Segunda
maior lavoura de grãos cultivada no país, o
milho, assim como outras culturas caso da soja e arroz, também
requerem cuidados especiais para alcançar produtividade
aliada a qualidade dos grãos. Isso consiste num grande
desafio para os produtores, já que são vários
os problemas que podem comprometer a lavoura, sejam eles externos
ou internos. A saída para que a lucratividade do agricultor
seja garantida está diretamente ligada às técnicas
de manejo e de controle, seja ele químico ou biológico.
Estimativas da CONAB, Companhia Nacional de Abastecimento,
a produção de milho no Brasil para a safra 2004/2005
deve ser de aproximadamente 39,0 milhões de toneladas.
Se confirmada, essa produção é cerca
de 7,5% menor em relação a safra passada, uma
redução que pode ser explicada pela diminuição
da área plantada de 4%. No entanto, esse número
poderia ser maior, não fossem as perdas na produção
decorrentes de fatores como: a falta de planejamento no processo
de produção, do plantio a pós-colheita;
má escolha de variedades; mão-de-obra e equipamentos
deficientes e colheita da cultura em período inadequado.
Pragas
Como
explica o pesquisador José Magid Waquil, da Embrapa
Milho e Sorgo, para facilitar o diagnóstico, monitoramento
e controle das principais espécies de insetos e pragas
do milho, o agricultor deve dividi-los em cinco grupos de
acordo com o sítio de alimentação: as
espécies de pragas subterrâneas, que atacam as
sementes e o sistema radicular das plantas; as pragas iniciais
ou das plântulas; as brocas de colmo; os insetos-praga
do cartucho e os da espiga.
Segundo o pesquisador, os danos e, conseqüentemente,
os prejuízos potenciais causados por cada grupo de
praga são diferentes. "Entretanto, as perdas observadas
nas lavouras dependem além do dano potencial, também
da taxa de infestação. Portanto, nem sempre
a espécie-praga, como a lagarta-elasmo que causa a
morte da plântula (560 potencial de dano), é
a que causa os maiores prejuízos, pois sua ocorrência
é esporádica. Por outro lado, a lagarta-do-cartucho,
tem um menor potencial de danos, 37% de perda na planta atacada,
mas devido à sua ocorrência mais freqüente
e com maior taxa de infestação, variando de
25% a 560, nos mais diferentes sistemas de produção,
é considerada a principal praga-alvo na cultura do
milho no Brasil. Já para o milho-safrinha, o percevejo
barriga-verde tem sido considerado tão importante como
a lagarta-do-cartucho", ressaltou.
Ele conta que nas áreas sob plantio direto, as pragas
subterrâneas, como os coros, têm causado perdas
expressivas, sem contar com uma estratégia satisfatória
de controle. Adicionalmente, nas áreas irrigadas onde
se faz plantios sucessivos, várias épocas de
plantio com intervalos curtos, ou em plantios tardios e em
áreas mais quentes, como nos vales dos rios, a incidência
da cigarrinha-do-milho, bem como das doenças causadas
pelos patógenos por ela transmitidos, têm causado
prejuízos elevados. As brocas-de-colmo têm ocorrido
com maior freqüência na região Centro Oeste.
Os danos, tanto da lagarta-da-espiga, como da lagarta-do-cartucho
na espiga, têm sido freqüentes, mas taxas significativas
de infestação têm ocorrido mais esporadicamente.
Portanto, para cada região e/ou sistema de produção,
a importância relativa de cada grupo de praga varia
e o importante é manter o monitoramento freqüente
da lavoura para detectar os problemas a tempo de tomar medidas
de controle.
Quanto à existência de variedades de milho resistentes
a doenças, o pesquisador destaca que está sendo
intensamente estudada a resistência do milho à
lagarta-do-cartucho. "Entretanto, até o momento,
não estão disponíveis no Brasil, cultivares
de milho com níveis satisfatórios de resistência
natural. Por outro lado, os avanços da biotecnologia
permitiram obter plantas transgênicas, expressando o
gene bt, denominados Cry 1Ab e Cry 1F, com alta resistência
às principais lagartas que atacam o milho no Brasil,
inclusive à lagarta-do-cartucho. Porém, esta
tecnologia está em fase de testes e aprovação
legal, podendo em breve estar à disposição
dos produtores brasileiros. Para resistência às
demais pragas, os estudos são incipientes e não
há registros de cultivares comerciais disponíveis
no mercado com essa característica", exemplificou.
Em relação as principais técnicas para
evitar a proliferação de pragas dentro da lavoura
de milho, Waquil destaca que o monitoramento é uma
prática que deve ser sempre utilizada. "Este é
o princípio básico para se adotar o manejo integrado.
