A
estação de monta aproxima-se. E entre junho
e outubro, o mercado de inseminação artificial,
com a venda de sêmen, e o de monta natural, com a comercialização
de tourinhos, vão enfrentar-se mais uma vez. A Associação
Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia)
mostra-se confiante e aposta no crescimento de mercado, em
taxas médias entre, 12% e 15%. Já os criadores
não respondem à expectativa para este ano com
consenso.
Dados
do relatório anual da Asbia, referentes a 1998, mostram
que o mercado brasileiro comprou 5.893.343 doses, entre sêmen
importado e nacional. Desse total, 3.079.911, ou 52,27%, correspondem
a sêmen nacional. E 2.813.432 doses, ou 47,73%, a sêmen
importado. Mais: a evolução, em relação
ao ano anterior, foi de 14,4%.
Donário de Almeida, diretor geral da Pecplan
ABS, empresa líder de mercado e que comercializou
1.347.695 doses de sêmen nacional e importado, durante
o ano passado, aposta no mesmo crescimento para este ano.
A empresa manteve 13,24% do mercado em sêmen nacional.
Apesar de ter havido o problema da desvalorização
cambial, o mercado deve manter-se nessa margem assegura.
Há 29 anos no mercado, a Pecplan foi absorvida, no
ano passado, pela ABS, empresa que acumulava experiência
de 58 anos. Hoje, a Pecplan ABS oferece baterias de
sêmen de gado europeu de corte e de leite. Animado Almeida
aposta no crescimento da empresa em torno de 20% neste ano.
E justifica, ao apontar a qualidade do material oferecido
e a rede de vendas, que atua ao longo do país.
Na opinião dele, a eficiência constante, o sucesso
da técnica e o ganho genético garantindo ao
rebanho constituem as grandes armas a favor da inseminação
artificial. Mais: ele compara a redução de custos
para o produtor, se comparado o preço das doses de
sêmen e o preço de um tourinho, além dos
gastos com manutenção do animal ao longo da
vida útil.
A extrema competitividade que atualmente caracteriza o mercado,
aquecido com a entrada recente de empresas estrangeiras, termina
por favorecer o produtor. Almeida garante que a facilidade
em encontrar o produto e assistência técnica
no interior do país, especialmente nos últimos
cinco anos, por exemplo, incrementam o uso da técnica.
A Pecplan ABS acredita poder concentrar suas vendas,
neste ano, especialmente nos Estados de Mato Grosso do Sul,
Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais. Na verdade, a região
Centro Oeste mostra crescimento desde 19994, quando
intensificou o cruzamento industrial nas propriedades. Como
novos produtos, a empresa oferecerá sêmen de
touros Red Angus, com resultados de 80% na prova de DEP (Desempenho
Esperado de Progênie).
Hoje, o produtor é forçado a usar toda
a tecnologia possível, para garantir a produtividade
da propriedade, assegura Almeida. Ainda assim, a inseminação
artificial tem um longo caminho a percorrer, já que
apenas 8% das vacas leiteira e 10% das fêmeas nas raças
de corte. A enorme extensão territorial do Brasil
e o tamanho do rebanho ainda constituem grandes dificuldades,
garante.
Dorival da Cruz, gerente geral da Semex Brasil e presidente
da Asbia, concorda com Almeida sobre os baixos números
brasileiros em relação à inseminação
artificial. E aponta como principais causas a falta de esclarecimento
de parte dos produtores somado à necessidade de fomentar
o trabalho.
A Semex Brasil atua no mercado desde 1995, de forma direta,
e oferece sêmen de raças européia leiteiras
e de corte e também zebuínas. Conforme relatório
da Asbia, referente a 1998, a empresa comercializou 285.677
doses de sêmen importado, o que lhe permitiu 10,15%
do mercado. A perspectiva para este ano é de alcançar
300 mil doses. E manter aproximadamente 10% de crescimento.
Cruz lembra que, em 1996, o sêmen de gado leiteiro liderava
as vendas da empresa. No ano seguinte, a situação
inverteu-se a favor do sêmen de gado de corte, o que
deve repetir-se neste ano. O mercado da Semex é composto
por Paraná, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande
do Sul. Alguns acordos permitirão que a empresa comercialize
também sêmen das raças Nelore, Gir Leiteiro
e Girolanda, ainda este ano. Dessa forma, a empresa
prepara-se para oferecer produtos aptos ao cruzamento industrial,
assegura. A exemplo de Almeida, ele afirma que os mercados
que mais crescem no Brasil são Centro-Oeste, com destaque
para Goiás e Tocantins, Minas Gerais.
Tocantins e Goiás, mais Mato Grosso, Maranhão
e parte da Bahia são apontados por Maurício
José de Lima, gerente do Departamento Comercial da
Lagoa da Serra Holland Genetics, como regiões
emergentes e promissoras para o mercado de sêmen de
gado de corte. A empresa oferece baterias de sêmen de
raças taurinas e zebuínas de corte e de leite.
No mercado desde 1971, a Lagoa da Serra foi adquirida pela
Holland Genetics há um ano e meio.
No relatório da Asbia, referente ao ano passado, a
Lagoa da Serra deteve 7,66% do mercado de sêmen importado,
com a venda de 215.526 doses. E a Holland Genetics que vendeu
98.079 doses, alcançou 3,49% do mercado de sêmen
importado. Já no mercado sêmen nacional, a Lagoa
da Serra obteve 26,85% do mercado, em razão da comercialização
de 827.003 doses. Portanto, a venda total somou 1.140.608
doses.
