Este
fato segundo especialistas e representantes das empresas do
setor, está sendo motivado pela baixa no poder aquisitivo
do produtor rural, sobretudo do agricultor. Fatores como o
excesso de endividamento, gerado na safra passada, a baixa
nos preços de culturas comercialmente importantes para
o país (soja, milho e trigo) e a valorização
do real perante o dólar, são apontados como
os principais responsáveis por esse quadro de inércia
do produtor para a realização de novos investimentos.
POR
MÁRCIO MINGARDO
Levantamento
realizado pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e pela Secex, Secretária de Comércio Exterior,
vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Indústria
e Comércio, MDIC, no primeiro trimestre de 2005, mostra
que a atividade em vários segmentos da produção
agropecuária que se abastecem dos insumos gerados pela
agroindústria nacional, tiveram desempenho positivo
em 2004. Esse fato serviu como estimulo para que as empresas
do setor agrícola investissem na ampliação
das linhas de produção, apostando em vendas
crescentes também para 2005. Como as expectativas do
segmento industrial não se reverteram na consolidação
de negócios com o produtor, o que se observa é
um clima de insatisfação por parte da cadeia
do agronegócio.
Francisco Matturro, presidente da Câmara Setorial de
Máquinas Agrícolas, ligada a Abimaq, Associação
Brasileira das Indústrias de Máquinas e Equipamentos,
declara que o índice de 1,1% conseguido no ano passado
pela agroindústria brasileira apesar de não
repetir o comportamento dos últimos anos, quando foram
registradas taxas de 14, 2% em 2002 e 11, 9 %, em 2003, pode
ser considerado positivo. Segundo ele, esse ligeiro incremento
se deve sobretudo ao avanço de 6,0% nas exportações
do segmento de máquinas ( tratores). Matturro analisa
ainda que dentro de uma conjuntura desfavorável é
natural que as vendas sofram retração. "Na
grande maioria dos segmentos de produtos com pouco valor agregado,
voltado aos pequenos e médios produtores rurais os
investimentos continuam em patamares elevados".
Os números do Levantamento Sistemático da Produção
Agrícola (LSPA), mostram que, dos seis principais segmentos
da produção vegetal, que tiveram rendimentos
satisfatórios na safra passada, merecem destaque: o
fumo, que apresentou crescimento de 20,0%; a citricultura
sobretudo na produção de suco de laranja 5,2%;
o segmento de celulose 6,0% e derivados da cana-de-açúcar
1,8%. Somente os produtos derivados da soja tiveram redução
de -1,1% e do milho com -22,5% e pressionaram negativamente
o mercado. No caso da soja, a expectativa inicial para a produção
era de uma safra recorde de 51.5 milhões de toneladas,
no entanto, alterações significativas nas condições
climáticas, como a estiagem que assolou os estados
da região Sul, alteraram a estimativa inicial registrando
uma produção de 49.2 milhões de toneladas,
ou seja, 4,5% abaixo do que se esperava. Na cultura do milho,
a tendência de queda que está associada à
insatisfação dos produtores com o preço
do produto, está motivando uma transferência
de opção de plantio em favor de outras culturas,
segundos vários representantes da cadeia produtiva
do milho.
Já os segmentos industriais que se abastecem dos sub-produtos
oriundos da atividade pecuária, o crescimento registrado
foi de 4,9% no ano passado. Esse desempenho que é recorde
para a maioria desses setores, se deve, principalmente, à
alta nos preços internacionais para a carne brasileira,
impulsionada por restrições de oferta impostas
por problemas sanitários enfrentados por grandes produtores
mundiais, caso da União Européia enfatiza Cesário
Ramalho, presidente da Câmara Setorial da Carne Bovina
da Secretária de Agricultura do Estado de São
Paulo. Segundo ele, o setor pecuário tem papel estratégico
no abastecimento de toda uma cadeia industrial de bens de
transformação que, pegando carona no bom desempenho
do setor, está terminando o primeiro semestre de 2005
com resultados satisfatórios, explica. De acordo com
o representante da cadeia da carne bovina, que também
é pecuarista, os produtores de carne estão preocupados
com a conjuntura interna do setor mas otimistas quanto ao
futuro do produto no mercado internacional. " O Brasil
exporta para 140 países no mundo dos 180 viáveis
no mundo. Entretanto, o momento não está para
desperdícios. É preciso aumentar a gestão
do negócio para garantir rentabilidade", conclui.
Agrishow
é fórum de discussões
Balizador
importante para se auferir desempenho para o mercado o circuito
de feiras de tecnologia para a produção agropecuária
serve como parâmetro para avaliar como anda a disposição
do produtor rural para a realização de investimentos
e, como conseqüência, o que se pode esperar em
termos de produção agrícola para a próxima
safra agrícola do país. Dados da Abimaq responsável
pela organização do Sistema Agrishow, no balanço
das três primeiras feiras deste ano, os números
mostraram vendas em média 40% abaixo das computadas
ano passado. Na Agrishow de Ribeirão Preto, SP, feira
que por apresentar uma localização estratégica,
próxima ao centro de produção agrícola
da região Sudeste, é vista pelos organizadores
como um evento de perfil diferenciado para realização
de negócios, fechou com vendas 50% menores que 2004.
Na avaliação do presidente do Sistema Agrishow
Sérgio Magalhães, isso está sendo motivado
pela redução na aquisição por
parte do grande produtor de máquinas e implementos.
