O
ano de 2004 marcou uma nova era para o segmento de produção
de leite e derivados no Brasil. Em grande parte, esse movimento
de mudança, que teve início no começo
do ano, foi marcado por uma postura bem mais austera por parte
dos agentes que compõem a cadeia produtiva e do governo
federal, que passou a coibir ações que oneravam
o setor, causando prejuízos, tanto ao produtor quanto
a indústria de derivados lácteos. Com uma produção
de 22,5 bilhões de litros, número próximo
à obtida em 2003, a novidade ficou por conta das exportações
de derivados lácteos como, leite condensado e leite
em pó. Segundo dados da CNPL, Comissão Nacional
da Pecuária de Leite e da CNA, Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil, no levantamento
realizado até dezembro de 2004, os resultados somaram
exportações de US$ 57,5 milhões e importações
de US$ 61,6 milhões, gerando saldo negativo de apenas
US$ 4 milhões. Em igual período de 2003 esse
déficit era de algo em torno de US$ 57 milhões
com tendência total de importação para
o setor.
Só para se ter uma idéia da evolução
que os números do setor apresentaram em 2004, comparando
os resultados da balança comercial do mês de
setembro com a do ano anterior o superávit registrado
foi de US$ 820 mil de uma ano para outro. Isso é resultado
de uma exportação que marcou alta de 106% no
período e importação em queda de 27,6%.
Em valores, somente ao o longo dos trinta dias do mês,
o Brasil reuniu um acumulado de US$ 8,046 milhões,
resultados de uma remessa de 6,4 mil toneladas para países
como Venezuela, Senegal e Argélia entre outros. Já
o mercado interno de lácteos encontra-se com o seguinte
perfil de produtos e respectivas participações:
44% de leite longa vida, 15% leite pasteurizado e 19% leite
em pó. O maior centro consumidor se concentra no Estado
de São Paulo, onde o consumo é superior a 60%
da produção nacional, tendo assim uma grande
concentração nas Regiões Sudeste e Sul
do País, segundo dados do Ibope, IBGE e CNA.
O aumento da participação brasileira frente
à outros mercados se deu após importantes vitórias
no âmbito da OMC e órgãos de direto internacional.
Uma dessas conquistas foi a comprovação num
processo de direito, que as grandes nações exportadoras
praticavam o "Dumping", (produtos vendidos no mercado
brasileiro com valores abaixo do seu custo real de produção).
Através da cobrança de sobretaxas e acordos
de preços mínimo para esses produtos, o governo
conseguiu freiar o ímpeto desses países, melhorando
automaticamente sua participação e marcando
um superávit histórico para o setor nas exportações
de derivados lácteos, enfatiza Jorge Rubez Presidente
da Leite Brasil.
Segundo Rubez é preciso defender o mercado interno,
não deixando entrar no Brasil leite subsidiado ou com
preços resultantes de 'dumping'. "Esse trabalho
que foi iniciado há alguns anos, já mostra vitórias
importantes, chegando, inclusive, a confirmação
de um acordo com o Mercosul e parte da União Européia.
Tudo isso para poder provar que continua havendo 'dumping'
no País. Outro ponto importante é o trabalho
que a entidade faz em conjunto com a Câmara Setorial
Federal para criar uma nova política de longo prazo
para o setor de leiteiro, conclui o presidente da entidade.
Já para o superintendente da Láctea Brasil,
Associação Para o Progresso do Agro-Negócio
Lácteo, Wiliam Tabchoury, o crescimento do setor se
deve a uma série de fatores positivos, que contribuíram,
conjuntamente, para os resultados expressivos no ano que passou.
Segundo ele, no campo operacional, a melhora na relação
de troca dentro do processo produtivo foi um fator preponderante.
Motivada por seguidas baixas na cotação das
principais commodities que servem de volumoso para o arraçoamento
do gado, esse movimento provocou quedas entre 15% e 20% nos
custos de dieta dos animais. Dada a importância que
esse item tem nos custos totais de uma fazenda leiteira que
pode chegar a 50%, o custo real de produção
do leite sofreu retração entre 7% e 10¨%",
enfatiza o superintendente.
O marketing institucional educativo praticado pelas empresa
e entidades envolvidas com a cadeia produtiva do leite no
Brasil, também foi um ponto positivo, segundo o representante
da Láctea Brasil. Foram inúmeras as ações
de fomento ao consumo de leite, entre os diferentes públicos,
durante o ano de 2004. Merece destaque a campanha "Caminho
do Leite" desenvolvida pela Láctea Brasil em parceria
com empresa privadas e que consiste em utilizar as feiras
e exposições do segmento lácteo para
aplicação de um trabalho pedagógico que
visa, entre outras coisas, ensinar o público leigo
sobre os benefícios do consumo regular de leite e derivados
para a saúde. Dados da FAO, Organização
das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação
e da OMS, Organização Mundial da Saúde,
apontam que o consumo de leite ideal deve girar entre 170
litros, para o produto in natura e 250 litros, em equivalente
produto, por habitante/ano.
No entanto, o consumo "per capita" brasileiro que
hoje é de apenas 36 litros de leite in natura e cerca
de 136 litros de equivalente produto, em média, está
muito a quem do que recomendam os órgãos internacionais
de saúde e bem estar humano. De acordo com o representante
da Láctea Brasil, a queda na renda dos brasileiros
é a principal razão desse índice se manter
inalterado, sofrendo alterações negativas em
alguns momentos. Segundo ele, existem pesquisas que mostram
que em alguns casos em alguns casos a baixa ingestão
de leite ao longo da vida de um indivíduo pode representar
um consumo até 23,53% menor da considerada ideal, ressalta.
Por decorrência desse fato é que os números
da OMS mostram crescimento nas doenças que afetam a
estrutura óssea em pessoas da terceira idade.
Tabchoury enfatiza ainda que, ao invés do governo federal
criar programas que combatam unicamente a fome no país
( Fome Zero), deveria criar um programa de melhoria da qualidade
da alimentação o, (Nutrição 10),
por exemplo. Segundo ele, esse programa serviria para incentivar
as pessoas a consumirem produtos com maior valor nutricional
agregado. A rede de fast-food MacDonald's lançou uma
campanha em nível mundial, onde pretende inserir no
cardápio das lanchonetes franqueadas pelo grupo, produtos
como sucos naturais e leite para substituir o habitual refrigerante.
De acordo inúmeros representantes da cadeia láctea
entrevistados pela Revista Rural, ações dessa
natureza merecem especial destaque e podem contar com o apoio
dos representantes do setor no país.
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