A
cotonicultura brasileira iniciou 2004 com muita expectativa
quanto à confirmação da super safra de
1,2 milhão de toneladas de algodão, fato este
que colocaria o Brasil entre os dez maiores produtores mundiais
da fibra. Isso não só se confirmou, como o país
ampliou para 360 mil toneladas sua participação
nas exportações mundiais e passou a disputar
mercado com tradicionais grandes produtores. O início
da queda nos estoques internacionais, desencadeou um processo
de retração nas reservas do algodão em
pluma de grandes produtores de 9,97 milhões de toneladas
em 1996/97 para algo em torno de 7 milhões t. em 2002
e 2003, coincidindo com o início da colheita brasileira.
Dados do indicador Esalq/USP para o período, mostram
que, do volume colhido na safra passada, aproximadamente 450
mil toneladas já estavam comercializadas com o mercado
externo e outras 200 mil toneladas com compradores nacionais,
ou seja, antes mesmo da colheita, mais de 50% da safra de
algodão já estava vendida para entrega nos meses
de julho e agosto de 2004.
O aumento na disparidade entre produção e consumo
da fibra de algodão no âmbito mundial, problema
que, ainda hoje a cadeia produtiva está buscando equacionar,
ao mesmo tempo que preocupa causa euforia nos produtores nacionais
que estão prontos para ampliar sua participação
no comércio mundial. As recentes vitórias da
diplomacia brasileira na OMC, Organização Mundial
do Comércio, contra os Estados Unidos que praticam
deliberadamente políticas de incentivos e subsídios
à produção, serviu como estímulo
para que está cultura aumenta-se sensivelmente sua
projeções para 2005. Os números dão
conta de um aumento da ordem de 6% no volume colhido, passando
para 1.335 milhão de toneladas com exportações
chegando na casa das 440 mil t, segunda dos da ANEA.
Quanto as perspectivas de mercado não se pode desconsiderar
que quatro países deverão responder na safra
2004/05, por mais de dois terços da produção
mundial de algodão. A República da China participará
com 6,5 milhões de toneladas, Estados Unidos perto
de 4 milhões de toneladas, Índia 2,7 milhões
de t. e Paquistão 1,8 milhão de toneladas. O
restante da produção estará distribuído
em mais de cinquenta países com destaque para Brasil,
Uzbequistão e Turquia, que devem apresentar juntos
produção de 3,3 milhão de toneladas.
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA),
mostram que na próxima safra mundial de algodão,
a produção deve atingir 87,41 milhões
de fardos, valor 0,8% inferior em relação à
previsão de novembro e 11,12% menos em comparação
à safra passada, quando foram colhidos 98,35 milhões
de fardos. O governo norte-americano reduziu em 2,5% a perspectiva
de produção de algodão neste ano, como
reflexo de prejuízos registrados em lavouras do Texas,
do Mississippi e Georgia, importantes estados produtores por
conta do clima adverso com excesso de chuvas e de ventos.
Segundo o USDA, a previsão é de que a colheita
atinja 17,38 milhões de fardos, em relação
à previsão de novembro que indicava colheita
de 17,82 milhões de fardos. Em relação
ao ano passado, quando a produção totalizou
20,3 milhões de fardos, a queda atinge 14,4%. A produção
da Índia foi revista para cima, com alta de 2,7%, para
11,2 milhões de fardos, em relação aos
10,9 milhões de fardos previstos em novembro. Para
o Paquistão, o USDA manteve a previsão de 7,8
milhões de fardos.
Apesar de todas as ameaças ao desenvolvimento da produção
e exportação da fibra de algodão, o Brasil
tem grande potencial de expandir sua área agrícola
e continuar crescendo na cotonicultura, avalia Nelson Batista
Martin engenheiro agrônomo e pesquisador do IEA, Instituto
de Economia Agrícola. Para Martin, no primeiro semestre
de 2005, as cotações das principais commodities
agrícolas negociadas pelo Brasil no mercado internacional
devem se comportar de forma semelhante à tendência
observada no segundo semestre de 2004. Isto é, a tendência
é de queda nos preços, inclusive do algodão,
situação análoga a vivida pelos grãos
(soja, milho e trigo) que também devem seguir com redução
nos preços nos próximos meses. Nas principais
praças de comércio do país, o valor nominal
pago aos produtores pela @ do algodão em caroço
foi de R$ 21,00 em média, ao longo dos 12 meses. Já
com o algodão beneficiado, os contratos de primeira
entrega negociados em Nova York, mantiveram uma certa estabilidade
nos preços contados a US$ 64,92 centavos/ libra peso.
Nos EUA, o preço no mercado disponível também
se manteve regular, oscilando na casa dos US$ 58,82 centavos/libra
peso.
|