A
produção de soja no Brasil tem aumentado acentuadamente
nos últimos anos. O alto valor comercial desta leguminosa
rica em proteínas é ditado, sobretudo, pelo
aumento do consumo na alimentação humana e animal
em todo o mundo. No entanto, apesar das tecnologias modernas
utilizadas durante as etapas de produção, a
fase de colheita apresenta índices de perdas praticamente
inalteráveis desde o início do século
passado (1927). Dados do CPNSO, Centro Nacional de Pesquisa
de Soja, de Londrina Paraná, da safra 2002/03, as perdas
médias de grãos durante a colheita de soja,
situaram-se na faixa de 2,0 sacas/ha, proporcionando prejuízos
superiores a 570 milhões de reais, quando o USDA, Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos, considera razoável
perdas que não ultrapassem uma saca/hectare.
Prejuízos
Econômicos para Economia do Brasil
As
perdas que se verificam na cadeia produtiva da soja são
conhecidas e preocupantes, por sua repercussão econômica,.
As fases de produção, colheita, transporte,
pré-processamento, armazenamento, processamento, comercialização
e consumo apresentam diferentes níveis de perdas cujo
volume pode alcançar, em uma única safra 23%
da produção total estimada. Por sua vez, a etapa
referente a colheita de soja mostra números alarmantes.
Segundo dados estimados, nas últimas três safras,
essas perdas ficaram situada ao redor de 2 sacas/ha/ano ao
nível nacional, resultando em redução
de 6% da produção, fato este que proporcionou
prejuízos superiores a R$ 2 bilhões à
cadeia da soja no país.
Sabe-se que os desperdícios no decorrer da colheita
da soja são uma realidade para a maioria dos produtores
brasileiros, sendo que, a má regulagem das colhedoras,
velocidade incorreta, a utilização de máquinas
alugadas, falta de treinamentos dos operadores das colhedoras,
manejo deficiente das lavouras de soja, são os fatores
que mais têm contribuído para a elevação
dessas perdas, explica Nelton Pereira da Costa, Coordenador
do Programa de Redução nos Desperdícios
da Cultura da Soja no Brasil. Segundo o pesquisador do CNPSO,
Centro Nacional de Pesquisa da Soja, vários trabalhos
conduzidos pela Embrapa Soja e Emater no Paraná, indicam
que mais de 80% das perdas são atribuídas ao
mau funcionamento da plataforma de corte das máquinas
e da inadequação da velocidade de avanço
com relação a velocidade do molinete; 13%, podem
ser atribuídas a falta de ajustes dos mecanismos internos
da colhedora, ficando apenas "3%" das perdas, por
responsabilidade da debulha natural das vagens de soja.
Fatores
que prejudicam a colheita da Soja
A colheita constitui uma importante etapa no processo produtivo
da soja, principalmente pelos riscos a que está sujeita
a lavoura destinada ao consumo ou à produção
de sementes. A colheita deve ser iniciada tão logo
a soja atinja o estádio R8 (ponto de colheita de campo)
a fim de evitar perdas na qualidade do produto. Para tanto,
o agricultor deve estar preparado, com antecedência,
com suas máquinas, armazéns, etc., pois, uma
vez atingida a maturação de campo, a tendência
é a deterioração dos grãos e debulha
em intensidade proporcional ao tempo em que a soja permanecer
no campo. Durante o processo de colheita é normal que
ocorram algumas perdas. Porém, é necessário
que estas sempre sejam reduzidas a um mínimo para que
o lucro seja maior. Para reduzir perdas, é necessário
que se conheçam as suas causas, sejam elas física
ou fisiológica. A seguir, são abordados algumas
das principais causas de perdas na colheita.
O pesquisador do CNPSO enumera alguns ponto que para ele são
determinantes entre um bom ou mal resultado na colheita da
soja. O Solo mal preparado pode causar prejuízos na
colheita, devido a desníveis no terreno que provocam
oscilações na barra de corte da colhedora, fazendo
com que haja corte desuniforme e muitas vagens deixem de ser
colhidas. A presença de paus e/ou pedras podem danificar
a barra de corte, atrasando a colheita. A quebra de facas
da barra de corte prejudica o funcionamento desta, deixando
muitas plantas sem serem cortadas.
Além do fator máquina, a semeadura em época
pouca indicada pode acarretar baixa estatura das plantas e
baixa inserção das primeiras vagens. O espaçamento
e/ou densidade de semeadura inadequada também podem
reduzir o porte ou aumentar o acamamento das plantas. O uso
de cultivares mal adaptadas a determinadas regiões,
pode prejudicar o bom desenvolvimento da colheita, interferindo
em características como altura de inserção
de vagens e índice de acamamento. A presença
de plantas daninhas faz com que a umidade permaneça
alta por muito tempo, prejudicando o bom funcionamento da
colhedora e exigindo maior velocidade no cilindro de trilha,
resultando em maior dano mecânico às sementes
e, ainda, facilitando maior incidência de fungos. Desta
forma, o pesquisador alerta para a importância de se
diminuir a velocidade do cilindro de trilha em situações
de lavouras infestadas.
