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CONJUNTURA: MERCADO É UM DESAFIO A SER SUPERADO
rev 87 - maio 2005

A agroindústria do milho assistiu a colheita da safra 2004/05, sobre uma perspectiva de apreensão quanto ao futuro do mercado mundial de grãos. Já no mercado interno, que detêm cerca de 80% da produção, a preocupação da cadeia está depositada numa possível retomada do câmbio, fato este que, até o momento, não se confirmou.

Dados do IEA, Instituto de Economia Agrícola, órgão da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo, mostram que no acumulado dos últimos 12 meses, a cultura do milho e demais grãos e fibras, acumularam uma forte variação negativa. A elevação observada nos preços em Chicago, no primeiro trimestre deste ano, demonstra uma leve recuperação em torno de 5,99%, entretanto, este valor não cobre o déficit de 2004, que somou perdas de 28,05%.

De acordo com os técnicos do instituto, mesmo com a supersafra registrada nos países do hemisfério norte, sobretudo nos EUA que superou a marca de 300 milhões de toneladas, as cotações devem se manter em elevação contínua. Esse movimento é causado, principalmente, pelo aumento na demanda norte-americana por grãos para uso na fabricação do etanol.

O último levantamento da Conab, Companhia Nacional de Abastecimento, aponta para uma produção nacional de 39 milhões de toneladas de milho, contabilizando as safras de inverno e verão. Isso significa uma redução de cerca de 4 milhões toneladas nas estimativas iniciais que apontavam para uma colheita de 44 milhões de toneladas. A queda na produção da região Sul do país que em alguns casos foi superior a 40%, problema causado da estiagem prolongada do final do ano trouxe sérios problemas de abastecimento.

A estiagem que derrubou a produção nas lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, certamente, provocará uma diminuição na oferta durante a entressafra, afirma João Reginaldo Kowalski, diretor da Kowalski Alimentos, de Londrina, PR. Segundo ele, os estoques da safra anterior, que somam algo em torno de 4 milhões de toneladas, estão garantindo o abastecimento da indústria. "Esse milho que é resultado dos estoques públicos de passagem e de agricultores que mantiveram os grãos na fazenda, aguardando a melhora nos preços, deve manter o mercado abastecido até meados dos meses de maio, junho", avalia.

Com uma demanda interna superior a 45 milhões de toneladas, os setores que têm o milho como principal insumo na linha de produção, já começa a se preparar para um possível aumento nos custos finais de produção. O setor avícola, que consome cerca de 17 milhões de toneladas de milho por ano, na forma de ração, para transformar em aves e ovos, se apresenta como o principal prejudicado. A atividade de suinocultura, que também tem um consumo que supera as 8,5 milhões de toneladas está se mobilizando para evitar problemas futuros.

De acordo com a assessoria de imprensa da Abimilho, Associação Brasileira das Indústrias do Milho, o futuro do milho no Brasil é um problema que está causa preocupação nos representantes da cadeia produtiva. Para discutir o futuro do milho no Brasil, a entidade que representa os produtores está preparando um encontro para o próximo mês de outubro, com data a definir, onde representantes da política agrícola nacional e da cadeia do milho vão discutir as transformações qualitativas da cultura.

A Comissão Técnica Nacional de Biosegurança (CTNbio), por meio de parecer técnico está aprovando a importação de milho argentino para regiões no país, onde a estiagem já causa problemas de abastecimento. Isso ocorre porque o Brasil ainda não possui uma legislação voltada a comercialização de milho transgênico.

Para atender a demanda interna das agroindústrias do milho o Brasil terá de importar milho da Argentina, país que tem 90% da sua produção formada por organismos geneticamente modificados (transgênicos). O país, que no último ano exportou um excedente de, aproximadamente 5 milhões de t., este ano vai voltar a apresentar um perfil de importador do grão. Para a próxima safra, se nenhum fator interferir as estimativas apontam para uma produção de 44 milhões de toneladas e isso por que deve ocorrer uma elevação na área plantada, segundo dados da Abimilho.

Biotecnologia em prol da produção

Pegando carona na cultura da soja, as pesquisas visando o desenvolvimento de variedades de milho, resistentes a herbicidas e pragas são uma realidade não só presente no campo, mas em adiantado estágio de desenvolvimento. A Embrapa Milho e Sorgo de Sete Lagoas, MG, entidade com 32 anos de existência, mantêm um centro de produtos, em biologia molecular como o programa milho Bt (Bacillus thuringiensis) que incorpora a semente um gene, conferindo maior resistência a lagarta do cartucho, principal praga que ataca os milharais pelo país.

O pesquisador da unidade Fernando Hercos Valicente que é coordenador da pesquisa, que caracterizou cepas de Bt para a detecção dos genes cry1, conta que esse genes, são específicos para os lepidópteros, classificação (ordem) à qual pertence a Spodoptera frugiperda, agente causal da praga. O gene cry1C, descrito na literatura científica como um dos mais eficientes no controle da lagarta-do-cartucho, foi identificado em uma cepa coletada em amostra de solo feita em Rolândia-PR, explica o pesquisasdor.

Segundo o pesquisador, os testes no campo com o inseticida biológico à base de Bt estão em fase inicial. No entanto, a expectativa é de que entre dois anos e meio e três anos a Embrapa tenha desenvolvido seu primeiro milho geneticamente modificados (transgênico). "O objetivo de todo esse trabalho é reduzir a quantidade de inseticidas químicos atualmente aplicada no controle da lagarta-do-cartucho. O controle biológico dessa praga através da Bacillus thuringiensis, além de ser uma alternativa viável, é muito mais barato do que usar produtos químicos nas lavouras de milho", diz.

De acordo com o pesquisador Antônio Álvaro Corsetti Purcino, coordenador do núcleo de biotecnologia molecular e bioquímica da Embrapa Milho e Sorgo, o objetivo dos trabalhos está na incorporação dessas linhagens transformadas com as linhagens padrões da Embrapa. Outra variedade que está sendo trabalhada pela unidade é um milho de perfil protéico melhorado, constituído de lizina e triptofano, aminoácidos importantes para os animais e seres humanos.

Outro produto que segundo o pesquisador em breve deve estar no mercado é a variedade de milho RE, ou milho resistente ao herbicida glifosato. Segundo o pesquisador isso vai trazer sustentabilidade ao agronegócio do milho, aumentando a competitividade do milho no mercado mundial, porque vai oferecer um produto de qualidade a um preço baixo. " Se o Brasil conseguir através de tecnologias de longo prazo diminuir os riscos do produto, os resultados virão certamente", conclui.


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