Mesmo assim, para cada grupo, os métodos de amostragem
devem ser ajustados", disse. Ele ainda fala que como
meio de controle os agricultores, a princípio, devem
preferir os métodos biológicos e o controle
químico deve ser utilizado como complemento das demais
estratégias de controle e, somente quando necessário,
deve ser indicado pelo monitoramento, com base no nível
de controle. "Mesmo no controle químico, deve-se
dar preferência por produtos seletivos, visando a preservação
da população de inimigos naturais. No caso do
milho, deve-se destacar a tesourinha, Doru luteipes, importante
predador de várias espécies de insetos-praga,
e geralmente abundante nas lavouras de milho. Hoje, já
existem empresas especializadas na produção
de uma vespinha (Trichogramma) que parasita os ovos de várias
espécies de insetos-praga do milho e pode ser utilizada
num sistema de manejo preventivo", completou.
Segundo os conceitos do manejo integrado, deve-se usar todas
as estratégias de controle possíveis e para
alguns casos, como o da cigarrinha-do-milho. Além desses,
o método cultural deve ser considerado o principal
na opinião do técnico que diz que o agricultor
deve evitar o plantio do milho em várias épocas
sucessivas e o plantio tardio nas regiões onde for
registrada a alta incidência da cigarrinha-do-milho.
A eliminação de plantas voluntárias de
milho no meio da lavoura de soja pode reduzir, significativamente,
a fonte de inóculo dos patógenos transmitidos
pela cigarrinha.
Em números, não se pode avaliar o quanto se
perde na produção de milho no Brasil devido
somente às pragas. De acordo com o pesquisador da Embrapa,
esta informação é da mais alta relevância,
entretanto, devido à escassez de dados estatísticos
no país, as estimativas de perdas devido às
pragas são baseadas em amostragens pequenas. Segundo
dados levantados nas principais regiões produtoras
de milho, as perdas anuais causadas pelas pragas na cultura
do milho estão estimadas em 19,04% da produção,
o que resulta num prejuízo anual de aproximadamente
2,5 bilhões de reais, se adicionado os custos com controle.
Para esta safra, a estimativa, segundo dados levantados nas
safras e safrinhas dos anos anteriores, a infestação
do milho pela lagarta-do-cartucho variou de 20% nas regiões
Norte e Oeste do Paraná a 53% no Sudoeste Goiano, o
que resulta numa perda de 11% na produção.
Não existe uma fase do desenvolvimento da planta onde
ela se torne mais susceptível ou mais atacada pelas
pragas, isso porque cada grupo predomina em fases diferentes
do crescimento das mesmas. Conforme explica o pesquisador,
em geral, os insetos que atacam as sementes e plântulas
na fase inicial de desenvolvimento causam sua morte e, conseqüentemente,
redução no número de plantas produtivas
com redução drástica na produtividade.
Por outro lado, as doenças causadas pelos patógenos
transmitidos pela cigarrinha-do-milho, manifestam-se na planta
já na fase de maturação e podem causar
de 30 a 560 de perdas, dependendo da doença e da susceptibilidade
do híbrido utilizado. "Os prejuízos na
lavoura dependem, igualmente, do potencial de dano e da taxa
de infestação. Por outro lado, a lagarta-do-cartucho
como ataca o milho desde a germinação até
a fase de maturação, e tem ocorrido em altas
taxas de infestação, nas mais diferentes regiões
produtoras e em todos os anos, pode ser considerada a principal
praga-alvo na cultura do milho", finalizou Waquil.
Doenças
Um
outro fator que também pode tirar a tranqüilidade
dos agricultores que optaram pelo cultivo de milho em suas
lavouras, diz respeito às doenças. A cultura
pode ser atacada por vários tipos de doenças
como: cercosporiose (Cercospora zea-maydis), Antracnose (Colletotrichum
graminicola), Ferrugem polissora (Puccinia polysora), ferrugem
branca (Physopella zeae), enfezamentos (molicutes), pinta
branca (Pantoae ananas) entre outras. De acordo com o pesquisador
da Embrapa Milho e Sorgo, Carlos Roberto Casela, dentre as
doenças não dá para especificar qual
é a responsável pelo maior prejuízo ao
bolso dos agricultores. "Todas as doenças acima
mencionadas têm igual importância, que é
variável de acordo com a região, com a ocorrência
de condições ambientais favoráveis e
com a susceptibilidade da cultivar", disse ele.
As disseminações são variáveis
com a natureza do patógeno. Casela diz que, por exemplo,
o agente causal da cercosporiose espalha-se principalmente
pelo vento, o agente causal da antracnose dissemina-se principalmente
por respingos de chuva e os molicutes por meio de insetos
vetores e o próprio homem é um agente de propagação
de doenças. "Sementes infectadas são também
um importante agente de disseminação. O reconhecimento
dos sintomas é fundamental, pois o controle de qualquer
doença começa com uma diagnose correta. É
recomendável que o produtor consulte um fitopatologista
quando não há segurança sobre a diagnose
de determinada doença". Ainda segundo ele, a resistência
genética é a principal medida de controle para
as doenças do milho, mas não existe, certamente,
uma cultivar que seja resistentes a todas as doenças.