No balanço das empresas de máquinas e implementos,
as vendas na Agrishow Rondonópolis, MT e Rio Verde,
GO, foram de 1/3 menores que o ano passado. Segundo Magalhães,
nos três primeiros dias do evento este ano, o volume
de negócios fechados estava em patamares bastante preocupantes.
Entretanto, nos últimos dias a liberação
da verba do FEAP, Fundo de Expansão da Agropecuária
e da Pesca, pelo governador Geraldo Alckimim, contribuiu para
uma elevação nas vendas. Os números do
balanço da Caixa Econômica Estadual mostra que
foram utilizados cerca R$ 40 milhões do fundo. Isso
motivou outros investimentos contribuindo para que a instituição
pudesse fechar o evento, totalizando R$ 90 milhões
em contratos.
O volume de negócios firmados com produtores de varias
partes do mundo dentro ultrapassou os R$ 3,5 milhões.
Além disso, os bancos privados, banco de empresas,
mais os agricultores que concretizaram seus negócios
com recursos próprios totalizou um montante de R$ 760
milhões. Frente aos R$ 1,25 bi. do ano passado a organização
reconhece que o desempenho foi inferior. Para o presidente
da câmara setorial de máquinas agrícolas,
no entanto, não se pode avaliar um evento como a Agrishow
apenas a verificando números e concretização
de negócios. Segundo ele, em Ribeirão Preto,
este ano, foram realizados vários encontros entre lideranças
políticas, representantes das cadeias produtivas e
sindicatos rurais, dos quatro cantos do país. "A
utilização do circuito de feiras e exposições
agropecuárias pelo Brasil, como fórum permanente
de palestras e debates entre os integrantes da cadeia produtiva
e os representantes do ministério da agricultura e
das secretárias de agricultura dos estados é
um fato que está transformando o conceito de feiras
no país".
Na pauta das reuniões figuram os assuntos que estão
na ordem do dia das prioridades do setor, esclarece o secretário
de Agricultura do estado de São Paulo, Duarte Nogueira.
Na ocasião a secretária realizou um encontro
entre os 25 presidentes das câmaras setoriais do estado
que apresentaram suas propostas e projetos em desenvolvimento
de acordo com as diretrizes de cada setor em particular. Nogueira
falou para uma platéia de mais de cinqüenta representantes
de todos os segmentos da produção agrícola
e destacou o empenho do setor produtivo na articulação
de idéias para resolver os problemas enfrentados pelo
país.
Antônio José Xavier, presidente da Câmara
Setorial do Leite e Derivados, mostra que o crescimento registrado
nas exportações do setor, a partir do segundo
semestre do ano passado está se mantendo nos primeiros
meses de 2005. O representante do setor anunciou também
a compra pelo estado de 10,8 milhões de litros de leite
pasteurizado pelo programa "Viva Leite" que deve
beneficiar todos os 645 municípios do estado. Além
disso, o setor está promovendo uma tomografia dentro
das fazendas do estado para avaliar o grau de tecnologia empregada
nas propriedades, nas diferentes regiões. Xavier conta
que assim será possível traçar um perfil
da atividade de produção leiteira no estado.
Valdomiro Ferreira Júnior, presidente da Associação
Paulista de Suinocultura chamou a atenção para
o crescimento da atividade no estado e defendeu a criação
de um fundo privado dos segmentos do agronegócio para
garantir a sanidade do rebanho. Segundo números da
associação a produção de carne
suína no estado já é de 200 milhões
de toneladas por ano. No entanto, a oferta ainda é
inferior a demanda que ultrapassa a 250 milhões de
t. Para o presidente da câmara setorial do café
Nathan HerszKowicz, o café torrado e moído brasileiro
começa a ganhar o mundo com selo de São Paulo.
Para ele, a agroindústria paulista precisa de um representante
em Brasília, alguém que seja uma voz ativa dentro
do congresso e que esteja interessado em ouvir os produtores
rurais.
Do lado das empresas fornecedoras de insumos e bens de capital
para uso direto na produção de agrícola,
a avaliação dos empresários e representantes,
quanto ao desempenho das vendas no primeiro semestre de 2005,
mostra um misto de expectativa por uma possível melhora
a partir do segundo período do ano, com apreensão
quanto ao desempenho de algumas culturas na próxima
safra. Segundo Epitácio Barzotto, Gerente de Marketing
do Grupo Fockink de Panambi, RS, o primeiro semestre de 2005,
apresentou um perfil bastante atípico se comparado
com o mesmo período do ano passado. Barzotto observa
que a frustração da safra nos estados do RS,
PR,SC, MS e MT, fato que deixou muito agricultor em situação
econômica difícil, mais os altos preços
dos insumos de uso obrigatório na produção
agropecuária, pagos em dólar, está causando
uma retração nos investimentos para aquisição
de máquinas e implementos de alto valor agregado.
De acordo com o gerente de marketing do grupo Fockink, empresa
que atua fornecendo produtos para uso nos vários segmentos
da produção agropecuária, os problemas
enfrentados pela cadeia do agronegócio, foram gerados
a partir do segundo semestre do ano passado e foi gerado por
uma conjugação de fatores desfavoráveis
que atingiu, principalmente, os produtores de grãos
e fibras. " O produtor rural brasileiro adquiriu no último
quarto do ano passado a grande maior parte dos seus insumos
para o plantio de safra, em torno de US$ 3,00. Hoje, esse
mesmo produtor está sendo obrigado a comercializar
sua produção a um dólar de US$ 2,40 e
não há perspectiva de mudança no curto
prazo" conclui.
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