Com uma espantosa evolução nos últimos
anos, o Nelore reafirmou sua qualidade na pecuária
nacional, provando que, quando o assunto é genética,
basta um trabalho bem executado que a raça responde
com excelentes resultados. Ameaçados com o desempenho
das raças européias que começaram a chegar
ao País no início desta década, os selecionados
de Nelore não tardaram a buscar melhores performances
ao gado que detém quase 80% do rebanho de corte no
País. Nas palavras do presidente da Associação
dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), Carlos Viacava,
procuramos corrigir os defeitos que impediam o Nelore de fazer
frente a concorrência taurina.
Primeiro
vieram as tentativas para maior ganho de peso, habilidade
materna e abate precoce. Conseguiram! O que há cinco
anos visto como algo muito futurista, hoje tornou-se o grosso
da produção brasileira. Já não
é novidade abater animais de 20 a 24 meses, criados
a pasto, com três meses confinamento. Agora, o desafio
está em aumentar a precocidade sexual. Um fator que
influencia significativamente na eficiência econômica
da raça e que passou a ser o alvo das pesquisas nacionais.
O motivo? Simulações de resultados financeiros
de tal avanço indicam que, com mais essa alteração
é possível elevar os lucros de produção
em até 12%. Para isso, as novilhas devem entrar em
prenhez aos 14 meses, numa alusão de que não
só o macho jovem deve apresentar rentabilidade, mas,
também, as fêmeas.
Como
uma das pioneiras a apostar nesse efeito, a Agropecuária
CFM Ltda. conta com um dos mais avançados projetos
que imprimem tal diretriz ao rebanho Nelore. Já em
1991, a empresa lançou o desafio de fazer estações
de monta aos meses. A experiência deu certo e, três
anos depois, investiu na cobertura aos 14 meses, que, hoje
somam mais de 750 matrizes com prenhez positiva. È
um trabalho que visa completar o pacote do Nelore precoce.
Nossos animais deverão completar suas missão
na fazenda aos 24 meses, sejam machos ou fêmeas, ressalta
o coordenador do Programa de Pecuária, Fabio Dias.
No ano passado, a companhia partiu para transferência
de embriões, a partir dessas novilhas precoces, escolhendo,
dentre elas, as que pairam antes dos 24 meses, sem falha.
Uma genética que se enquadra nos 10% de suas melhores
fêmeas, num total de 15 mil, para o índice CFM
de qualidade e para o DEP de peso aos 550 dias. Com isso,
pretendemos acelerar a incorporação dos genes
responsáveis pela precocidade sexual a nossa população
de vacas explica Dias, revelando que, no máximo em
dez anos, espera-se que todas as fêmeas iniciem aos
14 meses, eliminado as vazias aos 18 meses.
Assim, parece não restar dúvidas de que o Nelore
não perderá o trono para outra raças.
Na opinião de Dias, ele representa o rei da pecuária
de baixo custo. Se é assim, apesar do crescimento constante
dos animais taurinos no Brasil, o mercado não ameaçará
a troca da coroa ou a perda da majestade. Como disse o diretor
da Central do Campo, Carlos Novaes Guimarães, o Nelore
está aí para ficar e ninguém vai tomar
seu lugar.
Mercado
acirrado
De
acordo com ele, não houve no mundo evolução
igual a que o Brasil empregou a essa raça. Há
20 anos, Uberaba premiava touro de 42 a 46 meses, pesando
cerca de 900 Kg. Hoje, os troféus vão para animais
de 24 meses e algo em torno de 1.000 Kg. Para garantir a performance
atual da raça, genética tem passagem obrigatória
por, pelo menos, seis reprodutores: Rei Tels, Fajardo, Envelo
da Morungaba, Panagpur, Ludy de Garça e Visual. O gado
europeu veio a somar, principalmente no diz respeito ao 1/2
sangue. Não há como negar que também
tem uma presença importante em nossa pecuária,
mas não chega a colocar em risco o espaço do
Nelore, comenta Guimarães.
Há que diga que a raça chegará a perder
15% de mercado, o que é visto com naturalidade pelo
presidente da ACNB. Quem é o maior, tem mais a perder.
Só não vamos deixar de trabalhar duro para continuar
melhorando a qualidade de nosso rebanho, pontua Viacava, não
esquecendo que o grande trunfo do Nelore vem da cobertura
a campo. Enquanto crescem as vendas de sêmen das raças
européias, o Nelore criado solto dá conta do
recado num período que se estende por até dez
estações de monta, o que, incontestavelmente,
se traduz em redução de custos.
Dessa forma, os percentuais que sinalizam queda na comercialização
de sêmen zebuíno não intimidam a atuação
do Nelore. Na Central do Campo, por exemplo, a raça
responde, atualmente, por aproximadamente 55% do volume de
vendas. No entanto, Guimarães revela que, no próximo
ano, tal percentual não ultrapassará a casa
dos 40%. E mais: para um futuro próximo, ele acredita
que a procura por genética taurina em sua empresa representará
duas ou três vezes mais que a demanda por Nelore. Por
outro lado, o Nelore vai continuar vendendo touro á
continuar vendendo touro á vontade.
Prova disso, a CFM tem perspectiva de crescimento para seu
trabalho com tourinhos. A empresa pretende terminar a safra
98/99 com um total de 1.450 animais. No período 99/00,
o objetivo chega á casa dos 1.750 machos. Há
uma novidade, nos dias 10 e 11 de setembro, faremos nosso
primeiro leilão, onde venderemos, sem reservas, os
10 melhores índices genéticos de toda a safra,
mantendo o compromisso de testar sua progênie, avisa
Dias.
Na tentativa de manter o entusiasmo de valorização
do Nelore, a ACNB encaminhou no início deste ano, para
a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu
(ABCZ), uma proposta de unificação das raças
Nelore e Nelore Mocho. A intenção é tornar
a raça ainda mais representativa na pecuária
de corte, como forma de fortificá-la para enfrentar
a concorrência. Além disso, a ACNB inaugurará,
na próxima Expoinel, uma campanha de arrebanhar criadores
que não têm registros de animais. Para isso,
está sendo elaborado um regulamento para rendimento
de carcaça, que regerá competições
de gado Nelore comum ou anelorado.
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