Apesar
de ainda contar com poucos adeptos, o sistema de pastejo rotacionado
começa a ganhar força nas propriedades leiteiras
do País. Baixo custo inicial, maior rentabilidade por
área e o trabalho com animais mistos são alguns
dos principais atrativos desse procedimento. Uma dieta de
menor qualidade, mas interessante relação entre
gastos e ganhos, principalmente quando se tem mais de 95%
do leite nacional produzido a campo. No entanto, não
é no pasto que o Brasil conta com sua melhor performance.
De acordo com o professor do Departamento de Produção
Animal da Esalq/USP, Flávio Augusto Portela Santos,
isso acontece porque a maioria dos produtores brasileiros
ainda linda a pastagens como capim, não como cultura.
Basta sair de uma área nunca tratada e começar
utilizá-la corretamente se verá a diferença,
diz ele, ressaltando que, somente com essa mudança
de conceito, o Brasil tem condições de saltar
da atual média de 600 litros de leite/ha/ano para algo
entre 8.000 e 15.000 litros de leite/ha/ano.
Para isso, é preciso incorporar a tecnologia exigida
pelo sistema. Foi-se o tempo de colocar no pasto e deixar
que a natureza se encarregue fornecer os resultados. Colocar
a fazenda no esquema rotacionado requer a realização
de análise de solo, manejo adequado dos animais e,
acima de tudo, adubação. Afinal, o hectare que
suportava no máximo 0,7 unidade animal, terá
condições de apresentar uma lotação
de até 10 cabeças no período das chuvas.
Ao contrário do confinamento, que explora o mérito
genérico da vaca, que mede seu desempenho individualmente,
atuar adequadamente, com pastagem exige pensar os rendimentos
por área, acrescenta Santos.
Não há dúvidas de que o trabalho a campo
culmina numa menor produtividade por animal, variando de 3.000
a 6.000 litros/vaca/lactação. Porém um
dos entusiasta pelo sistema, o zootecnista e professor de
Pastagens e Bovino de Corte e Leite, da Faculdade de Agronomia
e Zootecnia de Uberaba (MG), Adilson de Paula Almeida Aguiar,
garante que, depois de adotar o pastejo rotacionado, o produtor
passará, num prazo de três anos, a obter cinco
vezes mais leite por hectare. Acontece que os produtores não
têm conhecimento sobre o potencial de produção
a pasto ou estão iludidos por propagandas de procedimentos
de outros países. Considerando os atuais preços
do litro de leite, o confinamento somente é lucrativo
se o fazendeiro comercializar direto com o consumidor, ainda
assim com algum valor agregado, caso do leite tipo A.
Nos cálculos de Aguiar, enquanto o leite em confinamento
oferece uma margem de lucro variável entre US$ 0,01
e US$ 0,03 por litro de leite, a exploração
a pasto garante de US$ 0,05 a US$ 0,07. Isso é possível,
segundo ele, porque os custos do sistema a campo rondam a
casa dos US$ 0,10 e US$ 0,18, ao passo que, no confinamento
os gastos podem ser superiores a US$ 0,30 por litro de leite.
Vale dizer, ainda, que o potencial de produção
a pasto, que atue com forrageiras tropicais manejadas intensivamente,
apresenta-se entre 37.000 e 45.000 Kg de leite/ha/ano. Já
uma área com milho ou alfafa para silagem dificilmente
ultrapassará a marca dos 25.000 Kg de leite/ha/ano.
Leite
biológico
Fora
isso, o sistema de pastejo rotacionado vai ao encontro da
corrente ecológica impulsionada pela Europa. Contra
antibióticos, Hormônios e aditivos, surge o chamado
leite biológico, para o qual a produção
a campo se mostra como uma importante alternativa. È
com essa imagem que a Nova Zelândia, um dos principais
países que trabalha leiteira a pasto, comercializa
seu produto no mercado internacional. Um marketing de sucesso,
pois o país exporta 93% de sua produção
de leite, contabilizando US$ 3,5 bilhões/ano, o que
representa 32% do total de leite negociado mundialmente. De
acordo com engenheiro agrônomo neozelandês Jeremy
Casey, o pastejo rotacionado tornou-se fundamental para o
setor leiteiro. Lá, o sistema é usado para maximizar
o crescimento da nossa produção, com crescente
tendência para alta taxa de lotação por
hectare, o que reduz os custos fixos.
Com uma tradição de mais de 50 anos de apropriação
dessa tecnologia, a Nova Zelândia possui um rebanho
dividido em 60% de vacas holandesas, 20% Jersey e os outros
20% do cruzamento dessas duas raças. Em geral, uma
fazenda de nível médio possui de 80 ha, com
um total de 200 vacas, 40 novilhas e 40 bezerros, numa média
de três animais/ha. Em lactações de 240
dias, cada vaca tem uma produtividade de 4.000 litros leite.
Nossos produtores recebem US$ 0,13 o litro de leite, o valor
mais baixo do mundo, exigindo que tenhamos custo baixo.
Há oito meses no Brasil, Casey observou a pecuária
leiteira nacional e não hesita em indicar o pastejo
rotacionado à produção nacional de leite.
Segundo ele, manejar pastos como volumoso no lugar do milho,
pode-se diminuir o uso de concentrados em mais da metade.
O pastejo rotacionado é um sistema flexível,
que permite alimentar grupos de animais com exigências
diferentes, o que otimiza a utilização dos piquetes.
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