Em lavouras destinadas à produção de
sementes, muitas vezes, a espera de menores teores de umidade
para efetuar a colheita, pode provocar a deterioração
das sementes pela ocorrência de chuvas e conseqüente
elevação da incidência de patógenos,
alerta Costa. Para ele, quando isso ocorre em lavouras destinadas
a produção de grãos, o problema não
é menos grave, pois a deiscência de vagens pode
ser aumentada, havendo casos de reduções acentuadas
na qualidade do produto. "A soja, quando colhida com
teor de umidade entre 13% e 15%, tem minimizados os problemas
de danos mecânicos e redução das perdas
durante a fase de colheita. Sementes colhidas com teor de
umidade superior a 15% estão sujeitas a maior incidência
de danos mecânicos latentes e, quando colhidas com teor
abaixo de 12%, estão suscetíveis ao dano mecânico
imediato", diz.
Outro problema bastante comum está relacionado a má
regulagem e condução da lavoura. Este é
o ponto principal do problema de perdas na colheita. O trabalho
harmônico entre o molinete, barra de corte, velocidade
de avanço, cilindro e peneiras, é fundamental
para uma colheita eficiente, com o mínimo de desperdício.
O técnico explica que o molinete tem a função
de recolher as plantas sobre a plataforma à medida
que são cortadas pela barra de corte. Sua posição
deve atender a um melhor recolhimento do material cortado,
não deixando que plantas cortadas caíam fora
da plataforma e também não deixando de recolher
plantas acamadas. A velocidade deve ser ligeiramente superior
a velocidade de deslocamento da máquina. A barra de
corte deve trabalhar o mais próximo possível
do solo, visando deixar o mínimo de vagens presas nos
restos da cultura que permanecem na lavoura. A velocidade
de deslocamento da colhedora deve ser sincronizada com a velocidade
das lâminas e do molinete e deve ser de 5 a 6 km/hora,
porém, devem ser considerados os casos, individualmente.
Em lavoura com qualquer tipo de problema (desnível
no solo, presença de plantas daninhas, maturação
desuniforme, acamamento, baixa inserção de vagens,
etc.), o cuidado deve ser redobrado. No cilindro de trilha
as perdas não são muito grandes, porém,
quando a lavoura é para semente, a velocidade é
fator importante para reduzir perdas por dano mecânico.
Nesse caso, é necessário que se regule a velocidade
do cilindro duas vezes ao longo do dia de colheita, uma vez
que a umidade da semente é reduzida nas horas mais
quentes e as sementes podem sofrer maiores danos. A faixa
de umidade das sementes, em que a ocorrência de danos
mecânicos é mínima, vai de 13 a 15%. Além
disso, para que o índice de danos mecânicos não
seja muito elevado, a velocidade do cilindro de trilha não
deve ultrapassar 500 a 600 rpm. Velocidades muito altas do
cilindro podem provocar a fragmentação das sementes
até níveis de 25 a 30%, o que se constitui em
perda grave. Associada à velocidade do cilindro está
a abertura do côncavo que pode reduzir a quebra de grãos
ou sementes.
Como evitar as perdas
Para
que as perdas sejam mínimas, ajustes rigorosos da colhedora
devem ser observados, durante a etapa de colheita. É
fundamental que o produtor troque as navalhas quebradas, alinhe
os dedos das contra-navalhas substituindo os que estão
quebrados e ajuste as folgas da barra de corte. A folga entre
uma navalha e a guia da barra de corte é de, aproximadamente,
0,5mm. A folga entre as placas de desgaste e a régua
da barra de corte é de 0,6mm; Outra medida é
que o operador da colhedora mantenha a barra de corte o mais
próximo possível do solo. Este cuidado é
dispensável na utilização de colhedoras
com plataformas flexíveis que, automaticamente, controlam
a altura de corte.
A velocidade de trabalho entre 5 a 6 km/hora é importante
pois, a maioria das combinadas possui uma velocidade padrão
da barra de corte correspondendo, em movimento retilíneo
contínuo, a 4,8 km/hora. Portanto, velocidades superiores
a esses valores tenderão a causar maiores perdas devido
ao impacto extra e à raspagem da haste, com possível
arranquio de vagens, antes do corte. Para determinar a velocidade
da colhedora, de forma prática, conte o número
de passos largos (cerca de 90 cm) tomados em 20 segundos,
caminhando na mesma velocidade e ao lado da máquina.
Multiplique o número encontrado por 0,16, para obter
a velocidade em km/hora, ensina o Costa. A utilização
da velocidade do molinete cerca de 25% superior à velocidade
da máquina colhedora também é recomendada.
