Cada
caso é um caso; cada rebanho é um rebanho; cada
propriedade é uma propriedade. Pode parecer exagero,
mas a correta montagem de uma sala de ordenha exige uma precisão
tal que o pecuarista deve responder uma série de perguntas
antes de fazer sua escolha. Tudo para reduzir ao máximo
os riscos de aprovar custos abusivos e conseguir a melhor
otimização dos equipamentos. Nesse sentido,
o professor da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia, da Universidade de São Paulo (USP/Pirassununga),
Luís Fernando Laranja, pontuou alguns aspectos fundamentais
para ajudar na tomada de decisão sobre o assunto. De
acordo com ele, uma análise de custos de instalação
e operação de sistemas de ordenha deve levar
em consideração os custos de mão-de-obra,
construções e equipamentos. É importante
não esquecer dos valores de depreciação
e juros sobre o capital.
Numa
simulação que dimensionou uma sala espinha de
peixe para um rebanho de 100 vacas em lactação,
com medida de produção de 20 litros/vaca/dia,
considerou um rebanho, Laranja conclui que 9,5% da receita
total da venda do leite está comprometida com os custos
de instalação e operação do centro
de ordenha. No estudo foi considerado os gastos com mão-de-obra,
equipamentos, instalações, depreciações,
reparos,tempo de uso diário da ordenhadeira e juros.
Concentrei no modelo espinha de peixe, pois acredito que é
o mais indicado para a realidade brasileira, uma vez que se
adapta a diversos tipos de propriedades e rebanhos.
Para ele, o balde ao pé deve ser observado pelo produtor
como um equipamento de transição, uma vez que
o transporte do leite até o tanque quebra continuidade
do trabalho do retireiro e pode colocar em risco a qualidade
do leite. No entanto, jamais fecharia as portas para esse
sistema, pelo fato de ser melhor e mais higiênico que
o manual, prática presente em mais de 85% das propriedades
brasileiras.
A grande diferença está na canalização
do leite, que conduz o produto ao resfriador. Pela disponibilidade
de recursos que grande parte das indústrias oferece
ao mercado, Laranja acredita que os valores encontram-se bastante
próximos, o que exige pensar a longo prazo. Em seus
cálculos, uma sala de, por exemplo, quatro unidades
de ordenha tem um custo no sistema balde ao pé de R$
8.000,00, enquanto que para o leite canalizado sai entre R$
12.000,00 e 14.000,00. Uma diferença que pode ser paga
no decorrer de algum tempo, até mesmo com um dimensionamento
exato de seu otimização. Vale dizer que o BNDES,
há menos de dois meses, liberou recursos para aquisição
de equipamentos de ordenha e tanques resfriados. São
R$ 200 milhões, financiados a juros de 8,75% ao ano.
Mais um motivo para se dimensionar corretamente as instalações
leiteiras, para não esmagar o bolso com o entusiasmo.
Uma das primeiras questões colocadas pelo professor
é: Quanto tempo diário de ordenha se pretende
desenvolver na fazenda? Muito ou pouco, a resposta alterar
todo o cálculo de custos. Numa propriedade familiar,
por exemplo, deve-se respeitar a limitação de
mão-de-obra, estabilizando o período de ordenha
entre duas e duas hora e meia. De forma geral, cada turno
não deve passar de quatro horas, pois haverá
queda na eficiência.
Para se determinar o tamanho e o modelo da sala de ordenha,
Laranja ressalta as variáveis decisivas na escolha:
tamanho do rebanho; números de ordenhas/dia; duração
do turno de ordenha; mão-de-obra disponível;
nível de produção das vacas; mecanização
/ automação; disponibilidade de recursos; e
preferência pessoais.
No que se refere ao sistema carrossel, para começar
a compensar os altos investimentos necessários, o professor
recomenda somente para plantéis que mantenham acima
de 500 vacas em lactação. Com algumas restrições
ao próprio funcionamento do modelo, ele ressalta que
o sistema paralelo (side-by) atende perfeitamente ás
exigências de um grande rebanho.
Atualmente, a coqueluche da Europa são as ordenhas
por robô. Trata-se de um sistema voluntário,
no qual a própria vaca escolhe o momento de ser ordenhada.
Na hora que achar que deve ir para a ordenha, os animal passa
por um corredor que faz a higienização do úbere
até que a vaca chegue á ordenha propriamente
dita.
O sucesso na Europa, que já conta com aproximadamente
300 unidades por robô instaladas, deve-se ao fato das
propriedades terem tradição familiar. Os mais
jovens não querem dispor seu tempo retirando o leite.
Nos Estados Unidos, a tecnologia começou a ser introduzida,
mas Laranja acredita que não terá grande êxito,
uma vez que os rebanhos são grandes e comerciais. No
Brasil, esse sistema demorará, no mínimo, 20
anos para entrar nas propriedades, finaliza.
|