A
safra de cana-de-açúcar exercício 2004/05,
considerando as principais regiões produtoras do país,
transcorreu dentro de um ambiente de relativa normalidade.
Apesar de algumas adversidades climáticas que atrasaram
o início da colheita na região Centro-Sul, a
produção de cana, açúcar e álcool
não foi comprometida de modo que foi possível
atender aos mercados interno e externo sem maiores problemas
de abastecimento. O período fechou com números
próximos aos projetados pelas entidades e órgãos
de pesquisa agrícola no início do ano. Dados
da Unica, União da Agroindústria Canavieira
de São Paulo, mostram que no balanço realizado
até novembro, as usinas processaram o equivalente a
327,14 milhões de toneladas de cana, valor 9,27% acima
da safra anterior.
O volume projetado de ATR (açúcar contido na
cana) em março de 47,5 milhões por tonelada
colhida, ficou bastante próximo dos números
computados no pós colheita de 47,2 milhões.
Percentualmente, isso representa uma concentração
de 50,93% de ATR (sacarose) na cana colhida. Segundo Eduardo
Pereira de Carvalho, presidente da entidade que representa
o setor canavieiro, esse é uma fato fundamentalmente
importante pois, safra com ATR baixo é sinônimo
de safra mais cara para o produtor. A média de 144,5
quilos de ATR por tonelada de cana colhida foi considerada
como muito boa pelo líder da Unica, apesar desse número
ter ficado abaixo dos projetados para o período. "Esse
foi o motivo que determinou a tendência dessa ter sido
uma safra mais açucareira até o final do mês
de setembro, com 72% do período transcorrido"
observa.
A partir de outubro, no entanto, o mercado passou a apontar
para um excesso de demanda de açúcar, o que
obrigou as usinas a optar por uma mudança no perfil
de safra, explica Antônio de Padua Rodrigues diretor
técnico da Unica. Esse fato aliado a mudanças
no volume de chuvas de algumas regiões levaram os usineiros
a intensificar a produção de álcool.
"Essa reversão de mix significou uma produção
adicional de 600 milhões de litros numa demonstração
da responsabilidade do setor privado em garantir o abastecimento
do mercado de álcool". ressalta o técnico.
De acordo com diretor da Unica, no desenvolvimento global
da safra 2004/05 é importante registrar que as condições
climáticas foram desfavoráveis para a colheita
nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso
do Sul, que representam mais de 90% da produção
do país, e isso, até meados de junho 2004. A
partir da segunda quinzena, entretanto, iniciou-se um movimento
de recuperação e no final de outubro as usinas
alcançaram a moagem da safra anterior. Apesar do aumento
na capacidade de moagem verificada de 8%, a safra foi mais
longa que a anterior ( na média 24 dias), em função
do menor aproveitamento de tempo, relembra o diretor da Unica.
A partir desse volume de matéria-prima, os números
do setor sucroalcooleiro, mostram uma produção
de 22,5 milhões de toneladas de açúcar
e 13,54 bilhões de litros de álcool com crescimento
de 7,8 e 3,6 respectivamente.
Vendas em alta
No que se refere à comercialização,
os produtos derivados da moagem de cana-de-açúcar
marcaram números históricos em 2004, inclusive
conquistando novos mercados. No caso do açúcar
a crescente demanda doméstica e internacional e os
estoques mundiais nos níveis mais baixos dos últimos
anos, ajudaram a manter os preços por um período
mais longo do que o previsto. De acordo com os indicadores
econômicos CEPEA/ESALQ, os preços do açúcar
cristal nas principais praças, marcaram pouca oscilação.
Nos contratos fechados em dólar, o mercado foi bastante
linear com cotações médias em torno dos
US$ 13,00/ saca de 50Kg. Já nos acordos firmados na
moeda brasileira, os preços sofreram oscilações
maiores, encerrando o período com um preço médio
de R$ 31,00/ saca de 50 Kg, isso nos principais pontos de
venda do país.
Já para os preços do álcool carburante,
auferidos quinzenalmente no estado de São Paulo, de
janeiro de 2003 a dezembro de 2004, a linha do gráfico
mostra uma oscilação bem mais acentuada, tanto
para alta quanto para queda nos preços da commoditie.