Para ajustar a velocidade ideal faça uma marca em um
dos pontos de acoplamento dos travessões na lateral
do molinete e regule a velocidade do mesmo para cerca de 9,5
voltas em 20 segundos (molinetes com 1m a 1,2 m de diâmetro)
e para cerca de 10,5 voltas em 20 segundos (molinetes com
90 cm de diâmetro). Outra forma prática de ajustar
a velocidade ideal do molinete é pela observação
da ação do mesmo. Caminhando-se ao lado da colhedora,
a velocidade ideal é obtida quando o molinete toca
suavemente e inclina a planta ligeiramente sobre a plataforma
antes da mesma ser cortada pela barra de corte;
A projeção do eixo do molinete deve ficar de
15 a 30 cm à frente da barra de corte e a altura do
molinete deve permitir que os travessões com os pentes
toquem na metade superior da planta, preferencialmente no
terço superior, quando a uniformidade da lavoura assim
o permitir. Desta forma, o impacto dos travessões contra
as plantas será mais suave e evitará o tombamento
das plantas para frente da colhedora no momento do corte das
plantas. Confira e/ou ajuste as folgas entre o cilindro trilhador
e o côncavo. Feito isso, o operador deve regular as
aberturas anterior e posterior entre o cilindro e o côncavo,
que devem ser as maiores possíveis, evitando danos
às sementes, mas permitindo a trilha satisfatória
das plantas colhidas. Ajuste a velocidade do cilindro trilhador,
que deve ser a menor possível, evitando danos mecânicos
às sementes, mas permitindo a trilha normal do material
colhido.
As medidas de limpeza do equipamento como a desimpedida e
a grelha do côncavo ajudam diminuir a manutenção.
Além disso, é importante manter o bandejão
limpo, evitando o nivelamento da sua superfície pela
criação de crosta formada pela umidade e por
fragmentos da poeira, de palha e de sementes. Ajuste a abertura
das peneiras. A superior deve permitir a passagem dos grãos
ou pedaços de vagens. A abertura da peneira inferior
deve ser um pouco menor do que à da peneira superior
permitindo apenas a passagem dos grãos. A abertura
da extensão da peneira superior deve ser um pouco maior
do que a abertura da peneira superior, permitindo a passagem
de vagens inteiras; e Ajuste a velocidade do ventilador. A
velocidade deve ser suficiente para soprar a palha miúda
e todo material estranho mais leve do que as sementes e que
estão misturados às mesmas.
Tecnologias
que ajundam
Durante mais de 20 anos, o Brasil economizou a expressiva
quantia de R$ 4,5 bilhões de reais com o programa de
Prevenção e Redução de perdas
na colheita de soja. Mesmo com essa economia, proporcionada
com o programa, o país ainda perdeu quantia similar
à economizada com as perdas, que geralmente ocorrem
acima do limite tolerável (uma saca por hectare), segundo
os dados da Embrapa Soja e EMATER/PR. Essas perdas poderiam
ser evitadas se os cursos de capacitação de
mão de obra tivessem chegado a todos os produtores
de soja. Apesar de sermos o segundo produtor mundial de soja
e dispor de tecnologia avançada de avaliação
das perdas, através do copo volumétrico e manual
do produtor, ainda há muitos produtores que desconhecem
a referida metodologia, e por conseguinte não avaliam
as perdas na hora da colheita, observa o pesquisador do CNPSO.
Segundo ele, todavia, na safra 2003/2004, as perdas verificadas
durante a cadeia produtiva da soja, para a maioria das regiões
produtoras, ficaram situadas em termos médios na faixa
de 2,0 sacas por hectare.
O estado do Paraná apresentou contribuição
expressa de redução de desperdícios no
quadro geral de estimativa dessa média (1,1 sacas/ha).
Deve-se enfatizar que o trabalho desenvolvido pela EMATER/PR
e Embrapa Soja, durante a 1998/2004, tem contribuído
de maneira significativa para a redução de perdas
de grãos de soja no Paraná e no Brasil. Levando
em conta a área plantada de soja de 21 milhões
hectares na última safra, e considerando-se uma estimativa
média de perdas durante a colheita de 2,0 sacas/ha,
pode-se projetar que o Brasil, poderá deixar nos solos
brasileiros onde se cultiva a soja, aproximadamente 42 milhões
de sacas de soja, o que equivale a 2.5 milhões de toneladas,
o que corresponde, a R$ 2.058.892 bilhões de reais
sendo que este valor eqüivale a aquisição
de bens e serviços. Se consideramos que esse valor
seria suficiente para adquirir 8.236 colhedoras (R$ 250.000),
19.608 tratores (R$ 105.000), manter 612.765 crianças
em escolas particulares de 1º grau pelo período
de um ano ( R$ 280/mês x 12); 7) é preciso uma
atenção especial das pessoas envolvidas na cadeia.
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