Edições Anteriores
PENSE BEM ANTES DE MONTAR UMA SALA DE ORDENHA
rev 23 outubro 1999

Cada caso é um caso; cada rebanho é um rebanho; cada propriedade é uma propriedade. Pode parecer exagero, mas a correta montagem de uma sala de ordenha exige uma precisão tal que o pecuarista deve responder uma série de perguntas antes de fazer sua escolha. Tudo para reduzir ao máximo os riscos de aprovar custos abusivos e conseguir a melhor otimização dos equipamentos. Nesse sentido, o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, da Universidade de São Paulo (USP/Pirassununga), Luís Fernando Laranja, pontuou alguns aspectos fundamentais para ajudar na tomada de decisão sobre o assunto. De acordo com ele, uma análise de custos de instalação e operação de sistemas de ordenha deve levar em consideração os custos de mão-de-obra, construções e equipamentos. É importante não esquecer dos valores de depreciação e juros sobre o capital.

Numa simulação que dimensionou uma sala espinha de peixe para um rebanho de 100 vacas em lactação, com medida de produção de 20 litros/vaca/dia, considerou um rebanho, Laranja conclui que 9,5% da receita total da venda do leite está comprometida com os custos de instalação e operação do centro de ordenha. No estudo foi considerado os gastos com mão-de-obra, equipamentos, instalações, depreciações, reparos,tempo de uso diário da ordenhadeira e juros. Concentrei no modelo espinha de peixe, pois acredito que é o mais indicado para a realidade brasileira, uma vez que se adapta a diversos tipos de propriedades e rebanhos.

Para ele, o balde ao pé deve ser observado pelo produtor como um equipamento de transição, uma vez que o transporte do leite até o tanque quebra continuidade do trabalho do retireiro e pode colocar em risco a qualidade do leite. No entanto, jamais fecharia as portas para esse sistema, pelo fato de ser melhor e mais higiênico que o manual, prática presente em mais de 85% das propriedades brasileiras.

A grande diferença está na canalização do leite, que conduz o produto ao resfriador. Pela disponibilidade de recursos que grande parte das indústrias oferece ao mercado, Laranja acredita que os valores encontram-se bastante próximos, o que exige pensar a longo prazo. Em seus cálculos, uma sala de, por exemplo, quatro unidades de ordenha tem um custo no sistema balde ao pé de R$ 8.000,00, enquanto que para o leite canalizado sai entre R$ 12.000,00 e 14.000,00. Uma diferença que pode ser paga no decorrer de algum tempo, até mesmo com um dimensionamento exato de seu otimização. Vale dizer que o BNDES, há menos de dois meses, liberou recursos para aquisição de equipamentos de ordenha e tanques resfriados. São R$ 200 milhões, financiados a juros de 8,75% ao ano. Mais um motivo para se dimensionar corretamente as instalações leiteiras, para não esmagar o bolso com o entusiasmo.

Uma das primeiras questões colocadas pelo professor é: Quanto tempo diário de ordenha se pretende desenvolver na fazenda? Muito ou pouco, a resposta alterar todo o cálculo de custos. Numa propriedade familiar, por exemplo, deve-se respeitar a limitação de mão-de-obra, estabilizando o período de ordenha entre duas e duas hora e meia. De forma geral, cada turno não deve passar de quatro horas, pois haverá queda na eficiência.

Para se determinar o tamanho e o modelo da sala de ordenha, Laranja ressalta as variáveis decisivas na escolha: tamanho do rebanho; números de ordenhas/dia; duração do turno de ordenha; mão-de-obra disponível; nível de produção das vacas; mecanização / automação; disponibilidade de recursos; e preferência pessoais.

No que se refere ao sistema carrossel, para começar a compensar os altos investimentos necessários, o professor recomenda somente para plantéis que mantenham acima de 500 vacas em lactação. Com algumas restrições ao próprio funcionamento do modelo, ele ressalta que o sistema paralelo (side-by) atende perfeitamente ás exigências de um grande rebanho.

Atualmente, a coqueluche da Europa são as ordenhas por robô. Trata-se de um sistema voluntário, no qual a própria vaca escolhe o momento de ser ordenhada. Na hora que achar que deve ir para a ordenha, os animal passa por um corredor que faz a higienização do úbere até que a vaca chegue á ordenha propriamente dita.

O sucesso na Europa, que já conta com aproximadamente 300 unidades por robô instaladas, deve-se ao fato das propriedades terem tradição familiar. Os mais jovens não querem dispor seu tempo retirando o leite. Nos Estados Unidos, a tecnologia começou a ser introduzida, mas Laranja acredita que não terá grande êxito, uma vez que os rebanhos são grandes e comerciais. No Brasil, esse sistema demorará, no mínimo, 20 anos para entrar nas propriedades, finaliza.


Edicões de 1999
Volta ao Topo
PROIBIDA A PUBLICAÇÃO DESSE ARTIGO SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO DOS EDITORES