Mas
se em muitos casos, a apresentação do produto
agregou valor e aumentou saída, no caso do leite, em
alguns momentos foi vilã. Em fevereiro deste ano, enquanto
produtores recebiam R$ 0,15 por litro de leite produzido,
o pioneiro e maior fabricante de embalagens para o setor,
a Tetra Pak, recebia R$ 0,35 pela caixinha que acomodava o
produto, ou seja, 130% a mais. A empresa se defende de forma
correta: "o que está errado é a política
de preços praticados na outra ponta". Um litro
de leite longa vida, por exemplo, chega à gôndula,
em média, por R$ 1,20. Logo, ao que tudo indica, que
ganha pouco é o produtor.
Se
a produção de leite na fazenda continua com
problemas, o setor faz sua parte e continua ampliando a oferta
de apresentações ao produto. Além da
embalagem tetra brik - possivelmente a mais sofisticada -,
o envasamento de leite ainda dispões da plástica
e até PET.
Os custos destas últimas ainda são parelhos
com a caixinha, mas podem significar redução
com a ampliação da demanda. Neste processo,
todos devem ganhar, do produtor ao consumidor e inclusive
a Tetra Pak, que também oferece embalagens plásticas
e poderá entrar para os segmentos de PEAD e PET, dependendo
do retorno dos investimentos necessários.
A Tetra Pak detém mais de 90% do mercado da caixinha,
não só para longa vida como também para
bebidas lácteas e achocolatados. A tetra brik é
composta por seis camadas de materiais diferentes, sendo as
duas primeiras, mais internas, de polietileno - um plástico
inerte que evita o contato do produto com as demais camadas.
A outra é de alumínio para evitar a passagem
de luz, que acelera a reação de oxidação
de gordura e vitaminas; de oxigênio, que promove a oxidação
dos componentes; e de microorganismos. Logo em seguida, vem
mais uma de polietileno, que promove a adesão da camada
de alumínio com a quinta camada, que é de papel.
Esta última é quem confere a resistência
à embalagem, além das características
gráficas. Para finalizar, mais uma camada de polietileno.
Sem dúvida o resultado é fantástico,
pois a embalagem é totalmente reciclável, protege
o conteúdo e o mantém longe de qualquer contato
com o meio externo. Mas este ano, a Parmalat lançou
mais um produto, agora se valendo de uma garrafa plástica
para o mesmo longa vida. A inovação não
é tão tímida e já pode ser encontrada
em vários pontos de venda espalhados pelo País.
O mesmo produto chegou na Itália no ano passado e pretende
desfazer as amarras com seu principal fornecedor, a Tetra
Pak. Paulo Rochet, diretor de marketing e desenvolvimento
de negócios da fabricante de embalagens, declarou que
a empresa está preparada para acompanhar as novas tendências
do mercado.
A nova garrafa apresentada pela Parmalat é feita em
três camadas, todas de polietileno de alta densidade
(PEAD): uma interna, branca; outra intermediária preta
e uma terceira, externa, também branca. Desta forma,
a nova embalagem oferece as mesmas garantias que a caixinha
convencional do longa vida, porém, por hora, com os
mesmo custos. O preenchimento dela é automático
e em ambiente estéril; sendo que a garrafa é
fechada por duas tampas: uma de alumínio e outra de
plástico. Esta, aliás, é uma vantagem,
pois dispensa o difícil corte necessário à
caixinha. Mas o grande trunfo fica por conta da possibilidade
de personalizar a garrafa, assim como fizeram as grandes marcas
de refrigerante.
Outra vantagem secundária, mas que pode ganhar força
ao longo do tempo é a reciclagem. Segundo a Tetra Pak,
que despeja 7 bilhões de embalagens multicamadas, por
ano, só no Brasil, apenas 15% é reciclado. Já
a nova apresentação, de resina PEAD, conta com
seu trabalho de reciclagem bem mais facilitado, pois pode
ser reaproveitada na fabricação de baldes, cabides,
frascos de xampus e desodorantes, por exemplo. Mas reaproveitamento
para a fabricação da mesma embalagem, com a
mesma finalidade, nem pensar.
Um estudo acadêmico realizado por Adriana Yamaguishi,
Marisa Hirano e Michelle Shibazaki de Almeida, graduandas
da Escola de Engenharia Mauá (SP), mostra que as embalagens
PET para leite pasteurizado podem ser uma alternativa mais
barata para o setor leiteiro. Elas propõem uma garrafa
de polietileno tereftalato que apresenta propriedades de permeabilidade
intrínseca das resinas (oxigênio, gás
carbônico e vapor d'água), até melhores
que de PEAD. As estudiosas também declaram que os materiais
foram avaliados quanto à proteção, atoxidade,
facilidade de manuseio, atração, economia e
não alteração do sabor de leite. Do ponto
de vista dos consumidores, a viabilidade é boa, segundo
a própria preferência. Os pesquisados apontaram
praticidade e aprovaram o formato.
O resultado mostrou que do ponto de vista tecnológico
e econômico, o uso de PET é viável, já
que não contamina o leite em níveis perceptíveis
de acetaldeído; sendo possível, ainda, adaptar
suas condições de invase a pequenos produtores,
quando estes disporem de oferta terceirizada local de garrafas.
Elas custam mais que o saco PEAD, porém não
requerem investimento em equipamento de envase tipo "form
fill seal". Já, adquirir os equipamentos para
produzir o vasilhame dentro da própria fazenda, praticamente,
inviabilizaria o negócio. De qualquer forma, o leite
em saquinho ainda promete sobreviver muito tempo no Brasil,
principalmente nas regiões mais afastadas dos grandes
centros urbanos.
|