O estado com o maior consumo de álcool "per capita"
do país, para fins carburantes, mostrou quedas de preços
vertiginosas em alguns momentos, exemplo os meses de fevereiro
e março de 2004. Na ocasião, o álcool
anidro, estava cotado ao patamar de R$ 390,00/m³, número
bem abaixo dos preços praticados no mês de dezembro
do mesmo ano de R$ 710,00.
Segundo Nelson Batista Martin, técnico do IEA Instituto
de Economia Agrícola, órgão da Secretária
da Agricultura do Estado de São Paulo, em se tratando
de uma commoditie agrícola que tem seu preço
reajustado pelo mercado na lei da oferta e procura, é
perfeitamente normal que ocorram oscilações
de preço, no entanto, cabe ao setor se mobilizar em
momentos de baixa acentuada para reverter a situação.
A recuperação dos preços no caso do álcool
ocorreu a partir dos mês de abril quando as cotações
ainda se mantinham em patamares considerados baixos pelos
analistas. A recuperação foi contínua
o que proporcionou para o setor fechar o ano com contratos
sendo fechados com números na casa dos R$ 950,00/m³
no caso do álcool anidro e R$ 800,00/m³ do álcool
hidratado patamar mais altos dos últimos dois anos
para o setor.
Expotações mostram a
força do setor
No campo das exportações, menina dos olhos do
agronegócio brasileiro, as vendas de açúcar
em volume sofreram um incremento de 800 mil toneladas em apenas
dois anos. Isso na prática significa uma exportação
da região Centro-Sul de 13,6 milhões de toneladas.
No cômputo nacional, até novembro de 2004, o
país exportou algo em torno de 16 milhões de
toneladas de açúcar para os mercados da Índia,
Europa e EUA. Entre os meses de julho, agosto e setembro,
quando, historicamente, ocorre o pico de maturação
no ciclo da cana-de-açúcar e a concentração
de ATR atinge níveis altíssimos; as usinas aproveitaram
o bom momento do mercado para intensificar sua produção.
Durante esse período o volume quinzenal de açúcar
em média produzido na região Centro-Sul foi
de 2 milhões de toneladas, ritmo que se estendeu por
mais de três meses.
No caso do álcool, o crescimento foi devido uma forte
demanda doméstica, causada pelo aumento nas vendas
dos veículos bi-combustíveis no país
e como consequência do grande diferencial de preços
entre álcool e gasolina. Segundo o presidente da Unica,
a tendência pela utilização de álcool
carburante no mundo é crescente e irreversível.
Inúmeros países estão aderindo a mistura
do etanol à gasolina com índices que chegam
até 10%. No Brasil esse percentual é hoje de
25%, número que outros países como a India já
cogitam a possibilidade de igualar. As exportações
de álcool atingiram 1,4 milhões de litros na
região Centro- Sul, com embarques previstos no período
de janeiro a abril de 2005 de 0,25 bilhão de litros.
No âmbito nacional, considerando as demais regiões
produtoras, esse volume, não contabilizados os números
de dezembro, atingiram o patamar histórico de 2,4 bilhões
de litros. Os principais destinos do álcool brasileiro
são os EUA e Caribe num total de 592.671, sendo 406.373
mil e 186.298mil, respectivamente. A Índia outros potencial
comprador absorveu 400.936 mil litros. Dados da Unica dão
conta que pelo porto de Rotterdan, HOL, entraram 207.152 mil
litros, tendo como destino final para esse álcool o
mercado sueco. A Nigéria e a Coréia compraram
pouco mais de 100 milhões de litros. Outros mercados
absorveram 560 milhões de litros de álcool,
o que ajudou elevar o montante das exportações.
Desse volume 70% foi de álcool hidratado e 30% anidro.
As premissas para a safra 2005/06, são de manutenção
das exportações de álcool; aumento de
demanda no mercado interno e recomposição dos
estoques de álcool, com produção adicional
de 1,5 bilhão de litros. Quanto a produção
são esperadas chuvas próximas á média
histórica para a região Centro-Sul, podendo
sofrer alterações e temperatura variando de
normal à acima da média histórica para
o período. Para o Presidente da Unica qualquer previsão
antecipada quanto a alguma modificação no quadro
atual é mero chute e, portanto, não deve ser
considerada. "A formação da safra 2005/06
começa a se definir a partir dos meses de março,
abril, quando em tese os canaviais já estarão
formados e daí em diante o nível de chuva é
que vai determinar o perfil de safra mais para o açúcar
ou álcool", conclui.
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