A
seriedade com que desenvolve suas atividades consagrou a Associação
Brasileira dos Criadores de Gir Leiteiro ABCGL
como uma das entidades de maior sucesso da pecuária
leiteira. Atuando para o interesse se seus 42 associados,
que detêm um plantel de aproximadamente 2.000 cabeças,
consagrou-se por seu profissionalismo nas diretrizes que vem
traçando para essa raça zebuína. Ganharam
os fazendeiros, que balizaram o manejo de seus rebanhos a
partir das exigências que se estabeleceram ao longo
dos anos; ganhou o gado, que teve suas características
melhoradas, resultando num leite de maior qualidade, com destaque
para o crescimento nas médias produzidas por animal.
Não
foi à toa que, no ano passado, a ABCGIL conquistou
a Medalha Zancaner, concedida pela Associação
Brasileira de Melhoramento animal, como a instituição
que mais trabalhou no quesito genética do País.
Reconhecimento que coroa toda uma filosofia de uma gestão
que nunca deixou de lado a preocupação com a
seleção Gir Leiteiro. Num convênio com
a Embrapa/Gado de Leite, há 14 anos realiza o teste
de Progênie, que, desde 1993, divulga anualmente os
touros provados nas análises. Uma atitude que marcou
o pioneirismo desse trabalho entre as raças de leite
do Brasil e do gado zebuíno no mundo, contando com
58 touros provados até 1999 (veja quadro). Em linhas,
para se avaliar o desempenho dos machos, distribui-se cerca
de 500 doses de seu sêmen em diversos rebanhos e, durante
quatro anos, acompanha-se a performance de suas filhas nos
respectivos plantéis onde nasceram. Gastamos,
em média, algo em torno de R$ 200 mil/ano para cada
grupo de reprodutores que passam a ser observados pelos pesquisadores.
No geral já somamos um investimento da ordem de R$
3 milhões, o que prova ser um trabalho de grande magnitude,
orgulha-se o presidente da ABCGIL, Flávio Lisboa Peres.
Segundo ele, a confirmação da capacidade de
transferência leiteira dos machos alavancou o Gir Leiteiro
no mercado, principalmente em função da confiança
que dados oficiais promovem entre criadores. Nesse sentido,
vale lembrar que, há três anos, não existiam
vacas da raça com lactações acima de
10 mil kg. Hoje esse índice está superando e
a mais alta lactação passa da casa dos 14 kg.
É o resultado de rebanhos que aderiram ao material
de touros provados e à transferência de embriões,
pontua.
Nesse cenário, a comercialização de sêmen
de Gir Leiteiro encontra-se numa crescente, na qual, em 1996,
as centrais de inseminação artificial venderam
160 mil doses, em 1997, 180 mil, e, em 1998, 220 mil. Com
mais de 60% do rebanho concentrado nos Estados de Minas Gerais
e São Paulo, a raça também conta com
criatórios em Goiás, Ceará, Pernambuco,
Rio de Janeiro, Bahia, Maranhão, Paraná e Distrito
Federal. E não é só isso, a característica
da raça permite uma peculiaridade em sua criação,
diferente do que ocorre em todos os demais gados leiteiros:
a comercialização de tourinhos. De acordo com
diretor Técnico da ABCGIL, Ivan Luz Ledic, é
grande retorno dos produtores no repasse dos machos e das
fêmeas excedentes.
Rendimento
extra
Enquanto
é comum abater o macho logo ao nascer, os criadores
de Gir Leiteiro conseguem vender o tourinho de acordo com
a produção da vaca. Para fazer a conta, diz
o diretor técnico basta multiplicar R$ 0,30 por cada
litro de leite da mãe. Por exemplo, filho de uma vaca
de 3.000kg vale R$ 900,00. Por sua vez, a fêmea pode
ser comercializada pelo dobro, no qual cada litro de leite
da mãe deve ser multiplicado por R$ 0,60. Assim, considerando
um rebanho de 100 vacas, cuja reposição anual
é em torno de 20%, consegue-se colocar à venda
80 animais. Isso prova que a inseminação
artificial não exclui o trabalho a campo. No Gir Leiteiro,
o subproduto natural da atividade apresenta uma excelente
lucratividade, afirma Ledic.
Atualmente, a média produtiva encontra-se em 3.300
kg por lactação, contra os resultados do primeiro
controle realizado pela Associação Brasileira
dos Criadores 9abc0, em 1964, que apresentou média
de 1.700 kg numa medição de 71 lactações.
Em termos de torneio leiteiro, em 1979, o acompanhamento da
Associação dos Criadores de Zebu 9abcz0 apontou
uma vaca campeã com 19,620 kg. Na última Expozebu,
o índice ultrapassou a marca dos 44 kg. Trata-se
de uma evolução diretamente ligada aos avanços
no manejo, identificação dos melhores animais,
seleção e genética, comenta o diretor
Técnico.
A seriedade na ABCGIL é tão grande que, até
recentemente, para o criador se associar era necessário
ter, no mínimo 10 vacas com lactações
acima de 2.500 kg, comprovadas por controle leiteiro oficial.
Com isso vinha impedindo a adesão de maior número
de pecuaristas, a entidade, na assembléia de maio,
decidiu amenizar os rigores, agora fazendo a exigência
de uma vaca acima de 2.500 kg, em lactação de
365 dias, ou de 2.100 kg, em 305. Tudo é claro, com
o devido registro oficial. Isso deve aumentar o número
de parceiros, contribuindo para alavancar, ainda mais, a raça.
Afinal, somos a única associação que,
para o criados se associar precisa apresentar dados técnicos
antes de preencher a ficha de inscrição,
diz Peres.
Pouco antes dessa determinação, a entidade abriu,
na Exposição da Cidade de Brasília, ocorrida
em abril, mais uma importante ponta de valorização
do trabalho desenvolvido por seus criadores. Com a participação
de 17 expositores e 140 animais foi realizado o primeiro julgamento
do Gir Leiteiro em pista para características leiteiras.
O sucesso foi tanto que o troféu tornou-se uma espécie
de taça Jules Rimet do leite, no qual a
posse definitiva só ocorrerá quando algum pecuarista
que ganhar em três anos consecutivos ou em cinco alternados.
A repercussão foi tão grande que o governador
do Distrito Federal, Joaquim Roriz, criador da raça,
mandou foliar a premiação a ouro. O gado
estava espetacular e impressionou todos que tiveram a oportunidade
de assistir aos trabalhos de avaliação,
finaliza o presidente.
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