Deve-se associar à resistência genética,
outras medidas de controle como a rotação de
culturas. Para evitar a proliferação de doenças
na lavoura é fundamental que seja adotada a rotação
de culturas. "Esta medida contribui para a redução
do potencial de inóculo de patógenos que sobrevivem
nos restos de cultura, como Cercospora zea-maydis e Colletotrichum
graminicola. Esta prática é essencial no caso
do uso do plantio direto", ressaltou Casela.
Nas formas efetivas de controle, o pesquisador diz que o controle
biológico não é, na realidade, uma prática
adotada para o controle de doenças. "E o uso de
produtos químicos deve ser visto no contexto do manejo
que envolva a integração de várias medidas
como as já mencionadas acima: resistência genética
e rotação de culturas. Nenhuma medida pode ou
dever ser encarada como a única solução
para o controle de doenças de milho", completou.
Em números, não há estatísticas
de quanto será o prejuízo causado por doenças
no país na atual safra. "As epidemias severas
podem causar perdas significativas em lavouras quando os anos
são favoráveis. Há que se considerar
também o tipo de lavoura. No caso de produção
de sementes as perdas podem ser totais, quando o ataque de
um patógeno resulta na redução da qualidade
da semente", explicou o pesquisador.
Colheita
Na
colheita, o agricultor está sujeito a mais perdas na
produtividade. De acordo com o pesquisador Marco Aurélio
Noce, da Embrapa Milho e Sorgo, o sucesso na hora da colheita
irá depender de dois pontos principais que requerem
toda a atenção do agricultor. Esses fatores
correspondem a umidade adequada dos grãos e regulagem
e velocidade da máquina. "Na verdade, não
existe uma regulagem ideal que seja padrão para todas
as máquinas, ela irá variar de acordo com a
marca e o modelo da colheitadeira", observou.
O também pesquisador da unidade Milho e Sorgo, João
Batista Guimarães, ressalta que essa etapa do processo
de produção deve ser bem planejada a fim de
que se obtenha uma safra produtiva com grãos de boa
qualidade. Segundo Guimarães, existem alguns cuidados
que antecedem a colheita, que o produtor deve estar alerta.
Na escolha da cultivar, deve-se evitar, de preferência,
materiais de porte baixo. Precisa-se levar em conta também
o número de plantas por hectare, o número de
linhas da semeadora, que deve ser igual ou múltiplo
da colheitadeira, o espaçamento que deve ser equivalente
com as "bocas" e a utilização de uma
plataforma adequada ao espaçamento. Além disso,
o material da cultura deve estar limpo na hora da colheita.
"O agricultor deve realizar essa etapa a partir do momento
em que sua lavoura alcança um nível de umidade
ideal, que irá variar de acordo com as necessidades
de cada propriedade. No caso do milho, a maturação
física ocorre quando o mesmo pára de absorver
água. Recomendando-se o uso de um sistema de secagem
quando esse valor ultrapassar os 15%", ressaltou.
O cuidado com a infestação de plantas daninhas
na lavoura, é um outro ponto a ser verificado, pois
a presença das mesmas podem dificultar a colheita,
devido ao fato de aumentarem a umidade dos grãos e
exigirem mais velocidade dos cilindros, o que irá refletir
em maiores danos nos grãos. Em relação
ao maquinário na lavoura, o pesquisador destaca que
na frota a manutenção é fundamental para
a diminuição de perdas de grãos. "Existem
máquinas modernas que garantem um bom rendimento, porém
a regulagem de alguns itens das máquinas é um
fator primordial". Guimarães explica como e porque
esses itens precisam ser regulados. "Na colheita mecanizada,
o cilindro e o côncavo devem ser regulados de modo que
haja uma distância entre eles que permita que o milho
seja debulhado. Deve-se procurar por uma regulagem maior desses
itens, em relação ao tamanho das espigas, se
ela for igual ou menor, o milho até poderá passar,
mas sairá quebrado".
Quanto a rotação do cilindro, o pesquisador
conta que ela necessita ser adequada ao teor de umidade dos
grãos. "Grãos mais úmidos exigem
maior rotação do cilindro debulhador, mas a
medida que eles se tornam mais secos também ficam mais
quebradiços, exigindo redução da velocidade
de rotação do cilindro.
Para finalizar, o pesquisador observa que o zelo com a cultura
deve continuar após a colheita. "Não se
pode esquecer de que os cuidados com os grãos e as
espigas devem continuar mesmo depois que eles saem da lavoura.
Na fase de pós-colheita, o agricultor deve estar precavido
quanto aos problemas que podem surgir nos sistemas de armazenagem
e transporte, devido as deficiências apresentadas nos
mesmos", acrescentou Sobrinho.
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