O
desempenho do complexo soja no ano de 2004, comparativamente
às demais culturas comerciais do país, teve
um resultado que, segundo vários especialistas em mercado
agrícola, entrevistados pela Revista Rural, se enquadra
entre os melhores do agronegócio brasileiro. No entanto,
ao longo desse período o sojicultor viveu sobre uma
verdadeira montanha russa, motivada principalmente, pelas
incertezas no cenário mundial da commoditie. Um primeiro
ponto a ser considerado refere-se aos números da safra
mundial, sobretudo a norte americana, que apontava para uma
colheita recorde do grão. Este fato se confirmado provocaria
forte alteração na relação de
troca entre produtores e o mercado. Além disso, o sojicultor
ainda teve que lidar com a dúvida, se poderia ou não
comercializar sua produção, haja vista, a grande
quantidade de soja transgênica plantada no país.
Se não bastassem todos os problemas políticos
e comerciais, o sojicultor ainda teve que enfrentar uma grande
quantidade de doenças e pragas, que, praticamente,
invadiram as lavouras de soja das principais regiões
produtoras do país. A ferrugem da soja, por exemplo,
está ameaçando, seriamente, a colheita nos estados
do Paraná, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso
do Sul, constituindo mais um obstáculo para a obtenção
dos resultados almejados pela cadeia da soja para 2005. Considerando
todos os fatos relatados, se o Brasil atingir as 60 milhões
de toneladas esperadas para a colheita que já começou
e deve se estender até meados de abril/maio, o setor
faz justiça ao título de alavanca do PIB ( produto
Interno Bruto) do setor primário, com seus sucessivos
superávits na balança comercial do agronegócio.
A safra nacional de soja que nos últimos sete anos
cresceu 117,3 %, passando dos 23,87 milhões de toneladas
para atingir na safra atual 51,8 milhões de toneladas,
não foi acompanhada pelo consumo interno que ficou
na casa dos 48,4%. As exportações por seu turno
cresceram 450,15% em igual período, embaladas por altas
cotações que chegaram a picos de R$ 59,00 por
saca de 50Kg, em alguns portos do país. A euforia causada
por essa conjuntura favorável fez muito produtor investir
pesado na ampliação de lavouras, inclusive substituindo
áreas antes utilizadas com pastagens por plantações
de soja. Não que do ponto de vista agronômico
esse seja um fato ruim, mas considerando aspectos comerciais
de produção, a manutenção dos
preços em patamares iguais aos registrados no primeiro
trimestre de 2003, seria a única maneira de pagar os
custos dessa empreitada.
A diversidade de material genético disponível,
fruto de conquistas importantes de órgãos como
a EMBRAPA, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
e empresas de semente no Brasil e no exterior, serviram como
combustível para impulsionar ainda mais essa produção
e marcar sucessivos recordes de produtividade. No começo
do ano quando as estimativas apontavam para mais uma super
safra mundial de 189.120 milhões de toneladas, o mercado
já dava mostras de que os preços não
iriam se sustentar. Mesmo assim, a colheita da safra 2003/04
fechou com um número bastante próximo disso,
188.8 milhões de t. Se considerarmos os problemas causados
pelas secas e doenças endêmicas e/ou fúngicas,
que atacam as lavouras de soja mundo afora, os resultados
foram excepcionais.
Para o engenheiro agrônomo e membro da diretoria do
IEA, Instituto de Economia Agrícola, Nelson Batista
Martin, o período 2004/05, devido esse aumento na demanda
mundial de grãos e à evolução
dos preços de produtos como aço e petróleo
que tem incidência direta nos custos operacionais, deve
apresentar um incremento significativo nos preços dos
principais insumos utilizados na produção de
soja. Segundo ele, no Brasil nos anos de 2003, 2004, o aumento
no preço de fertilizantes, defensivos e sementes, isso
sem falar do complexo máquinas e implementos foi de
mais de 50%, em dólar. Com isso os custos de produção
saltaram dos tradicionais US$ 350/ha para mais de US$ 500/ha,
previsto para a safra que começa a ser colhida. No
entanto, no mercado interno, os preços médios
pagos em São Paulo pela saca de 50Kg de soja, entre
agosto e novembro do ano passado, foi R$ 33,25 e R$ 31,60,
respectivamente. Já no estado do Paraná a média
de preços pagos fechou dezembro na casa do R$ 37,00
pela saca de 50Kg. Na variação dos preços
das commodities nos diferentes mercados futuros, contratos
de segunda posição, dezembro de 2004 e ano 2004,
na bolsa de Chicago, por exemplo, a soja sofreu um declínio
de - 0,48% em trinta dias e no acumulado dos doze meses -
30,21%.
De acordo com o pesquisador do IEA, a partir do segundo semestre
de 2004, o impacto causado pelo avanço na colheita
da safra norte-americana, resultou em estimativas pouco otimistas
para os sojicultores brasileiros. Com uma produção
de 73,2 milhões de toneladas do grão e aumento
de 1,35%, a oferta mundial ficou superaquecida o que já
está freando os preços nas principais bolsa
do mundo. Para ele, este fato resulta em impactos negativos
inclusive nas cotações do mercado futuro da
soja. O ano de 2005/06 vai ser um período de ajustes
nos estoques mundiais na opinião do especialista. No
primeiro semestre de 2005, as cotações das principais
commodities agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado
internacional devem se comportar de forma semelhante à
tendência observada no segundo semestre de 2004.
Tanto as exportações brasileiras de grãos
e fibras quanto as receitas dos agricultores, que estão
enfrentando custos crescentes, serão afetadas pela
continuidade da valorização do real e pelas
dificuldades de alocação de recursos financeiros
por parte do Ministério da Agricultura para dar suporte
ao plano de safra 2004/05, enfatiza o diretor do IEA. Com
uma demanda estimada em R$ 3,00 bilhões para esticar
a comercialização da safra em 2005, o governo
aprovou no orçamento para o ano apenas R$ 11.800,00.
"A decisão do Congresso Nacional, de dar apoio
de menos de doze mil reais ao agronegócio brasileiro
em 2005, indica, por um lado, a baixa prioridade dada pelo
Governo Federal às necessidades do setor e, por outro,
que este ano agrícola vai ser um teste importante para
se avaliar a sua competitividade em uma conjuntura menos favorável",
declara.
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