Lima acredita que o mercado mantenha a média de crescimento
entre 10% e 15%. A empresa, por sua vez, espera vender 1,5
milhão de doses. E aposta no mercado de carne. Ele
explica que hoje o mercado de inseminação esteja
restrito a 7% e 8% das fêmeas de carne. Para o futuro,
que ele considera após 10 anos, esse segmento deve
crescer para entre 10% e 15%, enquanto o de leite alcançará
de 85% a 90%.
A dificuldade com a mão de obra é apontada por
ele, como maior problema a impedir o incremento da inseminação
artificial. Exatamente por isso, a Lagoa da Serra Holland
Genetics mantém uma equipe composta por 60 inseminadores,
que podem ser disponibilizados para as fazendas dos compradores
de sêmen. O ideal para o país seria a formação
de convênios com cooperativas e universidades,
explica ele.
Ainda como tentativa para agilizar o processo de inseminação,
a empresa e o Núcleo de Zootecnia criaram o Gestor
P, pacote de assistência Técnica integral a criadores
de gado de corte. O objetivo da empresa é proporcionar
mais um serviço aos compradores se sêmen, por
um custo a ser especificado, conforme a propriedade.
Alessandro de Caprio, um dos sócios do Núcleo
de Zootecnia, afirma que a idéia consiste em terceirizar
a administração da fazenda. Na prática,
isso significa oferecer assistência técnica,
avaliação de dados e melhoramento genético,
manejo, produção e reprodução.
O projeto está em funcionamento.
Já a Alta Genetics do Brasil oferecerá novidades
tradicionais neste ano. Marcos Longas, gerente comercial,
conta que os criadores poderão optar por sêmen
de touros Red Angus, Limousin, Simental, Braunvieh, mais as
baterias de sêmen de touros de raças de leite
e zebuínas. A empresa está no mercado há
dois anos e meio, e, desde 97, reúne parceria com a
Central VR, especializada em sem zebuíno, o que permite
o leque de opções ao criador.
Conforme relatórios da Asbis, de 1998, a Alta Genetics
registrou 13,11% do mercado de sêmen importado, com
a venda de 368.937 doses, enquanto que a Central VR (Companhia
Agropecuária Rodrigues da Cunha) ocupava 8,12% do mercado
de sêmen nacional, com 250.027 doses. Portanto, o total
de doses somou 618.964 doses. Longas acredita que a empresa
aumente as vendas em 20%. Para ele, a inseminação
artificial tornou-se uma necessidade para o criador e fator
de melhor desfrute do plantel. Ele também aponta os
Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná,
Goiás, Mato Grosso do Sul, como, melhores mercados
do país.
Esta é também a opinião de Valter Pötter,
criador gaúcho das raças Hereford e Braford,
com propriedades em Dom Pedrito, no Rio Grande do Sul, e no
Rio Brilhante, no Mato Grosso do Sul. Pötter integra
o grupo de 19 empresas e 46 fazendas que formam a Conexão
Delta G, criada para melhoria genética em conjunto.
Na verdade, a Delta G existia desde 1973, presidia por Pötter,
e, em 1993, foi feita a fusão com a Conexão.
Portanto, desde 1993 existe o trabalho da Conexão Delta
G. O grupo oferece animais Hereford, Braford e Nelore, o que
amplia o universo de raça zebuína para aquela
região do país.
Preparado para a estação de monta, Pötter
conta que a expectativa do grupo é comercializar três
mil reprodutores, dos quais 370 das propriedades dele, divididos
de forma semelhante entre tourinhos Hereford e Breford. Habitualmente,
a Conexão Delta G comercializa animais para os mercados
do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e Mato
Grosso. Na opinião dele, o mercado de monta natural
vive um período bom, caracterizado pelo crescimento.
Há procura para animais machos e forte valorização
pelos bezerros, o que movimenta o segmento dos invernistas.
O bezerro apresenta valorização acima
do kg do boi gordo em torno de 30%, o que não é
comum. Na verdade, a média histórica era de
10% acima do boi gordo, assegura. Isso significa maior
procura por boi mais jovem.
A explosão do cruzamento industrial é outro
fator que movimenta o mercado de monta natural. A demanda
por tourinhos cresce continuamente, durante os últimos
quatro anos. Mais um dado, a aumentar o mercado gaúcho.
Com a fronteira fechada, apenas um criador oferece animais
desta raça. Portanto, o preço é mais
alto do que o verificado para as demais raças.
Aos criadores interessados em adquirir animais, Pötter
aconselha a considerar não apenas a avaliação
genética, mas também a avaliação
de fertilidade. Os dois itens compõem a tecnologia
do Primeiro Mundo. E, muitas vezes, o mercado ainda não
está educado a ponto de valorizar esse binômio.
Daí, a necessidade de esclarecer o criador. De qualquer
forma, ele assegura que cresce a procura por reprodutores
com mérito genético conhecida.
O entusiasmo pelo mercado de monta natural não é
partilhado por Willian Khoury, criador da raça Nelore,
selecionador há 33 anos e um dos vices presidentes
da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu
(ABCZ). Ele classifica o mercado como ativo, mas com valores
baixos. Proprietário da Fazenda Kuluense e Seleção
Nelore Jandaia, ambas em Nato Grosso, comercializou aproximadamente
500 tourinhos, na estação passada, número
que espera ver repetido neste ano.
Ele lembra que a matança de fêmeas, mais a seca
e os problemas de ataques de lagartas às culturas dos
Estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins devem provocar
menor produção de bezerros este ano, o que deve
levar a uma ligeira elevação no preço.
Outro fator a ser considerado é a situação
da agricultura, pois o poder de troca é muito baixo.
Ou seja, a relação entre produção
e custo dos insumos está desequilibrada. Em função
do preço, o produtor usa menor quantidade de sal mineral
e a produtividade dos animais cai, garante Jhoury.
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