
Brasil. Entre 2001 e 2003, a quantidade média de importação,
segundo eles, foi de 129,8 mil toneladas/ano e a produção
brasileira, nesse período, bateu em 1,15 milhão
de toneladas. Descontadas as perdas (15%) e somando às
importações, chega-se a uma oferta total de
1,11 milhão/t por ano, ou pouco mais que 87 mil toneladas
por mês, no âmbito do mercado atacadista (bulbos
classificados e embalados). No cálculo, assinalam,
foram considerados "apenas 90% da população,
com o objetivo de compensar o menor consumo de crianças
e dos habitantes da área rural."
Com relação às cotações,
Camargo e Alves afirma que a análise dos preços
deve ter como base o principal mercado atacadista, que é
o parâmetro tanto para o produtor como para o varejista.
No Mercosul, os dois principais pontos de atacado de hortigranjeiros
estão situados em São Paulo (Ceagesp), e em
Buenos Aires (MCBA-Mercado Central de Buenos Aires). Esses
dois centros, ressaltam, são balizadores para o comércio
no Cone Sul e referências a outros entrepostos, inclusive
como reguladores do fluxo de mercadoria.
Quanto ao comportamento dos preços, em 2005, os pesquisadores
do IEA manifestam a crença de que a Argentina exportará
cerca de 200 mil toneladas, ao Brasil, entre março
e agosto. "Isto porque os produtores obtiveram boa remuneração
entre abril e agosto, do ano passado." Com esses valores
"muito acima da média", haverá estímulos
à expansão do plantio no Sudeste, Nordeste e
Centro-Oeste, fato que permite concluir que, "no segundo
semestre, as cotações da cebola deverão
se situar abaixo da média", finalizam.
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