DA
REDAÇÃO
O
Brasil está ampliando as vendas de açúcar
e álcool ao Exterior, obtendo maiores receitas de exportação
a partir da produção do segmento canavieiro.
As remessas de açúcar e álcool somaram
US$ 1,26 bilhão entre janeiro e abril, 64,4% a mais
que os US$ 766 milhões registrados em igual período
do ano passado.
Esses números sugerem que toda a cadeia sucroalcooleira
passa por um momento positivo, mas na lavoura não há
motivos para comemorar. Conforme consulta realizada pelo Projeto
Conhecer da Confederação da Agricultura e Pecuária
do Brasil (CNA), o produtor acumula perda de renda, resultado
de alta dos preços dos insumos sem paralela recuperação
dos valores pagos pela cana.
Nas duas últimas safras, os fertilizantes acumularam
aumento de preços de 560; enquanto que os herbicidas
ficaram 45% mais caros e os inseticidas subiram 30%. No mesmo
período, o preço da cana registrou desvalorização
de 20% em termos reais, explica o presidente da Comissão
Nacional de Cana-de-Açúcar da CNA, Edson José
Ustulin. Foi justamente para obter uma "radiografia"
da situação dos produtores de cana que a CNA
resolveu realizar consulta diretamente com os produtores.
As respostas causam surpresa. Do total de consultados, parcela
de 45% informou que os preços recebidos pela cana na
safra 2004/2005 não foram suficientes para cobrir os
custos de produção. Outro grupo de 32% dos consultados
informou ter conseguido apenas "empatar" os custos
da lavoura com os valores recebidos na venda da cana.
Os produtores consultados pelo Projeto Conhecer indicaram
que uma das prioridades para o setor é reformular o
modelo do Conselho de Produtores de Cana, Açúcar
e Álcool, o Consecana, indicado como sistema predominante
na remuneração da matéria-prima, conforme
indicou parcela de 67% dos produtores consultados. Do público
total que respondeu ser o Consecana o sistema predominante
na remuneração, 73% afirmaram que o sistema
não remunera corretamente a matéria-prima. Ainda
assim, 68% dos consultados acredita que o aperfeiçoamento
do Consecana levará a uma melhor remuneração
ao produtor. A proposta de 70% dos consultados é que
se crie um modelo de pagamento mais simples e transparente.
"O modelo Consecana foi criado em 1998, mas não
foi aperfeiçoado desde então, enquanto que no
mesmo período os custos de produção aumentaram
sensivelmente e novas oportunidades de negócios surgiram
para o setor sucroalcooleiro, como a energia cogerada",
diz Ustulin. Apesar de os produtores afirmarem não
receber adequadamente para cobrir os custos de produção,
88% deles informam também que mantém um relacionamento
cordial com a indústria. Segundo Ustulin, isso significa
que há espaço para negociação,
em busca de melhor remuneração da matéria-prima.
Os números da consulta do Projeto Conhecer aos produtores
foram divulgados em reunião realizada hoje da Comissão
Nacional de Cana de Açúcar da CNA. O grupo discutiu
também outras sugestões para o desenvolvimento
da atividade canavieira. Uma das sugestões é
a de que seja liberada a linha de financiamento "BNDES
Automático" para financiamento de investimentos
em renovação e ampliação da lavoura
de cana-de-açúcar. Também é proposta
da Comissão que o Programa de Desenvolvimento Cooperativo
para a Agregação de Valor à Produção
Agropecuária (Prodecoop) financie produtores de cana,
unidos em cooperativas, para que formem unidades industriais
e comercializem os produtos finais, com valor agregado, ou
seja, açúcar e álcool. Segundo argumenta
Ustulin, o Brasil precisa aproveitar o momento mundial de
grande interesse por fontes de energia renovável e
de efeito poluente reduzido, ocupando espaços com a
oferta de álcool, mercado no qual o País é
extremamente competitivo.
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